A Genial Investimentos realizou, no dia 04 de maio de 2020, uma entrevista ao vivo com Bruno Zaremba, head de private equity da Vinci Partners, com a participação de Rodolfo Riechert, CEO do Banco Plural. A conversa foi conduzida pela jornalista Denise Barbosa, que procurou entender quais empresas não resistirão à crise sanitária que estamos vivendo e quais sairão mais fortes desta pandemia.
Perfil do entrevistado
Bruno Zaremba
Head da equipe de Private Equity da Vinci Partners. Integra o Conselho de Administração de várias companhias do portfólio da Vinci, como Austral, CBO, Uniasselvi, Le Biscuit, Domino’s Pizza, Grupo CURA e Vero Internet, além do Conselho Deliberativo da ABVCAP. Iniciou sua carreira no Banco Pactual em 1996 como analista sênior de Bancos, Bebidas, Varejo, Alimentos e Tabaco. Tornou-se sócio do Banco em 2001 e liderou a mesa proprietária de investimentos em bolsa e dívida em mercados desenvolvidos. Entre 2006 e 2009, trabalhou na UBS Pactual Gestora de Investimentos Alternativos, já envolvido na estratégia de Private Equity. Em 2009, ingressou como sócio da Vinci Partners, onde se dedica desde o início à estratégia de Private Equity. É formado em Economia pela PUC-Rio, possui a certificação CFA (Chartered Financial Analyst) e concluiu o OPM 50 pela Harvard Business School. |
Denise e Bruno Zaremba iniciaram a entrevista apresentando o perfil de atuação da Vinci Partners, que é uma gestora especializada em investimentos alternativos e possui participação em empresas dos mais variados segmentos, como alimentação, infraestrutura, crédito, resseguros, varejo, telecom, educação a distância, medicina diagnóstica, entre outros. Esse perfil diversificado permite que a Vinci tenha uma visão mais ampla dos setores mais afetados e beneficiados da crise sanitária que estamos vivendo.
Bruno afirmou que o “sinal vermelho” desta pandemia se acendeu quando houve o lockdown na Itália. O executivo ressaltou o ineditismo dessa crise e seus efeitos sem precedentes nas cadeias de suprimentos, o que não permite seguir um roteiro predefinido para enfrentá-la.
As primeiras ações tomadas pelas empresas nas quais a Vinci tem participação foram no sentido de garantir a saúde dos colaboradores e a operacionalidade dos negócios com adoção de medidas como o home office. Em segundo lugar, a gestora procurou conhecer a situação de caixa dessas companhias para se certificar de que teriam liquidez suficiente para enfrentar o período mais agudo da pandemia.
Como exemplo, Bruno citou os negócios da empresa em varejo, que foram extremamente afetados pelos fechamentos determinados pelos governos, ao passo que seus investimentos no setor de fibra ótica tiveram um salto exponencial em crescimento, graças ao maior tempo que as pessoas estão passando em casa.
Rodolfo quis saber exemplos práticos dessa pandemia nos negócios da gestora. Bruno respondeu que os setores em que há mais dificuldade em termos de planejamento prospectivo são justamente os setores de varejo, viagens e hotelaria.
Bruno avalia que o distanciamento social perdurará até que 70% da população desenvolva anticorpos contra a covid-19, seja através da vacinação ou mesmo da chamada “imunização de rebanho”. Até que isso aconteça, os diferentes setores da economia, segundo ele, estão vulneráveis a novas medidas de isolamento decretadas pelos governos. Os fundos administrados pela Vinci se preparam para um cenário de crise que deve durar de 6 a 12 meses.
Bruno avalia que, para compensar a queda nas vendas do varejo no médio prazo, a expansão física dos negócios dependerá da redução de custos em várias frentes, como aluguéis, impostos, encargos trabalhistas, etc.
Já no setor de medicina diagnóstica, a gestora registrou queda de demanda de 30 a 40% nesse período de pandemia, mas avalia que se trata de um cenário temporário, pois, assim que a população começar a se sentir mais confiante, o número de exames voltará a aumentar, numa recuperação em forma de “V”.
Em seguida, Rodolfo procurou saber como estava a relação entre clientes e fornecedores na cadeia de suprimentos em relação à negociação de preços. Bruno explicou que, no lado das instituições financiadoras (bancos), houve maior flexibilidade em termos de prazo de pagamento, graças à compreensão de que, no curto prazo, as empresas sofreram um “gap de fluxo de caixa”, em suas palavras.
Da mesma forma, a margem de negociação varia segundo a dimensão do fornecedor e da sua capacidade de absorção dos efeitos de caixa. Segundo Bruno, uma coisa é negociar prazos e termos de pagamento com a Coca-Cola, outra coisa é fazer o mesmo com um armarinho local. O compartilhamento desses efeitos de caixa não é equânime.
Bruno disse ainda que, por enquanto, a discussão é sobre liquidez, mas, no futuro próximo, pode ser sobre a solvência das empresas, haja vista que, nos países mais adiantados em relação à reabertura econômica, as vendas do comércio estão geralmente 50% abaixo do que eram antes. Para muitos negócios, esse volume de vendas é insuficiente para permanecerem com as portas abertas.
O executivo da Vinci Partners considera que as estimativas de recuperação no Brasil e no exterior são otimistas demais, pois, segundo ele, estamos vivendo uma crise de duplo impacto: um no lado econômico e o outro no lado sanitário. Esses fatores prejudicam, de uma só vez, a renda e a confiança das famílias, seja pela falta de renda, seja pelo medo de contrair a doença. Por isso, Bruno acredita que viveremos uma crise por um período muito mais longo do que se prevê.
Bruno ressaltou que a crise está forçando uma mudança brusca nos hábitos dos consumidores, haja vista que suas opções de consumo e lazer foram suprimidas de forma repentina. Com isso, as empresas com dominância digital ou cuja receita provenha majoritariamente do ambiente digital tendem a se beneficiar desse cenário.
Para ilustrar isso, Bruno fez uma analogia dizendo que as empresas digitais estão “long” (compradas) na mudança de hábito dos consumidores, ao passo que as indústrias tradicionais estão “short” (vendidas), apostando que esse “novo normal” não prevalecerá e as pessoas retornarão às suas rotinas anteriores.
Para finalizar a entrevista, Rodolfo perguntou como os estrangeiros estão enxergando o ambiente de negócio no Brasil, já que a Vinci atende fundos estrangeiros. Bruno respondeu que a maior preocupação dos estrangeiros é em relação à taxa de câmbio, pois o real brasileiro é a moeda que mais tem se desvalorizado no mundo. Tal desvalorização, segundo o executivo, prejudica a perspectiva de retorno em moeda estrangeira, e a maneira de mitigar isso seria adotar instrumentos de proteção (derivativos) no mercado de capitais.