As condições de captação de recursos por fundos de private equity ao redor do mundo estão mais desafiadoras, mas os gestores seguem confiantes na sua capacidade de atingir as metas, por meio de diferentes estratégias.
Desde a busca por um público mais diversificado de investidores até o uso de inteligência artificial e a ênfase maior nos princípios ESG, os gestores estão repensando suas práticas de captação para garantir sua competitividade no mercado.
Essas são as constatações do relatório “State of Fundraising 2023”, divulgado pela empresa de pesquisa e consultoria em investimentos alternativos Passthrough, que apresenta uma análise detalhada sobre a visão dos gestores, suas estratégias de captação de recursos e as mudanças no comportamento dos investidores.
De acordo com o documento, a confiança nos prazos e metas de captação ainda é elevada, apesar do ambiente mais desafiador, em razão de mudanças no panorama macroeconômico, como o aumento da inflação e dos juros.
Além disso, os gestores estão descobrindo a importância maior dos investidores individuais de varejo, em vista do aumento da competição, das mudanças regulatórias e da evolução das preferências dos investidores institucionais.
Neste artigo, vamos explorar os principais pontos do relatório e suas implicações para o futuro da captação de recursos para fundos de private equity.
Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
Captações de private equity ficam mais desafiadoras
A mudança no cenário macroeconômico no último ano teve impactos profundos em todos os segmentos do mercados de capitais, em especial nos fundos de private equity, diante do aumento da aversão ao risco dos investidores e da alta global de juros.
Para entender melhor como essas mudanças afetaram as estratégias dos players do setor, como gestores, sócios, diretores de investimento, entre outros, a Passthrough, empresa de pesquisa e consultoria em investimentos alternativos, entrevistou mais de uma centena de pessoas e trouxe conclusões importantes sobre o panorama de investimento em empresas de capital fechado.
Otimismo ainda é grande
Quase 80% dos entrevistados relataram que as condições de captação de recursos, inclusive em operações de venture capital, ficaram mais difíceis, porém não preveem uma piora do quadro econômico daqui para frente.
De fato, mais de 70% dos participantes do levantamento da Passthrough disseram que esperam ver uma melhora da economia nos próximos trimestres, sendo que cerca de metade deles (49,50%) afirma que tal melhora deve ser moderada, ao passo que apenas 12,87% consideram que as condições econômicas vão se deteriorar.
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Confiança nas metas
Apesar desse cenário mais complexo de captação para investimento em empresas de capital fechado, os entrevistados disseram que não houve uma interrupção no fluxo de atração de recursos por parte dos fundos.
Cerca de 70% dos entrevistados declararam que esperam encerrar seus esforços de captação mais cedo do que o previsto, com menos de 20% afirmando que suas captações podem terminar após o prazo planejado.
Isso parece estar de acordo com os dados históricos que mostram que o tempo médio para um fundo ser encerrado, em meses, tem se mantido surpreendentemente consistente ao longo do tempo, com exceção de um aumento acentuado após a crise financeira global de 2009. No entanto, 45% dos entrevistados relataram que estão aumentando os prazos de captação de recursos, o que pode levar a um aumento semelhante ao de 2009 quando os dados forem revisados no final de 2023.
No relatório, os gestores podem responder se estão “muito confiantes”, “bastante confiantes”, “nem confiantes nem não confiantes”, “pouco confiantes” ou “nada confiantes” em atingir suas metas de captação.
Essa avaliação de confiança é essencial para entender a perspectiva dos gestores de fundos em relação ao sucesso de suas campanhas de captação de recursos. A confiança pode afetar a forma como eles planejam e executam suas estratégias de captação, bem como sua disposição para buscar ativamente novos investidores e ajustar seus prazos.
Desafios para novos gestores
O relatório da Passthrough aborda os gestores que estão no início de suas carreiras à frente de fundos de capital privado ou que têm menos histórico e reputação no mercado financeiro.
Diante da alteração do ambiente de captação registrada no último ano, eles estão enfrentando desafios específicos para atrair recursos para suas teses de investimento, seja de investidores institucionais ou de outros financiadores, que se mostram mais cautelosos ao investir em gestores menos conhecidos.
No relatório, eles foram questionados sobre como as condições de captação de recursos estão afetando seu acesso a capital, o interesse dos investidores, a aceitação de novos fundos e outros obstáculos específicos que enfrentam.
Mais da metade (55%) dos entrevistados afirmaram que as atuais condições de mercado aumentaram a dificuldade em atrair novos investidores, e um pouco mais da metade (51%) disseram que isso resultou em requisitos mais rigorosos de diligência operacional. Além disso, percentagens significativas também mencionaram que as condições de mercado tornaram mais difícil garantir o retorno de investidores anteriores (46%) e/ou prolongaram os prazos para captação de recursos (45%).
A análise dos desafios para gestores emergentes é importante, na medida em que pode fornecer insights sobre as dinâmicas do mercado e as oportunidades de crescimento para novos players no setor. Além disso, entender tais desafios pode ajudar os gestores em ascensão a adaptar suas estratégias e encontrar formas inovadoras de atrair investidores e construir uma reputação sólida.
O relatório indica tendências e padrões relacionados ao sucesso ou fracasso de novos gestores na captação de recursos, bem como fornece informações valiosas sobre como eles podem melhorar suas abordagens e superar os desafios do mercado.
Estratégias de captação
No levantamento da Passthrough, os gestores foram questionados sobre as estratégias que estão adotando para superar as dificuldades de captação de recursos, diante dos novos obstáculos trazidos pelo quadro macroeconômico.
O estudo revelou que eles estão oferecendo termos mais favoráveis aos investidores, concentrando esforços em fortalecer relacionamentos com atuais investidores, explorando novos mercados geográficos, a fim de diversificar sua base de investidores, entre outras ações.
De fato, como é possível ver no gráfico, 51% dos gestores de fundos estão oferecendo termos mais favoráveis para os investidores, a fim de atingir suas metas de captação, focando especialmente no relacionamento com os atuais investidores.
Além disso, 49% dos entrevistados disseram que estão explorando novas regiões geográficas, no intuito de diversificar sua base de investidores, ao passo que 2 em cada 5 participantes disseram que estão aumentando seus investimentos de marca e oferecendo novos produtos aos investidores, como oportunidades de coinvestimento.
A análise das estratégias de captação é crucial para entender como os gestores de fundos de private equity estão se adaptando ao cenário desafiador e inovando para enfrentar os obstáculos da captação de recursos.
Essas informações podem fornecer insights valiosos sobre quais abordagens estão sendo mais bem-sucedidas e como os gestores estão se destacando no mercado altamente competitivo.
Além disso, o relatório avalia a eficácia das estratégias adotadas pelos gestores, verificando se elas estão de fato ajudando-os a atingir suas metas de captação e se estão se alinhando às expectativas dos investidores em termos de transparência, retorno e alinhamento de interesses.
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Uso de Inteligência Artificial (IA)
O relatório explora ainda como os gestores do setor estão incorporando a inteligência artificial em suas operações diárias, a fim de melhorar a captação de recursos e otimizar suas estratégias de investimento.
A inteligência artificial (IA) abrange sistemas computacionais capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como análise de dados, reconhecimento de padrões, tomada de decisões e aprendizado automático.
Essa tecnologia tem-se mostrado cada vez mais relevante no setor financeiro e de investimentos, na medida em que ajuda a processar grandes volumes de dados de forma rápida e eficiente, identificar oportunidades de investimento, automatizar tarefas e melhorar a tomada de decisões.
De acordo com o estudo da Passthrough, os gestores foram questionados sobre como estão utilizando a IA em suas operações de captação de recursos.
Eles disseram que estão usando IA para análise de dados relacionados às suas campanhas de captação (53%), para realizar a due diligence operacional (51%), personalizar o atendimento a investidores (49%) ou gerar materiais e apresentações, como pitchbooks (46%).
A análise do uso da IA é importante porque revela como a tecnologia está impactando a eficiência das operações dos gestores, ao fornecer insights mais precisos e rápidos sobre o comportamento dos investidores, melhorar a personalização do atendimento e otimizar o processo de captação de recursos.
Além disso, o relatório também pode explorar os desafios e as oportunidades associados ao uso da IA no setor de investimentos, bem como as perspectivas dos gestores sobre o papel cada vez maior da tecnologia na indústria de gestão de fundos.
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Importância do ESG
Nos últimos anos, cresceu a conscientização sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG), com os investidores cada vez mais preocupados com o impacto social e ambiental das empresas em que investem.
Essa mudança de mentalidade está levando muitos deles a priorizar empresas que adotam práticas sustentáveis e responsáveis, e a evitar aquelas que não atendem a esses critérios.
O relatório da Passthrough buscou entender melhor como os gestores de fundos de private equity estão se comportando diante dessa demanda por investimentos que respeitem os princípios ESG.
Apesar de ainda ser um tema politizado, mais de 7 em cada 10 (73%) gestores de fundos e sócios-gerentes afirmam que os investidores veem as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) como uma prioridade maior em seus esforços de captação de recursos agora do que há 12 meses, sendo que mais de um quarto (27%) consideram ESG uma prioridade muito maior.
Entre os fatores apontados está a incorporação de critérios ESG em seus processos de seleção de investimentos, a análise do desempenho ESG das empresas em que pretendem investir, a busca por oportunidades em empresas com boas práticas de ESG e a comunicação transparente com os investidores sobre essas questões.
Além disso, o relatório aponta que os gestores estão elaborando estratégias para melhorar o desempenho ESG de suas carteiras de investimento, incentivando as empresas em que investem a adotar práticas mais sustentáveis e responsáveis.
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Participação de investidores comuns
Um tópico importante abordado pelo relatório é a busca dos gestores por ampliar sua base de investidores, inclusive com a participação de uma categoria que não costuma atuar de forma mais intensa no segmento de private equity: o investidor individual de varejo.
Tradicionalmente, esse tipo de investidor demonstra maior interesse por ações e títulos públicos, mas está crescendo sua participação no mercado de fundos de private equity, inclusive em operações de venture capital.
No relatório, os gestores foram questionados sobre como a participação de investidores de varejo está impactando suas estratégias de captação e como eles estão se adaptando a esse novo perfil de investidores.
Quando se trata das expectativas dos gestores em relação às mudanças em sua base de investidores, um pouco mais da metade (51%) espera que haja mais participação de investidores internacionais, enquanto quase metade (49%) espera um aumento na participação de investidores de varejo. Uma porcentagem similar (48%) espera mais participação de investidores institucionais, mas um pouco menos (45%) espera um aumento na participação de family offices.
A entrada de investidores de varejo pode significar um acesso mais amplo ao capital por parte dos gestores, mas também pode trazer desafios relacionados à educação financeira, transparência e comunicação com um novo tipo de público.
O relatório busca investigar como os gestores estão se aproximando dos investidores individuais, se estão desenvolvendo estratégias específicas para atrair esse público, e como estão garantindo a conformidade regulatória e a proteção dos interesses desse público.
Conclusão
O relatório “State of Fundraising 2023”, da Passthrough, oferece uma visão abrangente sobre o cenário atual e as tendências futuras da captação de recursos para fundos de private equity, mostrando como os gestores do setor estão enfrentando desafios, encontrando oportunidades para inovar e se adaptando às demandas dos investidores.
A incorporação de investidores comuns e a priorização dos critérios ESG representam mudanças significativas no mercado, que estão moldando as estratégias de captação e investimento.
A tecnologia, especialmente a inteligência artificial, está tendo um papel fundamental na busca por eficiência e sucesso nesse setor, mas é necessário que os gestores continuem atentos às mudanças e estejam dispostos a adotar práticas inovadoras para se destacarem no mercado competitivo de captação de recursos.
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