Se engana quem pensa que apenas o varejo que aproveita a Black Friday para baixar os preços: as empresas do setor financeiro também entraram com tudo na onda, oferecendo descontos, cashbacks e promoções para investimentos.
Mas será que esse “empurrãozinho” a mais para investir se traduz em um aumento das emissões no mercado de capitais nessa época do ano?
Avaliamos os lançamentos de instrumentos como CRIs, CRAs, debêntures, FIDCs e FIIs para saber se empresas e gestores buscam se aproveitar das promoções da Black Friday para capitalizar suas ofertas.
A Bloxs levantou os números de 2017 a 2022 para fazer um comparativo entre as emissões nos meses de outubro e novembro e saber se a Black Friday tem impacto no volume de emissões nessa época do ano.
Confira!
Black Friday vai além do varejo e atrai setor financeiro
É inegável que a Black Friday vem tendo um impacto positivo no faturamento do comércio durante o mês de novembro, consolidando-se como uma das datas mais importantes do setor.
Prova disso é que, em 2022, as promoções inspiradas no evento americano contribuíram para um crescimento de 6,9% nas vendas sobre o mesmo período do ano anterior, segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado.
O sucesso das promoções nos últimos anos acabou chamando a atenção de outros setores, como o financeiro, que passaram a ver a ocasião como uma oportunidade para impulsionar os lucros.
Bancos, corretoras, casas de análise, fintechs, entre outras empresas, fazem promoções para conteúdos educacionais, plataformas e serviços, como corretagem zero, além de produtos de investimento.
Embora não existam estudos específicos sobre o impacto da Black Friday nas vendas do setor financeiro do Brasil, uma pesquisa da Conversion mostrou que mais de 90% dos entrevistados tinham a intenção de aproveitar a data para realizar compras neste ano.
Diante dessa disposição maior dos consumidores em colocar a mão no bolso, é natural que as promoções do setor financeiro na Black Friday aumentem as vendas de produtos de investimento no mês.
Mas será que tal comportamento é capaz de influenciar o número de emissões no mercado de capitais, tentando se aproveitar da maior demanda?
Comportamento do volume de emissões em período de Black Friday
Para desvendar esse mistério, a equipe de dados da Bloxs levantou o volume de emissões realizadas no mercado de capitais nos meses de outubro e novembro de 2017 a 2022.
Foram analisados especificamente os seguintes instrumentos: FIDC, CRI, CRA, debênture e FII. Confira na tabela abaixo o comportamento de cada um:
É importante ressaltar que o levantamento visa avaliar um padrão, não ditar uma tendência.
Fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs)
Os dados mostram que, tradicionalmente, no mês da Black Friday, há um aumento no volume de emissões de FIDCs, com exceção de 2019, quando houve uma queda nos lançamentos em relação a outubro.
A pergunta que fica é: Diante desse comportamento, podemos esperar um crescimento das emissões de FIDCs em 2023?
Se considerarmos a queda da inflação, do dólar e dos juros, a tendência é acreditar que sim, muito possivelmente veremos um novo aumento de emissões de FIDCs na Black Friday, com perspectivas ainda melhores para o ano que vem, diante da expectativa de retomada do varejo.
Curiosamente, em 2019, quando o número de FIDCs teve queda, os outros instrumentos avaliados se mantiveram em alta. Durante a pandemia (2020-2022), entretanto, esses fundos não tiveram impacto.
Avaliando os dados agregados em bases anuais, percebemos que o volume de emissões de FIDCs cresceu de forma constante de 2017 a 2021, quando atingiu o pico de R$ 92,57 bilhões. A partir de então, percebemos uma expressiva queda, especialmente após o início da alta de juros pelo banco central, aumentando a atratividade dos títulos de renda fixa e enxugando a liquidez geral do mercado de fundos.
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs)
Um padrão interessante nas emissões de CRIs é que, para cada dois anos de queda em ofertas, há um de crescimento. Se esse comportamento se mantiver, a expectativa é que haja uma queda na oferta desse tipo de instrumento neste ano.
No período analisado, podemos perceber que, em 2017, o CRI foi o único a apresentar queda, o que voltou a se repetir em 2021.
Os dados agregados em bases anuais mostram que o volume de emissões de CRIs cresceu em todos os anos durante o período, com exceção em 2020, primeiro ano da pandemia, quando o setor imobiliário foi fortemente impactado por conta das restrições de locomoção e adoção do home office.
Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA)
Os dados mostram que, em geral, durante os períodos de Black Friday, é comum haver um crescimento no número das emissões de CRAs. A única exceção a esse padrão foi 2022, quando houve uma queda em relação a outubro.
Em termos anuais, podemos ver um aumento constante no volume de emissões de CRAs desde 2018 (fundo) até o pico de 2022, no valor de 42,35 bilhões.
Debêntures
No mês da Black Friday, é possível perceber que, no período analisado, houve a intercalação entre crescimento e queda no volume de emissões durante o mês de novembro. Se esse padrão se repetir, a tendência é que vejamos um crescimento neste ano.
Volume anual de emissões de debêntures (Dados: Bloxs)
Durante o período analisado, o único ano em que não houve crescimento agregado no volume de emissões de debêntures no Brasil foi no primeiro ano da pandemia: 2020.
Fundos de investimento imobiliário (FIIs)
Com exceção de 2018, as emissões de FIIs durante o mês da Black Friday registraram crescimento, em contraste com as emissões de CRIs, que tiveram instabilidade nas ofertas.
Se esse padrão se repetir este ano, teremos um aumento de volume de emissões de FIIs em novembro.
Volume anual de emissões de FIIs (Dados: Bloxs)
A análise dos dados agregados mostram um expressivo crescimento desse fundo de investimento, principalmente no período de Selic mais baixa. No entanto, o ano de retomada da política de aperto, 2021, marcou o pico das ofertas desse instrumento, cujo desempenho tende a estar correlacionado com as taxas de juros.
Portanto, a queda recente da Selic pode contribuir para um aumento das emissões de FIIs durante a Black Friday, dada a atratividade desse tipo de investimento para investidores comuns.
Conclusão
Apesar de estar se tornando uma data cada vez mais importante para diversos setores da economia, não é possível determinar um efeito claro da Black Friday nas emissões dos instrumentos analisados durante o período considerado.
De acordo com Márcio Paiva, CFO da Bloxs, isso se deve ao fato de que a emissão de títulos é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo as condições econômicas gerais, as taxas de juros e a saúde financeira das empresas emissoras. Portanto, embora a Black Friday possa afetar o comportamento do consumidor e o desempenho das ações de varejo, seu impacto na emissão de títulos no mercado de capitais não é direto e pode variar.