A fraude na Americanas mostra claramente as graves consequências que um gestão irresponsável pode ter para empresas não só de capital aberto, mas também aquelas que desejam acessar o mercado de capitais.
Um relatório elaborado por assessores jurídicos que acompanham a varejista desde que ela entrou em recuperação judicial aponta que seus diretores anteriores vinham fraudando sistematicamente seus balanços.
Em um dos maiores escândalos corporativos da história do país, a Americanas admitiu “inconsistências contábeis” no valor aproximado de R$ 20 bilhões cinco meses depois de o caso vir à tona.
A fraude consistia em inflar os resultados financeiros por meio de contratos fictícios com fornecedores e tomada de empréstimos irregulares, que não eram devidamente refletidos nos números da companhia ao mercado.
Esse caso tem repercussão não só para a reputação da companhia e seus diretores, como também para o setor como um todo, gerando desconfiança sobre outras companhias que desejam ter acesso a capital nas linhas tradicionais de crédito ou no mercado financeiro.
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Neste artigo, vamos entender melhor o que foi a fraude na Americanas e como o caso pode servir de aprendizado para empreendedores que desejam alavancar seus negócios junto a investidores.
Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
Surgem novas revelações sobre a fraude na Americanas
A Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil, admitiu que houve fraude contábil em seus resultados financeiros, cinco meses após o caso vir à tona e surpreender o mercado.
Um relatório elaborado por assessores jurídicos que acompanham a empresa em recuperação judicial revelou que suas demonstrações financeiras vinham sendo sistematicamente fraudadas pela diretoria anterior.
De acordo com informações da Folha de S. Paulo, a fraude envolvia a suposta contratação de bônus junto à indústria, em que o nome do fabricante aparecia em campanhas da Americanas, gerando descontos fictícios que melhoravam o balanço da empresa.
Para cumprir os pagamentos aos fornecedores, os antigos diretores contrataram empréstimos sem o conhecimento do conselho de administração, aumentando, assim, o passivo de forma irregular.
A estimativa é que a fraude na Americanas tenha atingido o montante de aproximadamente R$ 21,7 bilhões em setembro de 2022, com lançamentos contábeis irregulares que reduziram a conta de fornecedores em R$ 17,7 bilhões.
Ainda de acordo com o jornal, foram identificados lançamentos de juros sobre operações financeiras no valor de R$ 3,6 bilhões.
Entre os diretores envolvidos no escândalo estaria o próprio CEO da companhia à época, Miguel Gutierrez, que permaneceu no comando da varejista por 20 anos até deixar o cargo no fim do ano passado, juntamente com outros diretores e executivos.
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Relatório aponta detalhes da fraude na Americanas
Segundo uma reportagem do Valor Econômico, a fraude na Americanas consistia em criar contratos falsos de verba de propaganda cooperada (VPC), a fim de melhorar seus resultados financeiros.
Segundo um relatório apresentado durante a CPI da Americanas, a empresa utilizava esses contratos fictícios para registrar descontos que não ocorriam de fato, melhorando artificialmente seu balanço.
A prática consistia em incluir o nome de fabricantes em suas campanhas de marketing, recebendo supostos descontos na compra de produtos. No entanto, esses descontos não eram reais, mas sim lançamentos contábeis que reduziam a conta de fornecedores, melhorando os indicadores financeiros da empresa.
Tais desvios contábeis foram cometidos por um longo período de tempo e chegaram a atingir o saldo aproximado de R$ 21,7 bilhões no fim do ano passado.
As contrapartidas contábeis desses contratos fictícios foram lançadas principalmente como redução da conta de fornecedores, totalizando aproximadamente R$ 17,7 bilhões. A diferença de R$ 4 bilhões foi registrada em outras contas do ativo da companhia.
Essas práticas fraudulentas foram descobertas pela nova administração da Americanas durante uma análise interna após a empresa entrar em recuperação judicial. O objetivo era inflar artificialmente os resultados financeiros e melhorar a aparência da empresa para investidores e acionistas.
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“Um caso clássico de fraude, com repercussões para todo o setor”
Especialistas apontam que a fraude na Americanas representa um “caso clássico” de desvio contábil, que há muito tempo é acompanhado com atenção pelas empresas de auditoria.
O uso de contratos fictícios de propaganda para melhorar os resultados operacionais é considerado um instrumento comum no varejo. Em entrevista ao jornal O Globo, André Pimentel, sócio da Performa Partners, afirma que esse instrumento é bastante utilizado no segmento e pode se tornar uma fonte grave de inconsistência contábil.
As contrapartidas desses contratos de VPC no balanço “não tiveram lastro financeiro associado” e foram em sua maior parte lançados como “redutores da conta de fornecedores”, segundo a reportagem.
Na visão de Antônio Mazzucco, do escritório Mazzucco e Mello, “trata-se de um caso clássico de fraude, com repercussões para todo o setor”. Entre os outros pontos levantados pelo jornal, destacam-se:
- Longa duração: apesar de não ter sido apontado um prazo específico no relatório recém-apresentado, a atual diretoria acredita que a fraude na Americanas ocorreu por “um período significativo”.
- Ex-diretores beneficiados: de acordo com especialistas ouvidos pelo jornal, os maiores beneficiários da fraude na Americanas teriam sido justamente os membros do conselho de administração da companhia.
- Desdobramentos: o relatório assinado pelas Americanas afirma que os membros da diretoria estatutária da companhia foram os responsáveis pela fraude e serão responsabilizados judicialmente pelo caso.
- Outras inconsistências: foram identificadas ainda outras movimentações de mais R$ 2,2 bilhões em operações de capital de giro mal classificadas.
- Esquema conhecido: a operação de risco-sacado, ou forfait, que deu origem ao escândalo envolvendo a Americanas em janeiro, também aparece no fato relevante citada como fraude de R$ 18,4 bilhões.
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Lições da fraude na Americanas para empresários
Esse caso envolvendo uma das maiores empresas do ramo varejista do país traz lições importantes para empresários que desejam expandir seus negócios e ter acesso ao mercado de capitais.
A fraude ocorrida na Americanas é um caso emblemático de como a má gestão e a falta de transparência podem prejudicar os investidores e o mercado financeiro como um todo, além de levantar dúvidas sobre a solidez e a idoneidade de outras empresas que nada tinham a ver com o caso.
São várias as lições que podem ser extraídas desse triste episódio corporativo.
Importância da gestão ética e responsável
Para os empresários que desejam captar recursos no mercado financeiro ou contratar empréstimos nas linhas tradicionais de crédito, é fundamental ter uma gestão ética, transparente e responsável, que respeite as normas contábeis e societárias e que preste contas aos acionistas e aos órgãos reguladores.
Impacto na reputação da empresa e dos diretores
A fraude na Americanas é exemplo típico de caso que, apesar dos benefícios momentâneos, cedo ou tarde será descoberto e trará consequências graves para a reputação, a credibilidade e a sustentabilidade do negócio.
Mas não é apenas a empresa que sai prejudicada de episódios como esse: seus diretores podem ficar marcados para sempre pela gestão fraudulenta e ainda serem responsabilizados judicialmente pelos crimes cometidos.
Ou seja, os efeitos são de longo prazo e podem mesmo perdurar por toda a vida dos envolvidos.
Inviabilidade do negócio
Dependendo da extensão das inconsistências e da fraude, é possível que o negócio como um todo seja inviabilizado, fechando as portas do mercado financeiro e das linhas de crédito, além de afastar fornecedores e talentos.
Dessa forma, o trabalho de uma vida inteira pode ser simplesmente jogado por terra, trazendo malefícios inclusive para o setor de atuação da companhia, dependendo do seu porte.
Para os pequenos e médios empresários que desejam alavancar seus negócios com a entrada de novos investidores, é importante destacar que a gestão irresponsável pode ter consequências igualmente danosas, não apenas para a companhia, mas também para os seus diretores.
Para os investidores, é importante estar atento aos sinais de alerta que podem indicar problemas na empresa investida. Entre os sinais de alerta, podemos citar:
- mudanças frequentes na diretoria ou na auditoria externa;
- divergências entre o fluxo de caixa e o lucro líquido;
- aumento excessivo das contas a receber ou dos estoques;
- dívidas elevadas ou mal explicadas, entre outros.
A fraude na Americanas foi um golpe duro para o mercado financeiro brasileiro, mas também uma oportunidade de aprendizado e de melhoria das práticas de governança corporativa. Todos esperam que casos como esse sejam cada vez mais raros e que sejam punidos com rigor pela Justiça.
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