A queda dos juros já começa a entrar nas projeções do mercado no segundo semestre deste ano, diante do contínuo processo de desinflação, do avanço do arcabouço fiscal e da expectativa de menor crescimento mundial.
Ainda assim, a sondagem feita pelo Banco Central com agentes do mercado mostra que a taxa de juros deve encerrar o ano em níveis ainda bastante restritivos, dificultando uma retomada mais vigorosa da atividade econômica e do mercado de crédito.
O último boletim Focus divulgado pela instituição revela que as expectativas de inflação estão caindo e as previsões do PIB estão melhorando, mas a taxa Selic projetada para o fim do ano segue na faixa de 12,50%.
Diante desse cenário, os empresários já podem tirar do papel seus planos de investimento, expansão e projetos de longo prazo?
Quais seriam as melhores alternativas de crédito e captação de recursos, agora que devemos entrar em um ciclo de queda dos juros?
Para responder a essas e outras dúvidas e traçar o atual cenário de captação e financiamento das empresas no país, elaboramos este artigo especial, que abordará os seguintes tópicos:
- Desinflação, economia fraca e crise no crédito estimulam queda do juros
- Desafios para a queda dos juros
- Arcabouço fiscal pode ajudar na queda dos juros
- Pressão política por queda dos juros gera instabilidade nos mercados
- Queda dos juros abre espaço para crescimento dos negócios
- Redução dos custos financeiros
- Considerações importantes
Desinflação, economia fraca e crise no crédito estimulam queda do juros
A inflação acumulada em 12 meses recuou para 4,18% em abril de 2023, bem abaixo do patamar de 12,1% que atingiu em abril do ano passado e que levou o Banco Central a realizar um forte aperto nas condições financeiras.
Em resposta à aceleração da inflação no período pós-pandemia, agravada pela crise hídrica e a instabilidade política, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu realizar um dos mais agressivos aumentos de juros recentes.
A Selic, que tem papel fundamental na alocação de recursos na economia, saiu da mínima histórica de 2% no início de 2021 e, após 12 aumentos consecutivos, atingiu o patamar de 13,75%, onde permanece desde setembro de 2022.
Essa pausa na elevação dos juros foi vista como uma oportunidade para aliviar a pressão sobre o mercado de crédito, que vinha sofrendo com o aumento do risco de inadimplência e de calote das empresas e dos consumidores.
A crise da Americanas, uma das maiores varejistas do país, que enfrenta dificuldades para pagar suas dívidas e renegociar compromissos com credores, foi um dos fatores que acenderam o alerta sobre a saúde financeira das empresas brasileiras.
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Esse quadro foi agravado pela desaceleração da economia brasileira a partir do segundo semestre de 2022, quando os efeitos da alta de juros começaram a ser sentidos pelos agentes econômicos.
Segundo o IBGE, o PIB do Brasil avançou 2,9% no ano passado, mas registrou queda de 0,2% no quarto trimestre, interrompendo uma sequência de cinco trimestres positivos, o que já era esperado por muitos analistas, que apontavam fatores externos e internos como causas para o menor ritmo de crescimento.
Entre os fatores externos que influenciaram a desaceleração, destacam-se a perda de força da economia mundial, especialmente da China, principal parceira comercial do Brasil, e a alta dos juros nos mercados desenvolvidos, que provocou uma fuga de capitais dos países emergentes e uma pressão sobre o câmbio. O dólar chegou a encostar nos R$ 6,00 ao longo do ano, afetando os custos de produção e os preços ao consumidor.
Já entre os fatores internos, pesaram a inflação elevada, que corroeu o poder de compra das famílias e reduziu a demanda por bens e serviços, e a política monetária restritiva, que elevou a taxa básica de juros para 13,75% ao ano, encarecendo o crédito e desestimulando os investimentos.
Por fim, tampouco ajudou a turbulência no cenário político-eleitoral, que trouxe incertezas e volatilidade para os ativos financeiros e a expectativa dos agentes econômicos.
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Desafios para a queda dos juros
Alguns economistas preveem que o Banco Central pode antecipar a queda da Selic já no início do segundo semestre de 2023, diante do cenário de desaceleração da atividade econômica e de melhora das expectativas inflacionárias.
Uma redução dos juros poderia estimular a oferta e a demanda por crédito no país, facilitando o acesso das empresas aos recursos necessários para financiar suas operações, investir em projetos e gerar empregos.
No entanto, ainda existem desafios para que os juros caiam mais no país, como a inflação ainda elevada no resto do mundo, uma trajetória fiscal que não leve à sustentabilidade da dívida ou um novo aumento das expectativas inflacionárias.
Mesmo considerando as projeções do mercado de queda de inflação para 5,71% no final deste ano, os preços continuariam acima da meta estabelecida pelo Banco Central, reduzindo o espaço para a queda dos juros.
Arcabouço fiscal pode ajudar na queda dos juros
No front fiscal, o aumento do déficit e da dívida pública em relação ao PIB faz com que o governo precise se financiar no mercado pagando juros mais altos e gerando concorrência desleal com outros agentes econômicos que também precisam se financiar no mercado.
Nesse sentido, é fundamental que o novo arcabouço fiscal consiga estabilizar a relação dívida/PIB, com o governo atingindo superávits primários nos próximos anos, a fim de abrir espaço para a queda dos juros e a retomada da economia, sem pressionar os preços.
Pressão política por queda dos juros gera instabilidade nos mercados
Outro grande desafio para uma queda dos juros consistente é a pressão política que o atual governo vem exercendo sobre o Banco Central para que este baixe a taxa Selic, diante da queda da inflação no último ano.
É preciso lembrar, porém, que uma queda forçada ou precipitada da Selic poderia comprometer a credibilidade do Banco Central e gerar desconfiança nos agentes econômicos, levando a uma fuga de capitais, à desvalorização do câmbio e a uma nova aceleração da inflação.
Como bem afirma Ricardo Rocha, economista e professor do Isper, em entrevista à Bloxs:
Há uma pressão muito grande em cima do banco central para que ele inicie uma redução da taxa de juros. Do outro lado, o BC, olhando os núcleos de inflação, ainda tem muita incerteza e, com isso, vem mantendo a taxa de juros no mesmo patamar.
Ricardo explica ainda que, se ocorrer um corte antecipado da taxa de juros, dependendo da justificativa apresentada na ata da reunião do Copom, a curva de juros futuros na B3 pode ser influenciada para baixo, aumentando a propensão marginal dos bancos a emprestar.
Nesse cenário, o volume de recursos que os bancos teriam disponibilidade aumenta, pois, com uma taxa de juro menor, há um incentivo para que pessoas tomem crédito e aumentem a demanda por financiamento, como carros e imóveis.
Cabe ressaltar ainda que a queda dos juros não seria suficiente para resolver os problemas estruturais da economia brasileira, que depende de reformas fiscais e administrativas para retomar o crescimento sustentável.
De fato, a queda dos juros tem um impacto significativo na economia e no mercado de crédito, afetando diretamente as empresas e suas estratégias financeiras.
Queda dos juros abre espaço para crescimento dos negócios
Caso o ciclo de queda dos juros realmente se inicie a partir do segundo semestre do ano, a expectativa é que as empresas tenham melhores condições de investir em expansão, inovação, aquisições ou projetos de longo prazo.
A queda dos juros também estimula o consumo e impulsiona a demanda por produtos e serviços, permitindo que as empresas ampliem sua base de clientes e aumentem suas receitas.
Segundo Ricardo Rocha, em entrevista à Bloxs:
A queda de juros incentiva a retomada da economia, mas não isoladamente. É preciso que haja também equilíbrio fiscal, uma reforma tributária que não aumente a carga sobre as empresas e a disposição do consumidor em contratar crédito.
Entre os outros benefícios de uma taxa de juros menor na economia, podemos citar
Redução dos custos financeiros
A diminuição dos juros também reduz os custos financeiros das empresas, especialmente em relação a empréstimos e financiamentos. Com taxas mais baixas, as empresas podem renegociar dívidas, otimizar seu fluxo de caixa e direcionar recursos para investimentos estratégicos. Isso fortalece a saúde financeira das empresas e melhora sua capacidade de investimento e crescimento.
Considerações importantes
Apesar das oportunidades, os empresários devem estar atentos a algumas considerações importantes. É essencial gerenciar a exposição a riscos financeiros, como a volatilidade das taxas de câmbio e a possibilidade de aumento dos juros no futuro. Além disso, é importante ter uma gestão financeira sólida, planejar cuidadosamente os investimentos e buscar orientação especializada para aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas pela queda dos juros.
Dessa forma, a perspectiva de queda dos juros traz oportunidades significativas para os empresários, tanto em termos de acesso a crédito mais barato quanto na redução dos custos financeiros.
No entanto, é fundamental que os empresários estejam preparados para enfrentar os desafios e considerem cuidadosamente suas estratégias financeiras. Aqueles que souberem aproveitar adequadamente essa mudança no ambiente econômico poderão impulsionar o crescimento de seus negócios e obter resultados positivos em longo prazo.
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