A XP Investimentos realizou, no dia 23 de abril, uma entrevista ao vivo com Gabriel Francisco, analista da XP, Matheus Amorim, analista da Navi Capital, e Bernard Holcman, analista da Ibiuna Investimentos, debatendo sobre o futuro do Setor de energia no Brasil.
Quem conduziu a conversa foi Thiago Salomão e Renato Santiago, da InfoMoney, que procuraram saber dos entrevistados quais são as melhores ações de Utilities na bolsa, bem como suas perspectivas para o setor durante e depois da pandemia.
Perfil dos entrevistados
Gabriel Francisco | |
É analista de petróleo e gás da XP, depois de passar pela equipe de análise e pesquisa do Goldman Sachs (2016-2018). É formado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP (2011-2016). | |
Bernard Holcman | |
Desde 2011, é analista de Utilities na Ibiuna Investimentos. Já passou pelas equipes de análise do Credit Agricole (2008-2011) e da Victoire Finance Capital (2007-2008). Formou-se em administração de empresas pelo Ibmec (2003-2006). | |
Matheus Amorim | |
É sócio e analista de renda variável da Navi, tendo passado pela Kondor Invest (2016-18) e 3G Capital (2014-16). É formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (2009-2013). |
Resumo da entrevista
Gabriel Francisco iniciou sua exposição dizendo que está preocupado com os efeitos da pandemia em relação ao “efeito em cadeia gerado pela elevação da inadimplência”. No setor de Utilities, Francisco destacou sua preferência pelas empresas Energias do Brasil, Copel e, em saneamento, Sanepar.
Matheus Amorim afirmou que acompanha o setor há sete anos e gosta muito das empresas Eletrobrás e Equatorial. Em sua opinião, o setor “sempre trabalhou em um equilíbrio instável”, pois as distribuidoras vez ou outra precisam de algum tipo de ajuda e também demonstrou preocupação em relação aos recebíveis dos consumidores que não pagaram suas contas durante a pandemia.
Bernard Holcman afirmou que é preciso analisar as empresas do setor antes e depois da crise em termos de balanço, gestão, clientes, base de custo, valuation e padrão de consumo. Segundo ele, as empresas que chamam mais atenção neste momento com base nesses critérios são Eletrobrás, Cesp e Sanepar.
Em seguida, Salomão pediu que Francisco explicasse como funciona o setor de energia. O analista da XP esclareceu que as geradoras são as empresas que produzem a energia através de hidrelétricas, termelétricas, usinas eólicas e solares e ganham dinheiro firmando contrato no mercado regulado com as transmissoras ou no mercado livre com grandes consumidores. Entre as geradoras puras na bolsa hoje estão a Cesp, Eneva, Omega Geração. As transmissoras fazem o transporte da energia produzida para distribuidoras ou grandes clientes em um setor altamente regulado. Os principais players desse segmento são Taesa e Alupar. Por fim, temos as distribuidoras, que são as empresas que levam a energia aos consumidores finais, e as principais empresas listadas são Light e Equatorial
Salomão quis saber qual setor é o mais seguro em energia, ao que Francisco respondeu que, sem dúvida, é o de transmissão, por conta da margem muito elevada e pouca complexidade operacional. Em seguida, segundo o analista viria o segmento de geração que, em sua maior parte, é composto por hidrelétricas estando, portanto, sujeito às condições de hidrologia. E o elo mais fraco na cadeia seriam as distribuidoras, que estão mais sujeitas ao consumidor final e a problemas não operacionais, como furto de energia, além de ter a menor margem estrutural.
Salomão interveio em seguida destacando uma reportagem do Valor Econômico que estimava uma perda de receita de 40% para as distribuidoras em razão da queda de consumo durante os confinamentos. Diante disso, quis saber dos entrevistados se esse realmente era um setor considerado “porto seguro” para os investidores.
Matheus respondeu dizendo que, pelo fato de o setor de Utilities ser extremamente regulado, pode estar vulnerável a questões de ordem política, além das crises que rotineiramente afetam nossa economia. Nesse sentido, o fato de os governos estarem tomando medidas para contornar a perda de renda da população com descontos ou até isenção tarifária pode afetar ou até mesmo inviabilizar a lucratividade dessas empresas.
Holcman concordou com Matheus no sentido da vulnerabilidade política do setor, já que em várias oportunidades, como em 2011, tentou-se fazer populismo com a questão elétrica, deteriorando as margens das empresas.
Salomão complementou dizendo que, após esse evento de 2011, as empresas elétricas iniciaram o pregão seguinte com uma desvalorização de 20 a 40% em alguns casos, o que coloca em destaque que, apesar de ser um setor previsível, ele não está isento de choques exógenos.
Francisco defendeu que a Equatorial é a empresa mais bem preparada para enfrentar o cenário atual, principalmente por sua exposição à tarifa oficial, que será coberta pelo Tesouro Nacional, fazendo com que os efeitos da inadimplência sejam zero.
Holcman complementou dizendo que já existe uma discussão no parlamento no sentido de aprovar um pacote de ajuda para as distribuidoras afetadas pela pandemia, o que deve mitigar o impacto em seus caixas.
Para Matheus, o que o investidor deve ficar atento na hora de escolher uma empresa do setor é a qualidade da sua gestão e das suas concessões. Para ele, uma concessão que envolva o Rio de Janeiro, por exemplo, tende a ser problemática mesmo com uma gestão excelente, em razão da forma como o estado gerencia a distribuição em sua jurisdição e pelo elevadíssimo índice de furto de energia, que chega a superar 50%, realidade que contrasta com o Paraná, por exemplo, onde a perda não técnica por furto é de cerca de 1%.
Em suas observações finais, Matheus defendeu que a Eletrobrás é a empresa com melhor custo-benefício em Utilities, por praticamente não ter sua receita ameaça, já que sua operação envolve majoritariamente transmissão, além de ter, até 2024-25, a maior geração de caixa do setor.
Holcman concordou, salientando que toda a parte de distribuição de Eletrobrás foi privatizada e que a empresa está totalmente focada em geração e transmissão, o que garante uma previsibilidade de receita ímpar.
Francisco ressaltou que Energias do Brasil é uma empresa muito barata e com uma equipe de gestão de primeira linha, além de ter ótimas concessões, que a fazem ter papel de destaque no setor.
Assista na Íntegra:
Leia também:
Tendências do Setor Imobiliário no Brasil, Resumo LIVE XP.
Invista no setor de energia com a Bloxs https://bloxs.com.br/