Empresas prestadoras de serviços essenciais para a sociedade, como saneamento básico, possuem uma grande vantagem em relação a outros segmentos da bolsa. Isso, porque proporcionam uma maior previsibilidade das receitas e lucros, além de maior resiliência em momentos de baixo crescimento ou crises econômicas.
Neste sentido, é fundamental compreendermos melhor suas especificidades e como algumas mudanças regulatórias recentes impactaram as perspectivas para as companhias e o segmento no geral.
As empresas do setor de saneamento caracterizam-se por serem defensivas, ou seja, possuem uma baixa exposição à atividade econômica pela essencialidade do serviço. Além disso, apresentam menor volatilidade quando comparado ao Índice Ibovespa.
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As tarifas de água e de esgoto são atualizadas anualmente pela inflação e os contratos de concessão são de longo prazo, de 30 a 35 anos.
Contudo, existem fatores que aumentam as incertezas do setor, como o potencial risco regulatório que pode aumentar a volatilidade das ações dessas empresas.
A grande questão do saneamento básico é que o Brasil possui um déficit gigantesco nessa área. Segundo relatório do Instituto Trata Brasil (ITB), cerca de 100 milhões de brasileiros – quase 50% da população – não dispõem de rede de coleta de esgoto, e aproximadamente 35 milhões não têm acesso a água tratada.
O Novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em julho de 2020, foi a mais recente tentativa de mudar esse quadro grave.
O intuito do projeto é assegurar a universalização desse serviço, de modo que até 2033, 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% a tratamento e coleta de esgoto. Para atingir as metas do Marco Legal, o Governo Federal prevê investimentos da ordem de R$ 700 bilhões.
A nova lei, ao tornar obrigatório os processos de licitação, buscou acirrar a concorrência, induzindo as empresas entregarem soluções melhores e mais eficientes. Logo, o Novo Marco do saneamento pode beneficiar o setor como um todo, as empresas no curto e no longo prazo e a sociedade com melhores serviços.
Quando analisamos algumas das principais companhias do segmento – Copasa, Sanepar e Sabesp – nota-se, no entanto, que as suas ações tiveram um desempenho abaixo do esperado desde que a lei foi sancionada.
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O que pode ajudar a explicar essa performance nos preços das ações é o fato de que o marco regulatório deve aumentar a concorrência no setor, elevando o número de players na disputa pelas licitações de novos projetos.
Além disso, a necessidade de maiores investimentos e de melhorias dos serviços com a nova lei podem impactar o payout – porcentagem dos lucros que será distribuído aos acionistas – das empresas.
Diante desse cenário, o segmento como um todo pode se beneficiar bastante com maiores investimentos e a universalização dos serviços. Porém as empresas já estabelecidas tendem a ser afetadas, ao menos no curto prazo, por conta das novas regras e exigências estipuladas pelo Marco Regulatório.
De toda forma, o setor de saneamento básico possui características que o tornam atrativos para os portfólios dos investidores pela estabilidade das receitas e a essencialidade do seu serviço para a população. Logo, dada a recorrência da lucratividade e distribuição de dividendos é um setor fundamental para mantermos em nosso radar.