Finalmente a Black Friday chegou e, para os investidores que gostam de pechinchas, o mercado acionário está repleto de oportunidades.
Após a disparada da inflação em todo o mundo, a maioria dos bancos centrais resolveu apertar a política monetária para frear o aumento generalizado dos preços aos consumidores.
Com isso, os setores mais sensíveis aos juros sofreram forte correção, como foi o caso das ações de tecnologia, varejo, mercado imobiliário, educação, saúde, consumo discricionário, entre outras.
Mas a grande questão que ocupa a cabeça dos investidores neste momento é: chegou a hora de aproveitar a Black Friday no mercado financeiro e investir nas ações mais descontadas da bolsa?
Para responder a essa e outras perguntas, elaboramos este artigo, que abordará os seguintes tópicos:
Ações globais em queda: como explicar o atual cenário?
O mundo pós-pandemia parece ser muito diferente do que muitos gurus, especialistas e donos de empresas de tecnologia acreditavam.
Os fortes estímulos fiscais e monetários realizados pelo mundo para combater os efeitos da pandemia foram, na visão de muitos economistas, exagerados e acabaram desequilibrando a já abalada relação entre oferta e demanda de bens e serviços.
Muitas empresas, prevendo uma forte queda no consumo, devido às restrições de mobilidade, aumento do desemprego e queda da renda, procuraram se adiantar ao cenário de menor demanda, reduzindo sua capacidade de produção.
Em muitos países, fábricas, estabelecimentos comerciais e inclusive cidades inteiras foram fechadas como forma de evitar o colapso do sistema de saúde frente à rápida disseminação do novo coronavírus.
O resultado foi que as cadeias globais de suprimentos foram desestabilizadas, mas, ao contrário do que muitos imaginavam, o consumo das famílias, principalmente por bens industriais, permaneceu forte e continuou assim durante todo o período de pandemia e agora de pós-pandemia.
O resultado do excesso de liquidez nas mãos dos consumidores e da incapacidade da oferta de responder ao constante aumento da demanda trouxe de volta o fantasma da inflação, agravado pela eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu.
Isso acabou exigindo medidas enérgicas no front monetário para evitar uma deterioração ainda maior do poder de compra da população e seus transtornos para a economia.
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Aperto monetário no Brasil
No Brasil, nosso banco central foi rápido em apertar a política monetária, retirando a taxa básica de juros (Selic) da mínima histórica de 2%, no primeiro trimestre de 2021, para os atuais 13,75%. Posteriormente, o mesmo movimento acabou sendo seguido, ainda que em menor grau, por outros bancos centrais ao redor do mundo.
O resultado foi uma profunda correção no mercado acionário, especialmente nos setores mais sensíveis a juros, como tecnologia, mercado imobiliário, educação, consumo discricionário, entre outros.
Desempenho dos principais índices mundiais
Bolsa | Performance (YTD) |
S&P 500 | -15,15% |
Nasdaq | -27,87% |
DAX (Alemanha) | -8,55% |
Euro Stoxx 50 | -7,88% |
Shanghai (China) | -14,78% |
Nikkei 225 (Japão) | -1,77% |
Confira qual é o desempenho das principais bolsas de valores do mundo no acumulado do ano (2022):
Por aqui, nosso principal índice acionário, o Ibovespa, registrou uma queda 11,93% no ano passado, depois que o banco central começou a subir os juros para combater a inflação. Neste ano, o Ibov acumula uma alta de 6,69%.
Essa forte correção, como não poderia ser diferente, acabou levantando uma dúvida na cabeça de muitos investidores mais atentos ao valor: será que é hora de entrar no ritmo de Black Friday e aproveitar as pechinchas do mercado?
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Setores mais afetados pela alta de juros e inflação
A alta dos juros reduz as expectativas de crescimento da economia e de lucro das empresas, na medida em que torna o acesso ao crédito mais caro e dificulta o financiamento de novos negócios.
Além disso, a renda fixa fica mais atraente, principalmente os títulos livres de risco, enquanto as ações costumam registrar maior volatilidade.
Nesse contexto, os setores da economia mais dependentes do crédito para crescer ou as empresas que ainda não têm um nível adequado de lucro, não conseguindo, portanto, retornar capital aos acionistas na forma de dividendos e recompra de ações, acabaram sofrendo mais.
Tecnologia
Foi o que vimos com as empresas de tecnologia de alto crescimento, que tiveram um “boom” durante a pandemia, mas logo devolveram tudo e mais um pouco do que se valorizaram nos últimos anos.
A Meta, por exemplo, empresa controladora do Facebook e do Instagram, acumula uma queda de cerca de 70% no ano, ao lado de outros nomes bastante conhecidos dos investidores no setor, como Netflix, com uma queda de 50% em 2022, e Amazon, com um recuo de 40%.
A Tesla, grande fabricante de veículos elétricos, amarga uma desvalorização de 37% no ano, enquanto pesos-pesados do calibre de Alphabet, controladora do Google, e Microsoft registram perdas de 36% e 32% neste ano, respectivamente.
No cenário local, as ações mais afetadas foram as de varejo, mercado imobiliário, educação e consumo discricionário. Por isso, para quem quer aproveitar as “pechinchas” da Black Friday para investir, vale a pena ficar de olho nos nomes desses setores.
Varejo e consumo discricionário
No segmento de varejo e consumo discricionário, as maiores quedas no acumulado do ano (YTD) foram:
- Lojas Americanas, com forte participação no e-commerce e varejo físico, com uma forte desvalorização de 63,69%;
- Méliuz, empresa de tecnologia de cupons de desconto e cashback, com uma queda de 63,27%;
- CVC Brasil, companhia do segmento de viagens, com um recuo de 59,76%;
- Natura, atuante no setor de cosméticos, com uma desvalorização de 51,81%;
- Magazine Luiza, nome forte no varejo físico e eletrônico, com uma queda de mais de 50%.
- Azul S.A., companhia aérea, com uma perda de quase 50%;
- Gol Linhas Aéreas Inteligentes, outra empresa do setor aéreo, com queda de mais de 50%;
- Movida Participações, companhia que atua no segmento de aluguéis de veículos, com um recuo de 41,39%.
Mercado imobiliário
No mercado imobiliário, as quedas também foram expressivas, uma vez que o setor é fortemente dependente do financiamento imobiliário para crescer. Nesse segmento, as maiores desvalorizações no acumulado do ano foram:
- MRV Engenharia, com queda de 24,12%;
- Eztec, com um recuo de 19%;
- Cyrela, com uma desvalorização de 6,5%;
- Unicasa Indústria de Móveis, com uma queda de 38,84%.
Educação
O setor de educação vem passando por fortes transformações, especialmente com o crescimento da educação a distância e do aumento da concorrência para os principais players do segmento, o que acaba prejudicando suas margens de lucro. O aumento da inflação e dos juros também aumenta a pressão sobre os resultados das empresas, que têm dificuldades em repassar os aumentos de custos e oferecer opções de financiamento estudantil.
Com isso, as empresas de educação na B3 acabaram registrando forte queda, como foi o caso da rede Yduqs, que no último ano perdeu praticamente metade do seu valor, e Cogna, que no mesmo período, teve um recuo menor, de 5,2%, mas há bastante tempo vem sendo pressionada.
Saúde
Por fim, o setor de saúde também foi bastante abalado pela alta da inflação e dos juros, especialmente em razão do aumento dos custos das operadoras de planos de saúde, na medida em que houve um represamento de consultas, exames e cirurgias eletivas por conta da pandemia.
Com o repasse do aumento de custos nas mensalidades, muitas famílias acabaram não conseguindo arcar com as despesas e acabaram cancelando seus planos de saúde.
As ações nesse segmento tiveram perdas expressivas no último ano, como:
- Qualicorp, com um recuo de 63,18%;
- Hospital Mater Dei, com uma queda de 49,02%;
- Diagnósticos da América (DASA), com uma desvalorização de 53,07%;
- Rede D’Or São Luiz, com uma perda de 39,02%;
- Fleury, com uma leve queda de 2,69%.
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Vale a pena aproveitar os preços de “Black Friday” das ações?
De acordo com muitos especialistas, o cenário para investimento em ativos de risco ainda é incerto, já que a normalização de juros nas principais economias ainda não foi concluída e o cenário de recessão nos EUA e na Europa ainda é muito grande.
No cenário nacional, a perspectiva para alocação em risco também está bastante nebulosa, já que ainda não há uma clareza em relação às políticas econômicas do próximo governo, especialmente em relação ao estabelecimento de uma nova âncora fiscal.
Economistas afirmam que a deterioração das contas públicas pode fazer com que o banco central mantenha os juros em patamares elevados por mais tempo, o que tornaria mais atraente o investimento em renda fixa.
Porém, os investidores mais atentos ao mercado e que estão de olho nas correções para montar posições oportunísticas devem priorizar empresas com balanços sólidos, baixo nível de endividamento e bom histórico de distribuição de dividendos, evitando apostas muito ousadas de crescimento.
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