A XP Investimentos realizou, no dia 26 de abril, um webinar com seu estrategista-chefe global, Alberto Bernal, e seu estrategista internacional, Guilherme Giserman, que comentaram sobre os desdobramentos da crise atual provocada pelo coronavírus a partir de uma perspectiva comparativa com a crise de 2008.
Perfil dos participantes
Alberto Bernal | |
É estrategista-chefe de mercados emergentes da XP Investimentos em Nova York. Antes disso, foi diretor de pesquisa e sócio da Bulltick, LLC e diretor executivo de pesquisa em renda fixa para América Latina no Bear Stearns Inc. Também atuou como diretor de pesquisa econômica sobre América Latina na IDEAglobal Inc., onde realizou estudos aprofundados sobre a região. É pesquisador da Universidade de Columbia e professor adjunto da faculdade de administração da Universidade de Miami. | |
Guilherme Giserman | |
Guilherme Giserman é estrategista internacional na XP. Antes, trabalhou com portfólios de ações globais em gestoras como a SPX Investimentos, BlackRock, e Guggenheim, em Nova York. Possui MBA com foco em finanças pela Wharton School da University of Pennsylvania nos EUA. |
Alberto Bernal iniciou sua exposição explicando que seria útil traçar os pontos de aproximação e distanciamento entre a crise atual e a crise de 2008. Para tanto, começou falando um pouco sobre sua experiência pessoal no mercado financeiro, já que ele esteve “no olho do furacão” durante a crise de 2008, ao trabalhar para o banco Bern Stearns, que foi o primeiro banco americano a fechar naquela crise.
Bernal comentou que, no dia 15 de março de 2008, estava se preparando para fazer uma entrevista à CNN internacional, quando os advogados do banco em que trabalhava lhe telefonaram para dizer que essa entrevista não seria mais possível. Bernal disse que ficou sem entender o que havia acontecido e, alguns momentos depois, ficou sabendo pela imprensa que o governo americano e o Fed haviam aberto uma linha de crédito para resgatar bancos com problemas de liquidez, e entre esses bancos estava o Bern Stearns. Posteriormente, esse banco seria adquirido pelo JP Morgan, e 90% dos seus colaboradores foram demitidos, inclusive Bernal.
O estrategista global da XP esclareceu que era importante dar seu exemplo pessoal durante a apresentação, pois, em sua visão, isso lhe permite destacar as principais diferentes entre aquele momento e o atual. A primeira delas, segundo ele, é que hoje não há qualquer risco de que uma grande instituição financeira global feche por conta da crise.
Isso porque, segundo o economista, os governos dos países desenvolvidos, através dos seus bancos centrais, já garantiram que vão tomar todas as medidas necessárias para combater os efeitos provocados pela pandemia, especialmente em termos de liquidez para o setor financeiro.
Além disso, essas medidas de mitigação estão sendo tomadas de forma muito mais rápida agora do que em 2008. O economista da XP disse que em “14 dias de pandemia foram tomadas ações que levaram 14 meses para terem sido tomadas durante a crise financeira”.
Bernal ressaltou, portanto, que não se trata de uma crise financeira, mas de uma crise sanitária com graves implicações na economia real, já que afetou drasticamente todos os negócios que, de alguma forma, exigem o contato físico entre as pessoas. Setores fundamentais para a economia, como turismo, eventos, entretenimento, entre outros, tiveram que encerrar completamente suas operações.
O estrategista global da XP fez questão de frisar que, apesar de aguda, a crise atual tende a se estabilizar. Citou os casos da China, da República Checa e outros países que conseguiram controlar o crescimento exponencial do vírus em cerca de 30 dias. Nos EUA, segundo ele, a situação é um pouco diferente, mas já é possível ver sinais de que o pior ficou para trás, o que tranquiliza os mercados financeiros e diminui a aversão ao risco.
Guilherme iniciou sua apresentação concordando com as palavras de Bernal, dizendo que o trato público em cada crise foi bastante distinto. Em 2008, de acordo com ele, havia o chamado “moral hazard”, em que o governo deveria acudir o setor financeiro em razão dos excessos cometidos por este, o que não está acontecendo neste momento.
O estrategista internacional da XP destacou o protagonismo e a resiliência do setor de tecnologia nesta crise atual, ao salientar como as empresas do chamado grupo FAANG conseguiram se recuperar rapidamente do sell-off de março e registrar novas máximas históricas.
Giserman se mostrou especialmente preocupado com os efeitos que o quatitative easing pode causar nas economias mundiais em termos de inflação prospectiva, em vista da deterioração da situação fiscal de muitos países.
Ao final do webinar, ambos os analistas se debruçaram sobre o setor de petróleo e a inédita cotação negativa dos futuros de West Texas Intermediate nos EUA em 21 de abril de 2020. A situação de confinamentos recrudesceu o excesso de petróleo que já existia no mercado mundial, afetado ainda pelo drástico aumento dos níveis de estoque do produto. Sem uma contrapartida mais dura dos países produtores no âmbito da Opep no sentido de reduzir a oferta, o que aconteceu foi que o mundo já não tinha onde armazenar mais petróleo em razão da destruição da demanda causada pela covid-19. Isso fez com que o petróleo, pela primeira vez na história, registrasse uma cotação negativa.