Finalmente, a Selic caiu pela primeira vez desde o início da alta de juros, que começou no primeiro trimestre de 2021, quando a taxa básica estava na mínima histórica de 2%.
Em um dos mais fortes apertos monetários dos últimos tempos, o Banco Central elevou a Selic para o patamar de 13,75%, onde permaneceu por quase um ano.
O objetivo foi controlar a inflação, que atingiu o pico acima de 10% em 2021 e de 6,5% em 2022 e, desde então, vem registrando um forte ritmo de desaceleração. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 3,16%.
Isso acabou dando espaço para que o Banco Central reduzisse a restrição das condições financeiras, iniciando um ciclo de corte de juros que pode acelerar nos próximos meses, de acordo com economistas do mercado.
Especialistas já preveem a possibilidade de cortes mais intensos na Selic, com expectativas de que a taxa básica de juros chegue a 11,25% ou até mesmo a 11% até o fim deste ano, estendendo o movimento para 2024.
Diante disso, qual é o impacto da queda da Selic no crescimento econômico, no câmbio, na inflação e nos setores mais dependentes do crédito?
Neste artigo, vamos explorar por que a Selic caiu e qual o impacto disso na economia, com destaque para o setor de energia, o agronegócio, o mercado imobiliário e a expansão de empresas, principalmente startups.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
Finalmente a Selic caiu; o que esperar a partir de agora?
Como um dos principais instrumentos usados pelo Banco Central para controlar a inflação e influenciar a economia, a taxa Selic tem enorme impacto sobre o crescimento das empresas e os investimentos.
Após o primeiro movimento de queda da taxa básica de juros, que serve de referência para a correção de contratos e outras taxas de remuneração no país, começaram as especulações de onde ela pode terminar no fim do ciclo de flexibilização.
Na última reunião de 2 de agosto, o Banco Central decidiu reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual, chegando a 13,25% ao ano, o que acabou surpreendendo parte do mercado, que esperava um corte menor.
Agora que a Selic caiu, as apostas mudaram, e especialistas já apontam para um ritmo mais forte de distensão, com quedas mais fortes no futuro.
Isso porque, apesar da sinalização do Copom indicando cortes de 0,50% nas próximas reuniões, os juros futuros estão desafiando essa indicação e precificando chances maiores de cortes de 0,75%.
LEIA TAMBÉM: Queda dos juros pela frente? Mercado já prevê taxas menores e PIB maior este ano
Impacto da Selic na economia
A queda da Selic tem impacto direto no custo do crédito para os consumidores e para os esforços de captação e financiamento das empresas.
Como a Selic caiu, as taxas de juros mais baixas tornam o crédito mais acessível e barato, o que pode estimular o consumo e o investimento, principalmente em setores cujo crescimento depende mais de financiamentos, como o varejo e o mercado imobiliário.
Além disso, o controle da inflação é um componente importante para o aumento do poder aquisitivo das famílias, permitindo que destinem uma parcela maior do seu orçamento para o consumo, beneficiando, assim, setores de caráter mais discricionário, como serviços, viagens e lazer.
Com isso, os empresários podem se sentir mais confiantes em realizar investimentos no aumento da capacidade produtiva, elevando a demanda agregada e a geração de empregos, num ciclo virtuoso para toda a economia.
Taxa de câmbio e exportações
Agora que a Selic caiu pela primeira vez em três anos, é preciso observar qual será o impacto do movimento no câmbio, já que o dólar registrou firme alta contra o real no pregão seguinte ao anúncio do Copom, ao subir quase 2%.
Essa valorização da moeda americana pode afetar a economia brasileira, tornando as exportações mais caras e pressionando os preços de importados, o que pode contribuir para a inflação.
Além disso, apesar de o Brasil ter entrado no ciclo de flexibilização, a realidade lá fora é diferente, já que várias regiões do mundo ainda enfrentam níveis elevados de inflação, como a Europa, e os juros encontram-se em patamares elevados, sem perspectiva de queda neste ano, como nos EUA.
Como explica Marcio Paiva, Head de Originação da Bloxs, ecossistema de investimentos alternativos e soluções de acesso ao mercado de capitais para pequenas e médias empresas:
A aversão ao risco no cenário internacional tem influenciado a valorização do dólar em todo o mundo. A recente decisão da agência Fitch de rebaixar o rating soberano dos EUA devido às preocupações com o déficit fiscal do país levou os investidores a buscar ativos mais seguros, impulsionando a demanda pelos títulos americanos, como os Treasuries. Esse cenário contribui para a apreciação do dólar globalmente.
Dessa forma, como a Selic caiu e há perspectiva de novos cortes em um ritmo mais forte do que o projetado inicialmente, a tendência é que o dólar se valorize frente ao real, especialmente diante do cenário de aperto e juros elevados no cenário internacional.
Como a Selic caiu, a diminuição da taxa de juros implica em um juro real mais baixo, o que torna o diferencial de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos menos atrativo para os investidores. Países como os Estados Unidos estão em um momento de aperto monetário para conter a inflação e devem manter juros elevados por mais tempo, o que os torna opções mais interessantes para investidores em comparação com países emergentes como o Brasil.
Mercado imobiliário
Em setores cujo crescimento é mais influenciado pela oferta de crédito, como o mercado imobiliário, a perspectiva é bastante positiva para os próximos trimestres, pois se trata de um setor estratégico para o crescimento econômico.
De acordo com Marcio Paiva, Head de Originação da Bloxs, o setor imobiliário vai sentir uma diminuição da pressão exercida pelos juros elevados nos últimos anos:
Com a redução dos juros, os financiamentos imobiliários ficam mais acessíveis, o que estimula a demanda por imóveis e o crescimento do setor. As parcelas da compra do imóvel ficam mais viáveis e passam a caber no orçamento de mais famílias, aumentando as vendas e, consequentemente, os lançamentos no mercado.
Marcio explica que, agora que a Selic caiu, o setor imobiliário e a construção civil como um todo estão no centro das atenções do governo, por serem grandes geradores de emprego e arrecadadores de impostos, razão pela qual devem receber fortes incentivos nos próximos anos.
A tendência é que vejamos um aumento das concessões de empréstimos, caso o ritmo de queda de juros se intensifique nos próximos meses. Temos uma demanda reprimida bastante forte no setor, principalmente em grandes centros urbanos, regiões que historicamente apresentam grande déficit habitacional e são foco de políticas públicas.
Em relação a investimento, Marcio aponta que podem surgir oportunidades tanto no mercado de crédito privado (dívida) quanto na bolsa de valores, porém, agora que a Selic caiu, as perspectivas mais interessantes estão no investimento direto em projetos específicos.
Construtoras e incorporadoras de pequeno e médio porte enfrentam dificuldades para acessar o mercado de capitais e as linhas tradicionais de crédito, especialmente nas etapas de lançamento e início das obras. Por isso, o investimento direto em projetos específicos nessas áreas pode trazer retornos acima da média nos próximos trimestres.
No entanto, o recuo dos juros de empréstimos e financiamentos não acontece de forma imediata, pois outros elementos influenciam o custo das prestações, como o risco de inadimplência e a política monetária.
Agronegócio
O agronegócio é um dos setores mais dinâmicos da nossa economia e vem sustentando a atividade econômica, mesmo com o forte aperto monetário dos últimos anos, com exportações fortes e grande contribuição para nossa balança comercial.
O crescimento do PIB acima das expectativas no primeiro trimestre deste ano se deve sobretudo à pujança da atividade no campo, já que a agropecuária respondeu por 89% do avanço de 1,9% da produção de riquezas no país no período.
Além disso, o agro tem sido decisivo para os superávits da nossa balança comercial nos últimos anos, graças ao bom desempenho de produtos da lavoura com safra relevante e, principalmente, à produtividade.
Agora que a Selic caiu e a taxa de câmbio parece favorecer a alta do dólar, qual é a perspectiva para o setor?
De acordo com Marcio Paiva, Head de Originação da Bloxs:
O agro brasileiro é um grande exportador e, por isso, uma eventual valorização do dólar no mundo pode acabar favorecendo nossas remessas para o exterior e impulsionar ainda mais o crescimento do setor, principalmente se tivermos uma inflação controlada por aqui e juros mais baixos. Isso deve incentivar o consumo de proteína animal no cardápio das famílias e, consequentemente, impulsionar os resultados das empresas do setor.
Em relação a investimentos, Marcio também vê oportunidades no mercado de dívida e bolsa de valores agora que a Selic caiu, destacando que, no entanto, pequenos e médios produtores estão buscando cada vez mais diversificar seu mix de crédito, em razão da escassez de recursos subsidiados.
A participação dos juros de mercado está aumentando na composição de crédito do pequeno e médio produtor, e sabemos que essas taxas não são baratas. Por isso, podemos ver um movimento mais amplo de operações no mercado de capitais, que costumam ser relativamente mais baratas do que as linhas tradicionais de financiamento de mercado.
Energia
Outro setor estratégico para o crescimento econômico do país é o de energia, principalmente o de novas fontes de energias renováveis, que estão no centro do debate mundial nos últimos anos.
Por aqui, o que vimos foi um avanço expressivo da energia solar e eólica, com destaque para a primeira, graças aos incentivos à geração distribuída, que é a produção de energia descentralizada e mais perto das unidades consumidoras.
Marcio Paiva, da Bloxs, explica que a energia solar já é hoje a segunda fonte mais importante da nossa matriz elétrica, respondendo por quase 15%, ou 32.017 MW, da capacidade instalada.
Em termos de investimento, a energia solar, de fato, vem se destacando, e agora que a Selic caiu, é possível que o setor encontre condições mais favoráveis de financiamento, com juros mais baixos e prazos mais alongados, contribuindo para a expansão do setor.
Na visão de Marcio, os esforços de captação fora das linhas tradicionais de crédito das empresas também devem ser beneficiados agora que a Selic caiu, tanto na modalidade dívida (empréstimo) quanto equity (participação societária em projetos), atraindo investidores em busca de diversificação de renda e segurança.
Os projetos de energia solar combinam o melhor de dois mundos para os investidores: crescimento e segurança, proporcionando tanto ganhos de capital, com a valorização dos ativos, quanto diversificação de renda, com a participação nos resultados dos empreendimentos.
Por fim, Marcio explica que a demanda de energia ainda é alta no país, especialmente devido à nossa grande dependência a hidrelétricas, o que torna o preço das tarifas suscetível a aumentos abruptos em razão da mudança do regime de chuvas nos últimos anos, com períodos de estiagem mais recorrentes.
Nenhuma empresa deseja ficar refém dessa instabilidade no sistema cativo e, por isso, estamos vendo um crescimento expressivo do investimento em geração remota por meio de usinas fotovoltaicas como uma opção acessível de redução de custos com energia.
Startups
Não é segredo que o cenário de juros elevados tem impacto direto sobre os esforços de captação de recursos de empresas em estágios iniciais de desenvolvimento e que, por isso, levam mais tempo para entregar resultados aos investidores.
Agora que a Selic caiu e tende a acelerar o ritmo de queda nos próximos trimestres, a expectativa é que o ambiente de investimento em startups brasileiras retome força e permita que novas companhias se desenvolvam com custo de capital menor.
Segundo Marcio Paiva, da Bloxs:
É inegável que o aumento de juros gera uma competição por recursos e aumenta a aversão ao risco dos investidores, ao desfavorecer o cenário de crescimento. As empresas que ainda estão validando seus modelos de negócio ou estão no início do seu ciclo de desenvolvimento sofrem nesse ambiente, mas agora que a Selic caiu, a expectativa é que vejamos uma melhora no segmento, com o interesse maior dos investidores.
Se você gostou deste conteúdo e deseja saber mais sobre tudo o que acontece de mais importante no mundo dos investimentos alternativos, não deixe de se cadastrar gratuitamente em nossa plataforma para receber nossas newsletters semanais.