As ações do agronegócio na bolsa de valores brasileira seguiram a tendência de queda do mercado mais amplo no último ano, mas o setor deve continuar sendo um dos protagonistas da nossa economia e das nossas exportações.
Essa é a visão do economista e professor do Insper, Alexandre Jorge Chaia, para quem o cenário operacional para as empresas do agro segue positivo e com demanda aquecida.
Em entrevista à Bloxs, Chaia explicou que, apesar da sua força e representatividade em nossa economia, o agronegócio não está imune a eventos macro mais abrangentes, como o aumento da inflação e dos juros.
Além disso, segundo o economista, uma das explicações para o baixo desempenho das ações do agronegócio na bolsa de valores foi o aumento dos custos de produção, como insumos e máquinas, a quebra de safra, a elevação dos preços logísticos e também persistentes os transtornos nas cadeias globais de suprimentos.
O professor do Insper, no entanto, acredita que as principais ações do agro na B3 tendem a se recuperar forte nos próximos anos, especialmente com o aquecimento da demanda global e a retomada da China.
No artigo de hoje, vamos entender melhor as visões de Alexandre Jorge Chaia sobre o desempenho das ações ligadas ao agro na B3 e por que estamos vivendo um bom momento para investir no setor, especialmente em projetos da economia real.
Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
Depois de um ano espetacular, agro passa por correção em 2022
Após um ano espetacular em 2021, quando o agronegócio representou mais de um quarto do PIB nacional e respondeu por grande parte das nossas exportações, 2022 foi um ano de correção, não apenas dos papéis do setor, mas também do mercado mais amplo.
De acordo com dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea), o PIB do agronegócio brasileiro registrou uma contração de 4,22% em 2022 e também reduziu sua participação na economia, caindo para 24,8%, contra mais de 26,5% em 2021.
O que explica essa “correção”, na visão do economista e professor do Insper, Jorge Chaia, foi a disparada da inflação, que atingiu em cheio os produtos e elevou enormemente sua base de custos, especialmente com o aumento dos preços de insumos, máquinas, fertilizantes, mão de obra, entre outros.
Além disso, tivemos um ano de quebra de safra, excesso de chuvas e aumento de juros, o que acabou afetando a receita dos produtores e dificultando suas fontes de financiamento.
Chaia explica que o agronegócio vinha de um bom ano, em 2021, quando houve um forte aumento das commodities no mercado internacional, aliado à desvalorização da moeda brasileira, o que acabou contribuindo com a competitividade dos produtos nacionais e para os resultados extraordinários que o setor obteve naquele ano.
Os preços mais altos, a demanda aquecida e a desvalorização cambial contribuíram para os resultados das empresas do setor, especialmente para as ações do agronegócio na bolsa de valores. O aumento da inflação, no entanto, acabou prejudicando o cenário no ano seguinte, agravado pelo intenso ciclo de normalização de juros nas principais economias.
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Principais ações do agronegócio na bolsa de valores
De fato, a pressão maior dos preços sobre as margens dos produtores e a restrição das condições de crédito tiveram um duplo efeito negativo sobre os resultados das empresas e das ações do agronegócio na bolsa de valores, na medida em que houve uma queda de receita, conjugada com uma dificuldade maior em captar recursos junto a investidores no mercado de capitais.
Entre as principais ações do agronegócio na bolsa que enfrentaram grandes desafios nesse cenário, podemos citar:
- BRF (BRFS3) – produção e processamento de proteína animal;
- JBS (JBSS3) – produção e processamento de proteína animal;
- Minerva Foods (BEEF3) – produção e exportação de carne bovina;
- Marfrig (MRFG3) – produção e exportação de carne bovina;
- Cosan (CSAN3) – produção e distribuição de açúcar, etanol e energia;
- Raízen (RAIZ4) – produção e distribuição de açúcar, etanol e energia;
- São Martinho (SMTO3) – produção e processamento de cana-de-açúcar;
- Tereos Internacional (TERI3) – produção e processamento de cana-de-açúcar;
- SLC Agrícola (SLCE3) – produção e exportação de commodities agrícolas, como soja, milho e algodão;
- BrasilAgro (AGRO3) – produção e comercialização de produtos agrícolas, como soja, milho e algodão;
- AgroGalaxy (AGXY3) – fornecimento de insumos agrícolas, como sementes, fertilizantes e defensivos;
- Terra Santa Agro (TESA3) – produção e comercialização de produtos agrícolas, como soja, milho e algodão;
- Camil Alimentos (CAML3) – produção e comercialização de alimentos, como arroz, feijão e açúcar.
“As grandes empresas de proteína animal (BRF, JBS, Minerva, Marfrig) não estão com performance tão boa por conta da desaceleração do consumo na China”, explica o Jorge Chaia.
As ações da JBS, por exemplo, perderam quase metade do seu valor no último ano, como mostra o gráfico a seguir:
Chaia explica ainda que as empresas do agro têm receita recorrente, graças à demanda estável por grãos e produtos pecuários, mas as oscilações cambiais, principalmente com a queda do dólar, podem acabar afetando o desempenho das ações do agronegócio na bolsa de valores.
A queda do dólar pode afetar a receita dessas empresas com exportações, mas o cenário operacional ainda é positivo, pois a demanda continua aquecida. A retomada econômica da China pode dar um impulso a mais para essas ações.
Variação cambial e efeito sobre a receita das empresas exportadoras
A variação cambial, ou seja, a mudança na relação entre o dólar e o real, pode afetar a receita das empresas do agronegócio listadas de diversas maneiras, dependendo do segmento de atuação de cada uma. De forma geral, as variações cambiais podem afetar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, uma vez que a cotação do dólar em relação ao real influencia o preço das commodities exportadas.
No caso das empresas de proteína animal, por exemplo, uma valorização do dólar em relação ao real pode ser benéfica para as exportações, pois torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. Isso ocorre porque a valorização do dólar torna o preço em reais dos produtos exportados mais baratos para os compradores estrangeiros. Por outro lado, a desvalorização do dólar em relação ao real pode prejudicar as exportações, uma vez que torna os produtos brasileiros mais caros em dólar, reduzindo a competitividade no mercado internacional.
Já no caso das empresas de commodities agrícolas, como soja, milho e algodão, a valorização do dólar pode impulsionar as exportações, pois torna os produtos brasileiros mais competitivos em relação aos de outros países. Isso ocorre porque a valorização do dólar em relação ao real aumenta o poder de compra das moedas estrangeiras para a aquisição desses produtos. Por outro lado, a desvalorização do dólar pode prejudicar as exportações, pois torna os produtos brasileiros mais caros em moeda estrangeira, reduzindo a demanda internacional.
Perspectivas para o futuro seguem positivas
Apesar do cenário desafiador visto no último ano, a expectativa é que, daqui para frente, o agro volte a ganhar espaço dentro do PIB nacional e contribuindo para os saldos positivos da nossa balança comercial.
O setor é um dos preferidos dos investidores, por ser considerado defensivo e apresentar níveis adequados de rentabilidade e valorização de capital.
No entanto, obstáculos como a inflação e o juros podem acabar afetando o desempenho das companhias do campo, especialmente em seus esforços de levantamento de capital e investimento em novos projetos.
Em conclusão, podemos dizer que, enquanto a fase de aperto monetário do Banco Central não for revertida, as ações do agronegócio na bolsa de valores tendem a seguir o desempenho do mercado mais amplo, com grande volatilidade e maior risco para os dividendos.
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