No dia 08 de maio, o Banco Central do Brasil (BCB) divulgou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, contrariando o guidance anterior, mas já precificada pelo mercado. Hoje, terça-feira (14), foi divulgada a ata da reunião do Copom, detalhando um pouco mais a discussão por trás dessa decisão.
A ata revela algumas informações importantes, que já haviam sido divulgadas na nota da decisão do dia 08, como a mudança de percepção do cenário econômico, ressaltando as incertezas tanto externas quanto internas.
Neste documento, o Comitê detalha um pouco mais sua visão. Novamente, o órgão ressalta as dificuldades do processo desinflacionário nas economias desenvolvidas, postergando os cortes de juros nesses países, especialmente nos Estados Unidos. Além disso, o Copom ressaltou que não condiciona sua decisão à política monetária de outras nações, mas leva em conta os mecanismos de transmissão da conjuntura externa na dinâmica inflacionária interna.
Em continuidade, a ata reiterou a visão que já está sendo incorporada nas divulgações do Boletim Focus nos últimos tempos: a atividade continua aquecida e o mercado de trabalho resiliente, sob diversas óticas. Isso vem acarretando sucessivas revisões para cima no crescimento deste ano, pelo mercado. Em especial, o debate trouxe a relevância de observar a dinâmica de empregos e salários como propulsor da inflação, apesar de expressar não haver evidências conclusivas dessa transmissão.
Outro ponto importante foi a reafirmação da necessidade de uma política fiscal responsável, o que já vem sendo discutido há bastante tempo e é bem claro ao dizer que:
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”
A ata também mencionou a preocupação com a inflação de alimentos, que é mais volátil, por parte dos membros, sem especificar quais, enquanto outros enfatizaram o papel da inflação de serviços. Além disso, o Comitê trouxe sua visão sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, apenas ressaltando que ela deve acarretar impactos econômicos que serão monitorados, além dos humanitários.
Apesar da relevância dos itens anteriores para explicar a decisão, eles já eram, de certo modo, mais previsíveis. Ou, ao menos, esperados. Assim, a principal pauta foi a discussão sobre qual deveria ser o corte, de 0,25 ponto percentual que ocorreu, ou de 0,5 ponto como foi sinalizado na última reunião. A publicação tentou afastar o viés político que estava sendo atribuído pela mídia, uma vez que a votação por um corte maior foi feita por membros do comitê indicados pelo Governo atual. Vale ressaltar que o termo mais adequado não seria “viés político” propriamente, mas sim uma visão de política monetária menos ostensiva, ou talvez até menos ortodoxa, o que estaria alinhado com o executivo.
A ata trouxe, porém, uma visão técnica, em que a discussão seria marcada pelo balanço de dois riscos:
- (i) a deterioração da credibilidade ao não reagir à piora nas expectativas, pondo em xeque o compromisso do BCB com a meta e
- (ii) o risco de perder parte do efeito da comunicação do órgão ao não seguir o guidance.
Na verdade, é um debate bem interessante. Por um lado, aqueles que querem manter o corte de 0,5 têm uma fundamentação técnica: essa sinalização que o Banco Central faz das próximas reuniões também é um instrumento da política monetária. Ao indicar como pretende conduzir as decisões futuras, o órgão tenta diminuir as incertezas e, de certa forma, conduzir as expectativas dos agentes do mercado. Assim, se os players deixam de acreditar nos guidances, esse instrumento perde seu efeito.
O argumento levantado por esse grupo foi de que o cenário não teria mudado tão significativamente a ponto de correr este risco, além de que o corte de 0,5 ainda manteria a Selic em patamares restritivos. Por fim, também defenderam a flexibilização das decisões a partir da próxima reunião, ou seja, seguir o guidance nesta decisão, mas não fazer nenhuma sinalização para a próxima, quando avaliariam novamente o cenário econômico.
Por outro lado, o grupo que votou em 0,25 defendeu sua decisão com base na piora e desancoragem das expectativas, o que, na visão deles, seria cenário suficiente para correr o risco de não seguir o guidance.
Eles entenderam que as mudanças no panorama econômico foram significativas e não corrigir a rota já nesta reunião poderia incorrer em um risco bem maior, que seria o dos agentes [pessoas, empresas, mercado, etc.] perderem a confiança de que o Banco Central está determinado a alcançar a meta de inflação. Além disso, ressaltaram que o último guidance foi condicionado, onde o BCB deixou claro que dependeria do cenário base.
Em suma, deste debate que foi o principal destaque da ata, acreditamos ser um misto das duas situações: a indicação dos diretores do BCB feita por este governo é mais alinhada com a visão do executivo e deve ser menos intensiva do que a dos membros indicados pelo antigo presidente. Isso não implica em uma perda do compromisso com as metas do Copom, mas sim uma mudança na percepção de como conduzir a política monetária para alcançá-las. Além disso, realmente existiu um custo atrelado ao guidance e faz sentido que o tema seja colocado em pauta, gerando divergência entre os membros.
Para a próxima reunião, entretanto, a ata não trouxe sinalizações, nos levando a entender que o tamanho do corte também dependerá de como a economia e os riscos evoluirão, tanto externos como internos, até lá. Na nossa visão e na do mercado, dificilmente ocorrerão mudanças até junho que façam o BCB se sentir mais confortável em reacelerar o corte. Assim, é provável que a decisão de 0,25 ponto percentual se repita.
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