O avanço de novas fontes de energia renovável no país trouxe grandes oportunidades e desafios para os investidores que desejam se posicionar em um setor defensivo e em crescimento.
Não há dúvidas de que o incentivo à energia limpa está no centro das preocupações das autoridades ao redor do mundo e, no Brasil, não é diferente.
Apesar de termos uma das matrizes elétricas mais sustentáveis do planeta, nossa dependência a barragens e termelétricas ainda é muito grande.
Não por acaso, o Ministério de Minas e Energia (MME) decidiu inserir no Plano Nacional de Energia 2050 mudanças graduais nas políticas do setor, a fim de promover a diversificação das nossas fontes energéticas, aumentando a eficiência da geração e reduzindo as pegadas de carbono.
Diante das boas perspectivas para o setor nos próximos anos e da possibilidade de desenvolver ativos estratégicos no setor, os investimentos em projetos de energia renovável dispararam no país, mas também levantaram preocupações com a sua qualidade e eficiência.
Por isso, a Bloxs entrevistou grandes gestores para saber como eles selecionam ativos de alta qualidade no setor de energia e elaborou o guia Lucrando com a Transição Energética, com seus principais insights e recomendações.
Neste artigo, vamos resumir as visões desses gestores e esquematizar seus segredos para investir em energia renovável. Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
- Crescimento da energia renovável traz oportunidades e desafios
- Ambiente regulatório estável, testado e com boa rentabilidade
- A importância do conhecimento e da análise criteriosa para investir em energia
- Experiência do empreendedor tem grande peso nas decisões de investimento
- Saiba mais sobre as oportunidades no setor de energia renovável
Crescimento da energia renovável traz oportunidades e desafios
A energia renovável tem um papel estratégico no mundo, não apenas por garantir a segurança da geração, mas também para promover o desenvolvimento econômico sustentável.
E isso nunca foi tão necessário para um país emergente como o Brasil que, durante décadas, dependeu enormemente de barragens e termelétricas para garantir o fornecimento de energia elétrica para a população e as empresas.
Ainda está bastante fresco em nossa memória as sucessivas crises pelas quais o setor passou nos últimos anos, seja pela falta de investimentos, seja pela mudança dos regimes de chuvas, que provocaram uma drástica e repentina queda dos níveis das usinas hidrelétricas em várias regiões do país.
Isso para não citar intervenções e políticas públicas fracassadas, que afetaram nossa capacidade de produzir, distribuir e consumir energia de forma eficiente e sustentável, como o controle de preços e o desincentivo à competição.
O grande ponto de inflexão nessa história ocorreu com o aumento dos investimentos privados e dos incentivos ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia renovável, com destaque para a energia solar e a eólica, que tiveram um salto extraordinário em pouco tempo.
De fato, a energia solar se tornou a segunda fonte de geração mais importante em nossa matriz elétrica em poucos anos, graças ao extraordinário crescimento da geração distribuída, saindo de um pouco mais de 1 GW em 2017 para 29 GW no primeiro trimestre de 2023.
Mas esse crescimento também trouxe desafios na hora de selecionar bons projetos no setor, como riscos ambientais, jurídicos, tecnológicos e operacionais que precisam ser devidamente avaliados pelos investidores que desejam participar desse formidável avanço.
Por isso, a Bloxs ouviu especialistas e gestores que investem em energia renovável para saber quais são os aspectos mais importantes para se posicionar estrategicamente em um setor defensivo e em crescimento.
Vamos resumir a seguir as visões de três gestores:
- Guilherme Sassi, gestor da Navi Capital e especialista em infraestrutura;
- Raphael Barcelos, gestor da RBR Asset Management e especialista em investimentos em infraestrutura;
- E Cristina Tamaso, portfolio manager de Infraestrutura e Investimentos ESG da gestora Valora.
Para conferir o estudo completo que realizamos do setor, não deixe de conferir o guia Lucrando com a transição energética: conheça as estratégias de grandes gestores para investir em energia renovável.
Ambiente regulatório estável, testado e com boa rentabilidade
Na conversa com a Bloxs, o gestor da Navi Capital, Guilherme Sassi, destacou que o setor de energia possui um ambiente regulatório “estável e testado”, que historicamente manteve um bom nível de rentabilidade.
Mesmo considerando as crises e modificações regulatórias ao longo do tempo, a rentabilidade se manteve adequada no setor, especialmente com o avanço da geração distribuída, que é a produção de energia mais perto das unidades consumidoras, principalmente pelo uso de painéis solares.
A combinação desses fatores, juntamente com a janela de oportunidade trazida pela Lei 14.300, na visão de Sassi, tornou esse setor bastante atrativo para investimentos.
O Brasil tem tudo para se tornar uma potência energética e exportar energia verde para o mundo inteiro.
Critérios para escolha de projetos de geração distribuída
Em relação aos critérios de avaliação de projetos de energia em geração distribuída, Sassi menciona que a Navi Capital realiza análises técnicas, ambientais e jurídicas, com a assessoria de especialistas, para garantir que atendam a todos os critérios importantes de investimento.
A análise técnica envolve a verificação do terreno, incluindo acesso, topografia, sombreamento e necessidade de terraplanagem. A análise ambiental abrange aspectos como reservas ambientais, áreas quilombolas, reservas indígenas e preservação ambiental. Já a análise jurídica é feita para verificar as questões legais dos terrenos e proprietários, evitando riscos de posse.
Geração distribuída x geração centralizada
Fornecendo uma visão mais abrangente do setor de energia, Guilherme Sassi destaca que o mercado de geração centralizada tem um preço de longo prazo baixo, o que torna difícil rentabilizar bem os ativos.
Atualmente, o preço de longo prazo no mercado centralizado da geração de energia é baixo e dificilmente consegue rentabilizar adequadamente os investimentos. No entanto, há uma perspectiva de melhora, mas isso dependerá dos futuros ajustes nos marcos regulatórios.
Ajustes regulatórios
Ao falar sobre a questão regulatória, Guilherme Sassi comenta que é preciso oferecer mais garantias físicas para as usinas hidrelétricas e menciona a oportunidade de geração de energia para produção de hidrogênio verde, segmento em que o Brasil pode se tornar líder mundial.
Oportunidade em hidrogênio verde
Em sua visão, as mudanças geopolíticas pelas quais o mundo está passando criam oportunidades na produção de hidrogênio verde para geração de energia, com foco na exportação para a Europa e Ásia.
Embora essa discussão ainda esteja em estágios iniciais no Brasil, ele acredita que o país pode ser uma potência energética e exportar energia limpa para o mundo todo.
Por fim, o gestor explica que o país tem extensas áreas com grande incidência de radiação solar, alto potencial para geração de energia eólica, vastas reservas de biomassa e um setor agrícola forte que pode fornecer matéria-prima para a produção de biogás.
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A importância do conhecimento e da análise criteriosa para investir em energia
Já o gestor da RBR Asset Management, Raphael Barcelos, em entrevista à Bloxs, abordou diversos aspectos importantes na avaliação e na decisão de investir em projetos de energia com foco no longo prazo.
Vantagens da geração distribuída
Barcelos destaca que a geração distribuída, principalmente de energia solar, tem se mostrado mais assertiva e previsível em relação a riscos construtivos, em comparação com a geração centralizada. No entanto, ressalta a importância de considerar o track record dos envolvidos no projeto, como construtores, operadores e gestores, para garantir a viabilidade do empreendimento.
O track record das partes envolvidas no projeto é fundamental para garantir sua eficiência, seja na construção, operação ou gestão. Além disso, a evolução tecnológica nos projetos solares tem impactado as estimativas de geração de energia ao longo do tempo, considerando fatores como a utilização de módulos bifaciais e trackers para melhor aproveitamento da irradiação solar.
Desafios na seleção de projetos de energia solar
De fato, um dos principais desafios na seleção de projetos de energia é lidar com as constantes mudanças tecnológicas e operacionais, o que pode gerar dúvidas sobre o desempenho futuro dos empreendimentos, como falhas mecânicas e interrupções no fornecimento de insumos, fatores que precisam ser cuidadosamente avaliados.
Além disso, questões regulatórias e jurídicas, disponibilidade de recursos financeiros e aspectos ambientais e de sustentabilidade também são desafios fundamentais a serem considerados.
Estrutura de capital
O gestor também ressalta a necessidade de uma estrutura de capital bem equacionada para os projetos, com recursos próprios e de terceiros suficientes para garantir a construção e a operação do empreendimento. A análise de crédito e o envolvimento de assessores especializados são importantes para mitigar riscos e garantir o sucesso dos investimentos.
Um projeto solar pode ter uma complexidade menor em relação a riscos construtivos, mas isso não significa que não haja riscos ou complexidade envolvidos. A estrutura de capital, por exemplo, é um ponto crucial. A questão da equação de recursos para a construção do projeto, tanto em termos de dívida quanto de capital próprio, tem enorme importância.
Modelos de previsão da geração
Na análise de projetos, Raphael Barcelos enfatiza a importância de utilizar modelos de previsão de geração de energia com intervalos de confiança, como P50 e P90, que indicam a probabilidade de ocorrência dos resultados. Ele destaca que a assertividade das estimativas de geração tem melhorado com o tempo, mas ainda é fundamental ter uma abordagem detalhada e criteriosa, especialmente em projetos de grande escala.
Dessa forma, o gestor da RBR Asset Management enfatiza a importância de uma análise detalhada e criteriosa na seleção de projetos de energia, considerando diversos aspectos técnicos, econômicos, jurídicos e ambientais, a fim de garantir a viabilidade e o sucesso dos empreendimentos.
Embora o mercado esteja aprendendo e evoluindo, é importante notar que a geração distribuída é relativamente recente no Brasil, e projetos de grande escala, como os eólicos e solares, também possuem um histórico ainda limitado. O conhecimento tem sido difundido para o mercado, permitindo que gestores, instituições financeiras e investidores tomem decisões mais embasadas e com ferramentas mais aprimoradas para avaliar os riscos e oportunidades desses projetos.
Experiência do empreendedor tem grande peso nas decisões de investimento
Na avaliação de Cristina Tamaso, portfolio manager da Valora, um dos aspectos mais importantes para investir em um projeto de energia é a experiência dos empreendedores e a confiabilidade dos fornecedores, sobretudo em geração distribuída.
Ela observa que o segmento de geração distribuída demanda investimentos menores, mas a complexidade regulatória exige conhecimento especializado, bem como uma análise holística de todos os envolvidos no projeto.
Normalmente, buscamos fornecedores reconhecidos. Além disso, é importante que o empreendedor compreenda o setor de energia. Buscamos empresas ou pessoas que já tenham experiência no setor, o que é bastante relevante.
Conexão em Minas Gerais é ponto de atenção
Cristina afirma que, entre os projetos investidos por sua gestora e que estão em construção, o grande desafio é a conexão dos empreendimentos à rede no estado de Minas Gerais, que vem enfrentando dificuldades para atender à demanda.
Temos projetos em construção e alguns já operacionais. Até o momento, não tivemos grandes problemas, exceto pela necessidade de acompanhar mais de perto as conexões em Minas Gerais.
Entre os outros pontos mencionados por Cristina Tamaso na avaliação de projetos de energia, com destaque para a geração distribuída, podemos destacar:
Análise abrangente
A avaliação dos projetos inclui todos os envolvidos, desde os investidores até os fornecedores de equipamentos, o que exige uma visão completa do empreendimento, considerando desde aspectos regulatórios até especificidades jurídicas e ambientais.
Acompanhamento dos projetos
Cristina enfatiza a importância de monitorar de perto os projetos em construção e operacionais, garantindo que estejam seguindo o planejado e enfrentando o mínimo de problemas, sobretudo em regiões onde as concessionárias não estão conseguindo atender à demanda por conexão à rede.
Estratégia e foco em energias renováveis
Cristina salienta que o setor de energia renovável é extremamente promissor e sua carteira atual no segmento está focada em usinas solares em geração distribuída, mas continua analisando projetos em outras áreas, como eólica e biogás. A preocupação com o atendimento aos princípios ESG também está presente em suas estratégias de investimento.
Por fim, a especialista ressalta que a avaliação de projetos de energia deve ter um olhar atento à experiência dos empreendedores, à qualidade dos equipamentos, à regulamentação do setor e ao potencial de energias renováveis para o país nos próximos anos, o que deve abrir excelentes oportunidades de investimento para quem deseja se posicionar no setor.
Saiba mais sobre as oportunidades no setor de energia renovável
Se você deseja saber mais sobre a energia renovável no Brasil e o que outros grandes gestores avaliam na hora de investir no setor, baixe agora mesmo nosso guia Lucrando com a transição energética e não deixe de se cadastrar em nossa plataforma para ter acesso a outros conteúdos exclusivos como esse.