“Pecuária brasileira aumenta sua presença no mercado internacional, apesar da pandemia de covid-19 e das tensões globais.“
A disseminação do novo coronavírus em escala mundial a partir da cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, na China, vem causando transtornos ao comércio global desde que a doença se tornou uma pandemia reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020.
Por se tratar de um vírus altamente contagioso, a grande maioria dos países resolveu adotar como medida de contenção o distanciamento social. As “quarentenas” obrigaram a paralisação de setores inteiros considerados não essenciais.
Bares, restaurantes, estabelecimentos culturais e entretenimento, entre outros, tiveram que fechar as portas por determinação dos governos locais. Tais ações têm por intuito, evitar um colapso dos sistemas de saúde.
A Comissão Econômica para América Latina e Caribe prevê que, apenas na região, a pandemia de covid-19 deve provocar uma contração econômica recorde de 5,3% em 2020[1]. No Brasil especificamente, o boletim Focus divulgado semanalmente pelo Banco Central e que reúne as estimativas de especialistas do mercado financeiro sobre a economia nacional, estima que o PIB brasileiro sofrerá uma brusca queda de 6,25% neste ano[2].
A pecuária de corte neste cenário
Apesar desse cenário catastrófico, um setor que acabou surpreendendo em razão do seu expressivo crescimento.
Foi o caso da pecuária de corte no Brasil, que soube se aproveitar das tensões mundiais para ampliar sua participação no comércio internacional. Isso graças à alta demanda registrada na China, Hong Kong e Emirados Árabes.
O aumento das exportações de carne brasileira para a China se deve a novos registros de Peste Suína Africana (PSA) no país asiático. Isso ocorreu ao propósito que a crise de covid-19 mostrava sinais de arrefecimento por lá.
Além disso, a Austrália, importante concorrente do setor pecuarista nacional, solicitou no mês passado uma investigação independente sobre as origens do novo coronavírus na China. Como retaliação, aplicou uma tarifa de 80% sobre seus embarques de cevada, determinando ainda a suspensão de importações de carne bovina dos quatro maiores processadores de carnes australianos.
Relações Brasil-China
Ao mesmo tempo, o volume de carne bovina in natura e industrializada exportado pelo Brasil de janeiro a abril deste ano foi recorde e é resultado justamente dessa demanda aquecida da China.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, neste ano, o país asiático foi destino de 203,47 mil toneladas da nossa carne. O número é mais que o dobro da quantidade registrada no mesmo período de 2019.
Diante disso, enquanto as exportações de carne bovina à China no primeiro quadrimestre de 2019 representaram 17,71% do total embarcado pelo Brasil, no mesmo período de 2020 passaram a corresponder por 37,1%.[3]
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-Esalq/USP) declarou o seguinte a respeito da posição da pecuária brasileira nesse imbricado cenário internacional:
“O mercado brasileiro evidencia ter potencial para atender à aquecida demanda chinesa, tendo a favor a alta competitividade, devido, especialmente, ao custo de produção inferior ao de importantes concorrentes mundiais. Atualmente, o alto patamar do dólar também favorece o preço da tonelada da carne brasileira exportada.”[4]
O futuro da pecuária brasileira
Para 2020, o Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)[5] prevê que a pecuária brasileira terá protagonismo no PIB agropecuário do país.
A previsão de crescimento é de 4,3%, influenciado por uma alta de 5,8% na produção de bovinos. Segundo o instituto, a pecuária também contribuiu positivamente para o resultado de todo setor no trimestre, com crescimento estimado de 1,8%.
Surpreendentemente, todos os segmentos apresentaram variação positiva. Destaque, acima de tudo, para a produção de bovinos, que é o produto com maior peso no segmento e cresceu 2,1%.
O Ipea afirmou que as carnes apresentaram aumento significativo na produção, impulsionada pelo aumento das exportações decorrente, em parte, da Peste Suína Africana (PSA) nos países asiáticos. Destaca ainda a habilitação de novas plantas para a exportação de carnes para a China e Arábia Saudita.
Assim, de acordo com o instituto, a produção de bovinos deve crescer 3,1%. Além disso, deve apresentar a maior contribuição positiva, de 1,6%, para o resultado no ano do componente da pecuária.
Existem dois lados para essa moeda.
Se, de um lado, a pandemia de covid-19 trouxe desafios importantes para diversos setores da economia nacional, em especial aqueles considerados não essenciais pelos governos locais, também abriu oportunidades para outros segmentos, como o pecuarista, que tirou proveito das tensões internacionais e da alta demanda gerada na Ásia pela PSA para ampliar sua participação no mercado global.
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