É algo inegável que investimentos de alta qualidade para o longo prazo são algo difícil de se encontrar. Porém, como defende Charlie Munger, o uso e conhecimento variado de modelos mentais pode ser algo extremamente útil no objetivo de encurtar esse tipo de caminho.
Definindo o que deve ser observado inicialmente nas análises que levam à decisões de investimento, o “Three Legged Stool” (Banquinho de Três Pernas, em tradução livre) é um modelo mental criado por Chuck Akre, value investor reconhecido pelos resultados da gestora que carrega o seu sobrenome: a Akre Capital Management.
Longe dos holofotes de Wall Street e baseado no estado da Virgínia, Chuck trabalha com o seu time na procura de empresas que sejam verdadeiras máquinas de crescimento apresentadas pelo mercado a preços atrativos, negócios raros que contribuíram para o longo histórico positivo do megainvestidor.
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“Eu costumo questionar: o que você preferia ter, 750 mil dólares hoje ou o resultado proporcionado por um mísero dólar dobrando uma vez por dia por 30 dias? Compor o nosso capital é o que buscamos e o que significa um bom investimento para nós. Qual o valor de compor capital? Bem, a resposta para essa questão é simplesmente surpreendente.”
Chuck Akre
De 2009 a 2019, os principais fundos da casa entregaram um retorno anual composto próximo de 17%, ante 13,5% do S&P 500. E bem, o resultado de um dólar multiplicando por dois durante 30 dias é nada menos do que 1 bilhão de dólares, o que justifica a busca incessante de Akre pelas três pernas que sustentam o banquinho das melhores empresas para se investir:
- Qualidade do negócio
A “primeira perna” representa o fator qualidade procurado pela Akre Capital. Assim, Chuck procura por negócios que conseguem comprovar esse ponto imprimindo alta rentabilidade sobre o capital investido.
Segundo ele, negócios de alto retorno possuem algo especial que permite com que eles assumam essa característica. Isso pode ser fruto de propriedade intelectual, escala, vantagens regulatórias, altos custos de troca para os clientes ou algum tipo de efeito de rede.
Além de precisar possuir alguns desses fatores em conjunto, o investidor deve lembrar que a decisão de investir nesses negócios só tende a fazer sentido quando é plausível pensar que eles devem seguir ou até ampliar essas vantagens competitivas ao longo do tempo.
Portanto, cabe uma reflexão para além de apenas monitorar os números de ROE e ROIC sem entender o que explica esse panorama, que serve apenas como uma fotografia.
- Talento dos executivos
A segunda base de sustentação dos grandes investimentos praticados por Chuck Akre são as pessoas que tocam esses grandes negócios, um fator que complementa a base inicial e cria uma composição quase perfeita para qualquer empresa: ter um ótimo modelo de negócios com pessoas que saibam amplificar ainda mais essa atratividade.
De maneira geral, bons executivos possuem um histórico de sucesso, são orientados pelos interesses dos acionistas e capazes de alocar capital. Para Akre, outro diferencial sutil dos ótimos executivos é o seu olhar no que ainda precisa ser corrigido, característica daqueles que não desperdiçam a atenção com as oscilações de curto prazo das ações na bolsa de valores.
Sobre essa “segunda perna” do banquinho que sustenta os melhores investimentos, Chris Cerrone, sócio de Chuck da Akre Capital, complementa da seguinte forma:
“A maioria dos acionistas são anônimos para os executivos. Mesmo assim, eles sentem obrigação de tratar esses acionistas de forma justa? Nós observamos o tamanho dos pagamentos e os incentivos que acionam bônus em dinheiro ou participação. Amamos encontrar executivos que possuem a pele em risco com propriedade de ações.”
- Grandes oportunidades de reinvestimento
Para Chuck, Chris e os demais sócios da Akre Capital Management, até mesmo os ótimos negócios tocados por excelentes executivos não conseguem atingir o status de perfeição quando essa última característica não é preenchida.
Acrescentando um ótimo ponto ao tema, outro sócio da Akre, Tom Sabartahagen, manifestou a preocupação com decisões pouco atrativas das empresas no que tange a alocação de capital:
“Comumente descobrimos que bons executivos se tornam vítimas de pensamentos confusos em relação à alocação de capital. Um exemplo comum que encontramos é o pagamento de dividendos somente para atrair uma maior base de acionistas. Essa decisão deveria vir de uma cuidadosa análise de alternativas de reinvestimento.”
Finalizando a construção do “Banquinho de Três Pernas” que explica a substância dos ótimos negócios procurados incessantemente pela Akre Capital Management, temos uma explicação bastante simples:
Ótimos modelos de negócios tocados por excelentes executivos são uma máquina de produção de resultado, mas o resultado só pode ter um efeito multiplicador caso exista mercado com potencial para que o excesso de caixa gerado possa ser investido com alta atratividade.