Se você observar atentamente a imagem acima, uma conclusão salta aos olhos: operações atreladas ao IPCA oferecem spreads significativamente maiores do que aquelas indexadas ao DI . Mas o que isso revela, de fato, sobre o estado atual do mercado?
Em uma palavra: expectativa.
Por que IPCA+ exige mais?
O prêmio adicional exigido em operações indexadas ao IPCA não se explica apenas pelo risco de crédito. Ele reflete três fatores principais:
- Proteção inflacionária como prioridade
Mesmo com as projeções de inflação para 2025 ligeiramente acima da meta — entre 5,18% e 5,24% versus a meta de 4,5% — os investidores não estão convencidos de que o problema esteja controlado. A inflação elevada penaliza o retorno real, e, em títulos IPCA+, o spread adicional (o “+X%” no IPCA+X%) funciona como um hedge embutido.
Imóveis e contratos indexados à inflação valorizam nominalmente em ambientes inflacionários. Por isso, operações IPCA+ são vistas como proteção natural, e o mercado exige um prêmio adicional para acessar essa segurança relativa.
- Prêmio de risco por crédito e liquidez
CRIs, CRAs e debêntures indexados ao IPCA geralmente envolvem maior risco de crédito e menor liquidez. Sem a proteção do FGC (como nos CDBs), esses papéis precisam compensar o investidor via spread maior.
Além disso, investidores institucionais demandam retornos reais expressivos: enquanto um Tesouro IPCA+ pode entregar IPCA+6% a IPCA+6,5% (líquido de imposto), operações privadas como CRIs de MCMV chegam a IPCA+5% (nominal de 11%-12%) e operações para PMEs superam IPCA+8% — evidenciando a busca por prêmio de risco significativo.
- Custo de Oportunidade Elevado
Com uma Selic projetada em 15% para o final de 2025, o retorno de papéis DI-indexados torna-se quase “automático”. O investidor já recebe uma remuneração robusta apenas com a taxa básica. Logo, alocar em operações IPCA+ significa abrir mão desse retorno certo — e o spread adicional funciona como compensação direta a esse custo de oportunidade.
E por que o spread no DI continua baixo?
Simples: a Selic alta basta.
Com taxa real estimada em cerca de 9,8% ao ano, o investidor não precisa exigir spreads adicionais agressivos nas operações indexadas ao DI. A própria remuneração do indexador cobre as expectativas de retorno, favorecendo instrumentos como LCIs, LCAs e debêntures atreladas ao DI, que cresceram significativamente em volume nos últimos trimestres.
No gráfico, vemos essa realidade: volumes relevantes concentrados em operações DI com spreads baixos — simplesmente porque o “prêmio” do DI já é suficiente.
Entre Inflação e Juros: O Equilíbrio do Mercado
O cenário atual resume-se a um equilíbrio precário:
- Selic estruturalmente elevada — tornando títulos DI automaticamente atrativos.
- Inflação resistente acima da meta — mantendo a necessidade de proteção IPCA+.
Nesse contexto, investidores seguem divididos:
- Alguns aceitam a Selic alta como “porto seguro”, capturando retornos absolutos robustos.
- Outros apostam na inflação persistente e buscam proteção adicional via papéis IPCA+, mesmo pagando o prêmio de spread.
Ambos os grupos estão corretos dentro de suas estratégias. O gráfico apenas materializa esse dilema.
Oportunidades Para o Investidor Sofisticado
Para quem atua no middle market — financiando pequenas e médias empresas via estruturas como CRIs, CRAs e FIDCs — este ambiente cria oportunidades únicas:
- Operações IPCA+ podem render entre 14% e 18% ao ano em emissões privadas, especialmente junto a incorporadoras fora do mainstream, ainda carentes de funding tradicional.
- Papéis DI continuam atrativos para quem prioriza segurança e liquidez, mesmo com spreads mínimos.
Portanto, compreender essa separação visual entre DI e IPCA não é apenas análise gráfica. É leitura de mercado.
Quem entende o racional por trás dos spreads entende onde está o risco — e onde estão as oportunidades.