Colapso da FTX, uma das maiores plataformas de ativos digitais, pegou o mundo cripto de surpresa e gerou grandes prejuízos aos investidores.
O ceticismo que muitos investidores, empresas e, principalmente, autoridades governamentais tinham pelas criptomoedas acabou se agravando, com questionamentos em relação à sua segurança e viabilidade.
A verdade é que os tokens digitais ganharam popularidade nos últimos anos, graças às inovações que trouxeram para o mundo financeiro, como a blockchain.
Prometendo reduzir custos, eliminar intermediários e dar mais agilidade às transações financeiras, as criptomoedas chamaram a atenção do mundo com sua vertiginosa ascensão desde 2017, com destaque para o bitcoin.
A falta de regulação, diversos casos de ataques cibernéticos e fraudes, como o escândalo da FTX, acabaram afastando investidores comuns e institucionais desse mercado, que é um dos mais inovadores e promissores das últimas décadas.
O que esperar do mercado cripto agora, após sua forte correção pós-pandemia?
Para responder a essa pergunta e muitas outras, elaboramos este artigo especial, que abordará os seguintes tópicos:
O que causou o colapso da FTX?
A plataforma de criptos FTX, que era uma das maiores do mercado, acabou quebrando no fim de 2022, após a publicação de uma matéria no portal CoinDesk, questionando sua relação financeira estreita com a gestora Alameda Research, do mesmo grupo, e o nível de alavancagem da empresa.
Alameda tenta segurar artificialmente preços do token FTT
Grande parte do patrimônio da Alameda, que chegou a superar US$ 14 bilhões, estava denominado em FTT, token nativo da plataforma FTX, usado para oferecer benefícios e descontos aos seus clientes.
Inicialmente, as dúvidas giravam em torno da tentativa da gestora de tentar respaldar artificialmente o valor do token, durante um dos mais profundos ciclos de queda do criptomercado, iniciado no fim de 2021.
Isso acabou levantando dúvidas quanto à lisura das operações da plataforma e seus processos de controle.
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Binance resolve eliminar exposição à FTX
Após uma série de publicações no Twitter, Changpeng Zhao, CEO da Binance, maior plataforma de ativos digitais do mundo, declarou a empresa venderia todos os seus tokens de FTT no valor de mais de US$ 500 milhões, a fim de eliminar sua exposição à FTX.
Crise de liquidez da FTX
Esse fato, por sua vez, acabou desencadeando uma corrida dos outros investidores para tentar resgatar rapidamente seus recursos depositados na FTX, o que acabou gerando uma crise de liquidez na plataforma.
O CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, revelou, pouco tempo depois, que houve uma verdadeira “corrida bancária” para retirar recursos da plataforma, com as ordens de resgate somando mais de US$ 6 bilhões.
Acordo de aquisição e descoberta de fraudes
Diante da possibilidade iminente de colapso da FTX, a Binance acabou firmando um acordo não vinculativo para adquirir a plataforma e incorporá-la à sua estrutura operacional.
No entanto, ao fazer uma análise das contas da FTX, a Binance acabou descobrindo que a plataforma estava usando indevidamente os recursos dos clientes na gestora Alameda Research, realizando transferências e empréstimos não autorizados.
Investigações criminais contra a FTX
Alguns dias depois, o órgão regulador do mercado de capitais das Bahamas congelou os ativos da subsidiária da FTX no país, após notícias de que o CEO da companhia estava tentando levantar US$ 8 bilhões para evitar o colapso da FTX.
No mesmo dia, o Departamento de Proteção Financeira da Califórnia abriu uma investigação sobre o suposto uso indevido dos recursos dos clientes da FTX em operações alavancadas da Alameda Research.
Diante das revelações do escândalo Bankman-Fried, dono da FTX, afirmou que a companhia não tinha fundos suficientes para atender às demandas dos clientes e que todo o caso se deveu a uma “classificação interna indevida” das operações da plataforma.
Pedido de recuperação judicial
O ápice do colapso da FTX ocorreu com a queda do CEO da companhia e a abertura de um pedido de recuperação judicial. A Corte responsável pelo caso indicou John Ray, que conduziu o processo de falência da trading de energia Enron alguns anos antes, como novo CEO da plataforma de criptos.
As fraudes que foram descobertas posteriormente no processo de investigação e recuperação judicial levaram à prisão do ex-CEO da FTX, Bankman-Fried, nas Bahamas, e sua extradição para os EUA.
Consequências do colapso da FTX
As operações da plataforma foram praticamente encerradas, ainda que o processo de recuperação judicial não tenha acabado.
Ainda não se sabe qual será o impacto do colapso da FTX sobre o mercado cripto mais amplo, na medida em que milhares de clientes da plataforma tiveram prejuízos enormes com sua operação fraudulenta, muitos dos quais perderam todos os recursos depositados na empresa.
Cautela maior dos investidores
O mais provável, contudo, é que os investidores aumentem seu receio de entrar no mercado, com temor em relação à lisura, segurança e transparência das plataformas.
Prova disso é que, logo após o colapso da FTX, outras plataformas passaram a registrar um intenso movimento dos clientes na tentativa de resgatar seus recursos, como ocorreu com a BlockFi, Crypto.com e a Genesis.
Maior regulação do setor
Além disso, o caso pode acabar acelerando o processo de regulação do setor, com a criação de leis específicas para tratar das transações e negociações envolvendo criptomoedas.
Nesse sentido, um artigo de Gustavo Cunha, sócio da gestora de ativos digitais Resetfunds, publicado no portal Infomoney, afirma o seguinte:
Os reguladores do mundo ficarão ainda mais atentos a essas iniciativas e, inevitavelmente, com uma tendência a ter uma mão mais forte na regulação, o que, volto a dizer, pode ser muito bom para o mercado cripto se for feita de uma forma a não barrar inovação.
Ciclo de queda das criptomoedas gera falência de outras empresas
De fato, a quebra da FTX não poderia ter ocorrido em um momento pior para o criptomercado, que enfrenta mais um ciclo de forte correção, desde que atingiu o pico no fim de 2021.
O gráfico abaixo mostra a capitalização total do mercado de criptomoedas, que saiu de mais de US$ 2 trilhões, em abril de 2021, para menos de US$ 1 trilhão atualmente.
Inovação das criptos deve continuar
Apesar do colapso da FTX e das suas graves consequências ao mundo cripto, a expectativa é que o ecossistema de inovação cripto siga a todo vapor, com o aumento da sua utilização em outros setores da economia, como é o caso da tecnologia blockchain.
É preciso salientar que a queda dos mercados de criptomoedas ocorre simultaneamente a uma aversão maior ao risco dos investidores, após os bancos centrais mundiais passarem a elevar juros para combater a inflação.
Essa ação acabou gerando o temor de uma recessão profunda entre os agentes do mercado, razão pela qual o S&P 500, o mais importante índice acionário dos EUA, recuou quase 20% no ano passado, devido principalmente à queda das empresas de tecnologia.
Portanto, a falência da FTX e seus efeitos no mercado cripto não devem ser encarados de forma isolada, mas como resultado da busca dos investidores por proteção, dentro de um contexto aperto monetário.