Quem acompanha mais de perto o noticiário econômico percebeu que, nos últimos meses, as previsões dos especialistas para a economia brasileira têm mudado bastante, mostrando que a célebre frase de Tom Jobim nunca foi tão verdadeira: “o Brasil não é para principiantes”.
A forte alta da inflação e dos juros, aliada a uma desaceleração global e às dificuldades da China em lidar com o coronavírus, criou uma verdadeira “Babel econômica”, com analistas não conseguindo se entender em relação a dados como taxa de câmbio, PIB, inflação, entre outros, para este e os próximos anos.
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Isso pode ser visto com mais clareza no Boletim Focus divulgado semanalmente pelo Banco Central com as previsões do mercado financeiro para o desempenho da nossa economia.
Em nosso artigo de hoje, discutimos a seguinte questão: por que é tão difícil para os especialistas prever o futuro do Brasil?
Se você tem interesse em saber mais sobre esse assunto, continue a leitura e saiba mais sobre os seguintes tópicos:
De retração a crescimento econômico: por que as expectativas para 2022 mudam tanto?
Após estímulos econômicos sem precedentes para combater os efeitos da pandemia em todo o mundo, muitos analistas diziam que uma hora a “fatura” iria chegar.
A alta gradual da inflação acabou assumindo tons dramáticos com a eclosão de uma sangrenta guerra territorial no Leste Europeu, virando de cabeça para baixo o mercado de commodities.
A Rússia é uma potência no setor de energia, por ser o segundo maior país exportador de petróleo do mundo e o principal fornecedor de gás natural da Europa, mas, após sua invasão da Ucrânia, acabou sendo alvo de sanções econômicas do Ocidente.
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Com isso, houve uma disparada dos preços dos combustíveis, deixando autoridades de todo o mundo sem saber o que fazer para evitar o impacto da inflação sobre os consumidores, em especial as famílias de baixa renda.
Autoridades monetárias “batem cabeça” no mundo
O discurso de “inflação transitória” que vinha sendo adotado até então pelos principais bancos centrais do mundo foi abandonado. “Estávamos equivocados”, reconheceu Jerome Powell, presidente do Federal Reserve Bank dos EUA, e não demorando muito para Christine Lagarde, chefe do BCE, fazer o mesmo.
Se as principais autoridades econômicas e financeiras do mundo estão “perdidas”, sem conseguir prever o que acontecerá com a inflação, os juros e a economia, o que dizer de nós?
Onda de revisões chega ao Brasil
Esse cenário de incertezas e mudanças repentinas nas projeções também se aplica ao Brasil.
Por aqui, após o forte aperto das condições financeiras pelo nosso Banco Central, com uma sequência agressiva de altas da taxa Selic para combater a disparada da inflação, os especialistas passaram a prever uma desaceleração ou até mesmo uma recessão econômica.
No entanto, contra todas as expectativas, os dados de atividade econômica e de empregos estão contradizendo essas projeções, gerando uma nova onda de revisões nas previsões de crescimento para este ano.
Os especialistas apontam agora que os cortes de impostos sobre combustíveis e a continuidade dos auxílios e programas sociais ajudarão a economia brasileira a crescer cerca de 2% neste ano, com queda da inflação.
Ou seja, mudou da água para o vinho.
O que dizem os especialistas
Em um recente relatório sobre o cenário macro brasileiro, o banco Itaú afirmou o seguinte:
A ampliação do pagamento de benefícios sociais no segundo semestre deve impactar positivamente a economia no período. Com isso, revisamos nossa projeção de crescimento do PIB para 2,0% (de 1,6%), mas mantivemos a projeção de 0,2% para 2023. Dados mais fortes do mercado de trabalho, juntamente com a melhor perspectiva para o PIB deste ano, nos levaram a revisar também a nossa projeção de taxa de desemprego para 10,5% (de 11,0%) em 2022 e para 11,2% (de 12,3%) no próximo ano.
E isso está longe de ser um movimento isolado. Como ressalta uma reportagem do Valor Econômico:
A virada de 2021 para 2022 foi marcada pela queda generalizada nas projeções de PIB deste ano […]. A mediana do Focus chegou ao vale de 0,25% em 20 de janeiro. A percepção era que os juros reais haviam entrado no campo restritivo, impondo atividade morna no primeiro semestre, ainda sustentada pela retomada dos serviços e recordes na agricultura, mas contrações a partir de então.
A visão mais defendida no momento entre os principais analistas é que o cenário positivo para as commodities brasileiras no exterior e a melhora nas contas públicas estão se refletindo em estímulos fiscais, como redução de impostos e programas sociais, capazes de sustentar o crescimento econômico neste ano.
O ponto de preocupação, no entanto, é com a trajetória dos números fiscais para os próximos anos, já que teremos em breve eleições presidenciais e ainda há muita incerteza em relação à condução das contas públicas a partir de 2023.
O relatório do banco Itaú aponta que a sustentabilidade fiscal voltou a ser um desafio relevante, ao afirmar que a preocupação não é com os números fiscais de curto prazo, mas com a trajetória que parece estar contratada para o futuro.
O próximo governo terá que definir sobre a continuidade dos auxílios que serão implementados no segundo semestre deste ano, além do arcabouço fiscal que será válido à frente, em uma economia emergente com dívida pública alta e juros elevados. Estimamos déficit primário de 0,4% do PIB em 2022 (de resultado zerado, anteriormente), déficit de 1,5% em 2023 (-0,1%, anteriormente), e dívida bruta em 79% e 84% do PIB neste ano e no próximo, respectivamente.
Commodities e setores resistentes a crises devem sustentar crescimento
Por fim, diversos analistas defendem que o que pode respaldar a economia brasileira no segundo semestre e nos próximos anos – quando os efeitos da alta de juros começarão a ser sentidos de forma mais sensível – é o cenário ainda favorável para as commodities no exterior e o desempenho de setores de ciclo mais longo e mais resistentes a variações de juros, como a construção civil.
Tudo isso, evidentemente, dependerá dos desdobramentos da guerra na Ucrânia e da trajetória de juros no exterior, na medida em que os bancos centrais mundiais começaram agora seu ciclo de normalização das taxas.
Para se ter uma ideia do quão incerto está o cenário por lá, muitos especialistas pregam que os EUA já estão em recessão, mas o fato é que os últimos dados do mercado de trabalho ainda mostram uma economia pujante, com salários em alta, apesar da maior inflação vivida pelo país nas últimas quatro décadas.
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