O banco BTG Pactual digital realizou, no dia 2 de junho de 2020, uma entrevista ao vivo em seu canal no YouTube com Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda (1995-2003), e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (1999-2002). O tema do debate foi os impactos da covid-19 na economia brasileira e mundial, bem como as medidas para o seu enfrentamento.
Apresentamos a seguir um resumo dessa entrevista, que oferece ao investidor a perspectiva de três dos mais importantes economistas brasileiros sobre os desafios que o nosso país terá que enfrentar para voltar à rota do crescimento.
Perfil dos Participantes
Eduardo Guardia | |
CEO do BTG Asset Management (2019 – Atual) Ministro da Fazenda (2018) Secretário Executivo do Ministério da Fazenda (2016-2018) Presidente do Conselho do Banco do Brasil (2016-2017) | |
Pedro Malan | |
Ministro da Fazenda (1995-2003) Presidente do Banco Central (1993-1994) Integrou a equipe que criou o Plano Real (1994) Integrou o Conselho de Administração das empresas Itaú Unibanco, Via Varejo, Alcoa, Souza Cruz, entre outras. | |
Armínio Fraga | |
Presidente do Banco Central do Brasil (1999-2003) Sócio-fundador da Gávea Investimentos (2003-2015) |
Quem conduziu a entrevista foi Eduardo Guardia, CEO da Asset Management do BTG Pactual. Ele abriu a conversa destacando o profundo impacto da covid-19 não só na economia, mas sobretudo na vida das pessoas e nos sistemas de saúde.
Guardia pediu inicialmente que Malan falasse sobre o cenário externo antes do covid. Dessa forma, o ex-ministro afirmou que o vírus acabou intensificando problemas que já existiam no âmbito internacional, com destaque para três problemas principais, em sua opinião:
- A guerra comercial entre EUA e China e suas implicações na área tecnológica;
- A mudança na geopolítica do petróleo com os EUA se tornando os maiores produtores e exportadores da commodity graças aos avanços do shale oil;
- E o Brexit, que representa outra área de risco para o comércio e as relações internacionais, além dos problemas que o euro já enfrentava antes do covid-19.
Debate
Em sua fala inicial, Fraga ressaltou a injeção colossal de liquidez nos mercados que, nos EUA, já representa 15% do PIB do país. Segundo o economista, antes mesmo da atual crise, já havia uma tendência de endividamento dos governos e das empresas, o que acabou sendo exacerbado pela pandemia.
Em sua segunda intervenção sobre o tema, Malan disse que as previsões de uma suposta recuperação em “V” baseada nesses pacotes de estímulo eram otimistas demais, visto que muitos países não têm espaço fiscal para enveredar por esse caminho. Além do fato de que o comércio internacional já vinha tendo uma participação menor no crescimento da economia global em razão de tendências protecionistas.
Além disso, o ex-ministro da Fazenda da era FHC frisou que, apesar da variedade de instrumentos à disposição do Federal Reserve para enfrentar a crise, a política monetária não é capaz de promover um crescimento sustentado da economia. Isso ocorre em razão da limitação legal que o banco central tem nos EUA para realizar determinados tipos de operações de crédito a empresas em dificuldade, por exemplo.
PEC e Taxa de Juros
Comentando sobre isso, Guardia lembrou que o congresso brasileiro aprovou uma PEC emergencial que autoriza nosso banco central a realizar compras de títulos públicos e privados enquanto perdurarem os efeitos do covid. No entanto, segundo o executivo do BTG, tais instrumentos não chegam nem perto daqueles à disposição Fed, haja vista que o nosso banco central sequer tem independência jurídica para conduzir sua política.
Armínio Fraga complementou dizendo que nosso BC não poderia realizar um quantitative easing nos moldes americanos, porque nossos juros, apesar de reduzidos, ainda não chegaram a zero. Disse que esse fato ocorre porque uma ação mais incisiva nesse sentido poderia gerar repercussões em outras áreas, como o câmbio. Portanto, esses instrumentos do BC brasileiro só deveriam ser usados em momentos de crise e de real carência de liquidez nos mercados.
Malan também abordou o tema do banco central ao ser perguntado por Guardia sobre a direção da taxa de juros após a próxima reunião do Copom.
O ex-ministro disse que o mercado já está precificando uma queda da taxa básica para 2,25%. Destacou, também, que as atas anteriores das reuniões da autoridade monetária vinculam uma queda maior da Selic à continuidade das reformas.
No âmbito da expansão fiscal, Armínio Fraga defendeu que os gastos do governo brasileiro devem ser focados e rápidos, como no caso do auxílio emergencial, a fim de não deteriorar os esforços de ajuste que vinham sendo feitos e não abalar a confiança dos investidores. Um dos efeitos dessa perda de confiança, segundo o ex-presidente do BC, pôde ser visto na forte desvalorização do real frente aos seus pares.
Observações Finais
Em conclusão, Guardia defendeu que o gasto público brasileiro não pode continuar sendo tão regressivo. Segundo o executivo, não basta apenas fazer o ajuste para voltar a dar sustentabilidade à dívida pública. Destacou que o país precisa retomar sua capacidade de investir com qualidade.
Armínio Fraga concordou. Disse que o Brasil gasta, de fato, muito – cerca de 80% do seu orçamento – com previdência e funcionalismo. Valor muito acima do que a vasta maioria dos países do mundo.