Fiagro-FIDC ou CRA: qual é o melhor crédito para o agronegócio? A demanda de crédito agropecuário cresceu nos últimos anos, à medida que o setor aumentou sua importância no PIB e nas exportações do país.
Diante da escassez do crédito com taxas controladas e dos elevados juros de mercado, os produtores rurais viram no mercado de capitais uma alternativa relativamente mais acessível para fazer captações recorrentes.
Nesse sentido, é preciso fortalecer os mecanismos de acesso dos produtores aos diferentes meios de captação no mercado financeiro, já que os investidores desejam ter exposição ao agro e financiar a cadeia produtiva do setor.
Com o amadurecimento do mercado de capitais nacional e sua maior importância para o financiamento do setor produtivo, novos instrumentos financeiros foram criados, como o Fiagro, inspirado no sucesso dos fundos imobiliários e que tem crescido de forma constante desde a sua criação.
No entanto, a multiplicidade de instrumentos de crédito agropecuário pode acabar gerando dúvidas entre os produtores em relação a qual é a melhor opção para as suas necessidades específicas de financiamento.
E uma das dúvidas dos empreendedores do campo está relacionada ao Fiagro-FIDC e ao CRA como opções de crédito.
Uma matéria publicada recentemente pela revista Agroanalysis trata justamente dessa questão, buscando determinar qual dos dois produtos financeiros é mais competitivo e eficiente no financiamento das atividades rurais.
Neste artigo, vamos entender melhor os argumentos apresentados pelos autores, Ana Palazzo e Carlos Ortiz especialistas e pesquisadores do setor.
Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
Agronegócio demanda mais capital para crescer
O acesso ao crédito é fundamental para financiar a cadeia agroindustrial, que exige altos investimentos iniciais e que só começam a gerar retorno após um período de tempo relativamente longo.
Entre as necessidades que precisam ser supridas pelo acesso ao capital está a aquisição de insumos, maquinário, tecnologias e outros recursos essenciais à produção.
Além disso, por se tratar de uma atividade altamente dependente das condições climáticas, os produtores podem ter que reforçar o caixa para enfrentar períodos de baixa produtividade ou de perdas de safra.
É nessas situações que o crédito pode ter papel crucial para manter a competitividade dos produtores e a lucratividade da atividade.
De acordo com Felipe Souto, CEO do Grupo Bloxs, que oferece soluções de investimentos alternativos e acesso ao mercado de capitais para pequenas e médias empresas, inclusive do agronegócio:
O crédito agropecuário é importante, por permitir que os produtores não apenas financiem sua atividade, mas também possam investir em novas tecnologias e técnicas de produção capazes de melhorar sua produtividade e rentabilidade. Por isso, os instrumentos de captação disponíveis no mercado financeiro podem suprir a carência de linhas subsidiadas e a reduzir o alto custo das linhas bancárias tradicionais.
Principais opções de crédito agropecuário no mercado de capitais
Entre os principais títulos do agronegócio que podem ser emitidos no mercado financeiro, podemos destacar:
- CPR (Cédula de Produtor Rural): é um título de crédito que representa uma promessa de entrega futura de produtos agropecuários. Pode ser emitido pelo produtor rural ou suas associações, inclusive cooperativas. Pode ser física (liquidada pela entrega do produto) ou financeira (liquidada pelo pagamento em dinheiro) .
- CDA (Certificado de Depósito Agropecuário): é um título de crédito que representa a propriedade de um produto agropecuário depositado em um armazém credenciado. Pode ser negociado no mercado secundário ou utilizado como garantia para operações de crédito .
- WA (Warrant Agropecuário): é um título de crédito que confere ao seu titular o direito de penhor sobre o produto agropecuário representado pela CDA. Pode ser emitido pelo armazém credenciado ou pelo depositante do produto. Pode ser negociado no mercado secundário ou utilizado como garantia para operações de crédito .
- CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio): é um título de crédito emitido por cooperativas de produtores rurais ou empresas que atuam na cadeia produtiva do agronegócio. Representa direitos creditórios originados de negócios realizados entre essas entidades e seus associados ou fornecedores. Pode ser negociado no mercado secundário ou utilizado como garantia para operações de crédito .
- LCA (Letra de Crédito do Agronegócio): é um título de renda fixa emitido por instituições financeiras para captar recursos destinados ao financiamento da cadeia do agronegócio. Tem como lastro ativos ligados ao setor, como CPRs, notas promissórias rurais, contratos mercantis, Notas de Crédito à Exportação (NCE), entre outros. Tem isenção de Imposto de Renda e IOF para os investidores .
- CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio): são títulos de renda fixa emitidos por companhias securitizadoras para financiar agentes da cadeia produtiva do agronegócio. Tem como lastro direitos creditórios originados de negócios realizados entre esses agentes e seus clientes. Tem isenção de Imposto de Renda e IOF para os investidores .
- Fiagro(Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais): é um fundo de investimento regulamentado pela Lei nº 14.130, de 29 de março de 2021. Tem como objetivo aplicar recursos em ativos relacionados ao agronegócio, como imóveis rurais, participações em empresas do setor, títulos e valores mobiliários ligados ao setor, entre outros. Tem isenção de Imposto de Renda e IOF para os investidores .
Fiagro-FIDC x CRA, qual crédito agropecuário é mais competitivo?
Em uma matéria recente publicada pela revista Agroanalysis pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os autores Ana Palazzo e Antonio Carlos Ortiz falam sobre a necessidade de as empresas calcularem a paridade de custos totais na estruturação, emissão e manutenção de um Fiagro-FIDC e de um CRA.
Segundo o artigo, intitulado “Fiagro-FIDC: opção de crédito competitiva para o agro?”:
O acesso de investidores diretamente a produtores individuais é complexo e caro, pela fragmentação do setor, pelas peculiaridades e pela falta de relatórios financeiros. Porém, opções como Fiagro e CRA permitem que investidores invistam em cotas de capital de uma carteira de direitos creditórios originados pelos sponsors, que já têm acesso natural aos produtores, dado seu negócio comercial no campo.
Os autores explicam que o custo de uma operação financeira é proporcional ao risco de crédito agropecuário associado. Assim, quando um credor empresta para uma empresa, tem a expectativa de que o empréstimo será quitado dentro do prazo acordado, a fim de garantir a remuneração adequada (lucro) do negócio.
A conclusão dos estudiosos foi que os custos de estruturação dos Fiagro tendem a ser menores do que os de CRAs, principalmente por conta da taxa de distribuição.
No entanto, eles ressaltam que o custo de manutenção dos Fiagro tendem a ser maiores do que os dos CRAs, principalmente devido à taxa de administração.
Além disso, quanto mais curta a periodicidade de reemissão de CRA, maior tende a ser a economia em se utilizar Fiagro-FIDC. Da mesma forma, quanto melhor o nível de subscrição de Fiagro-FIDC, maior tende a ser a economia frente ao CRA.
Uma das vantagens dos Fiagro-FIDCs em relação aos CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) é a maior flexibilidade na gestão da carteira.
Enquanto os CRAs são títulos de renda fixa com prazo e rentabilidade definidos no momento da emissão, os Fiagro-FIDCs podem comprar e vender direitos creditórios ao longo do tempo, conforme as oportunidades e as necessidades do fundo.
Isso permite que o gestor possa ajustar a estratégia do fundo de acordo com as condições de mercado e o perfil dos cotistas.
Outra vantagem dos Fiagro-FIDCs é a maior diversificação dos riscos. Como esses fundos podem investir em vários direitos creditórios de diferentes origens e segmentos do agronegócio, eles reduzem a exposição a um único emissor ou operação.
Já os CRAs são vinculados a um único crédito, o que aumenta o risco de inadimplência ou renegociação.
Principais características dos Fiagro-FIDC e dos CRAs
O Fiagro-FIDC é um tipo de fundo de investimento que aplica seus recursos em direitos creditórios relacionados ao agronegócio. Direitos creditórios são recebíveis que as empresas do setor agroindustrial têm a receber de seus clientes, fornecedores ou parceiros. Esses recebíveis podem ser antecipados por meio de operações financeiras, gerando liquidez e capital de giro para as empresas.
A Lei 14.130/2021, criou os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), com o objetivo de estimular o financiamento do setor agropecuário, ampliando as fontes de recursos e diversificando os instrumentos de captação.
Além do Fiagro-FIDC, existem outras duas modalidades: o Fiagro-FII, que investe em imóveis rurais ou urbanos ligados ao agronegócio, e o Fiagro-FIP, que investe em participações societárias de empresas do setor.
As principais vantagens do Fiagro-FIDC para o produtor rural são:
- Acesso a uma fonte alternativa de financiamento, com custos competitivos e prazos adequados à sua atividade.
- Possibilidade de antecipar seus recebíveis futuros, melhorando seu fluxo de caixa e sua gestão financeira.
- Diversificação dos riscos associados ao seu negócio, transferindo parte do risco de crédito para os investidores do fundo.
Os Fiagros-FIDCs são uma alternativa de financiamento para o setor do agronegócio, que muitas vezes enfrenta dificuldades para obter crédito bancário ou emitir títulos no mercado de capitais.
Ao antecipar seus recebíveis, as empresas do agronegócio conseguem recursos para custear suas operações e investimentos, com taxas de juros mais baixas e prazos mais longos do que as opções tradicionais.
O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é um título de renda fixa emitido por companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio, que tem como objetivo captar recursos para financiar o setor agropecuário.
O CRA é lastreado em recebíveis originados de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, como fornecedores de insumos, compradores de produtos ou prestadores de serviços.
Esses recebíveis são cedidos pelos produtores ou cooperativas para as securitizadoras, que os transformam em títulos negociáveis no mercado de capitais.
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