A América Latina está em alta como destino de operações de fusão e aquisição (M&A), apesar dos atuais desafios globais e da incerteza econômica gerada pela inflação e pelos juros.
Um relatório publicado pela KPMG, uma das principais empresas de consultoria e auditoria empresarial do mundo, revela que os setores de energia, saúde e principalmente tecnologia despontam como os mais dinâmicos nesse contexto, atraindo grandes volumes de capital nos últimos anos.
Outro ponto interessante indicado no relatório é o fato de que o México assumiu a liderança como “lugar mais atrativo” para M&A na região, ocupando o lugar do Brasil, que tradicionalmente se destaca nesse tipo de operação, por conta das suas dimensões, mercado mais estável, vastos recursos naturais e localização estratégica.
Além disso, a expectativa é que o número de acordos cresça nos próximos dois anos, envolvendo tanto aquisições como vendas de participações de private equity, com destaque para divisões corporativas em empresas independentes (“carve-outs”).
Neste artigo, vamos explorar melhor as descobertas do relatório “KPMG 2023 M&A in Latam Survey” e revelar quais são as oportunidades que estão sendo identificadas na região, bem como os riscos para investidores e corporações.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
Em um mundo incerto, América Latina cresce em M&A
Quando o assunto são operações de fusão e aquisição, ou M&A na consagrada sigla em inglês, as oportunidades nunca foram tão grandes na América Latina.
A região costuma ser encarada com cautela por parte dos investidores e corporações internacionais, devido ao seu histórico de instabilidade política, social e econômica em seus principais mercados.
De acordo com o diretor-executivo para América Latina da consultoria de risco Eurasia Group, Daniel Kerner, citado no relatório da KPMG:
Os investidores estão cada vez mais percebendo as oportunidades que estão surgindo na América Latina em termos de risco-retorno de novos deals e alocação de recursos na região.
O estudo da KPMG mostra que 45% das empresas e investidores acreditam que a oportunidade de realizar M&A na região nunca foi tão grande, o que não quer dizer que os riscos não sejam altos: 35% dos entrevistados pela consultoria também afirmam que os deals nunca foram tão arriscados.
A expectativa, segundo o relatório, é que os deals de todos os tipos registrem alta na América Latina, com o número de aquisições subindo, especialmente considerando operações de compra e venda de participações de private equity (60%) e vendas de divisões como empresas independentes (56%), as chamadas “carve-outs”.
O estudo cita como exemplo a aquisição bilionária feita pela ArcelorMittal da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que atingiu a marca de 2,2 bilhões de dólares, a fim de atender à demanda crescente da companhia no país.
Outro exemplo foi a aquisição feita pela FEMSA, conglomerado mexicano do setor de bebidas e varejo, da empresa de tecnologia financeira NetPay, no intuito de expandir seu portfólio de pagamentos digitais na América do Norte.
Importância do due diligence
Não faltam oportunidades de M&A na América Latina, e as empresas e investidores estão satisfeitos com a forma como os deals vêm sendo feitos.
Quatro a cada cinco aquisições e fusões realizadas nos últimos anos na região foram consideradas bem-sucedidas pelo levantamento feito pela KPMG, o que é extremamente positivo, se considerarmos que a grande maioria das operações de M&A (70% a 90%) acabam entregando resultados abaixo do esperado, de acordo com a Harvard Business Review.
Uma grande lição mencionada pelo estudo é que 21% das empresas e investidores que realizaram M&A na América Latina afirmam ter feito um processo de due diligence insuficiente.
A atividade de M&A na América Latina se assemelha a uma curva de aprendizado, e o maior arrependimento das empresas e investidores foi subestimar as complexidades culturais e sociais envolvidas nos deals. O sucesso requer abraçar a maneira local de trabalhar.
O relatório foi baseado em uma pesquisa com 400 líderes empresariais que participaram ou assessoraram transações de M&A de mais de 50 milhões de dólares nos últimos cinco anos.
Risco-retorno é o segredo para bons deals na região
É comum que a América Latina seja associada à instabilidade econômica e política, bem como a complexas regulamentações setoriais, o que faz com que os países da região sejam considerados arriscados na hora de fazer negócios por parte de investidores e empresários estrangeiros.
E com as fusões e aquisições não é diferente. Cerca de 73% dos entrevistados pela KPMG acreditam que a região apresenta riscos significativos para a realização de deals e 35% chegam a mencionar que é necessário garantir uma relação risco-retorno extremamente favorável para concluir os negócios.
O cenário político da região é bastante turbulento, com governos fracos e altos índices de descontentamento público, o que gera dificuldades para aprovar reformas estruturantes, manter a estabilidade econômica e navegar por um ambiente global mais desafiador – Daniel Kerner, Eurasia Group.
Apesar desse quadro, muitos investidores e empresas acreditam que vale a pena assumir esses riscos, em razão das grandes oportunidades de negócio que a região oferece atualmente.
Após uma drástica queda nos deals em 2022, a expectativa entre os entrevistados é que haja uma recuperação lenta este ano, com uma aceleração maior nos próximos dois anos.
De fato, apenas 31% realizaram quatro ou mais deals nos últimos dois anos, mas 51% esperam aumentar os negócios nos próximos dois, o que inclui um aumento no valor das operações.
Crescimento e diversificação promovem M&As
Negócios de todos os tipos estão em alta na América Latina. A maioria das empresas e investidores espera ver um aumento em diversos tipos de deals nos próximos dois anos, com destaque para aquisições.
No período, a expectativa é que os destaques fiquem para compras e vendas de participações de private equity, seguidas de perto por vendas de divisões corporativas como empresas independentes, as chamadas operações de “carve-out”.
México rouba liderança do Brasil como lugar mais atraente em M&A
Tradicionalmente, o Brasil é o país que mais se destaca em operações de M&A na região, graças às suas dimensões continentais, seus vastos recursos naturais, mercado estável e localização estratégica.
De acordo com dados da S&P Global, o número de deals no Brasil ultrapassou de longe os negócios em outros países da América Latina em 2022. Foram 390 negócios realizados por aqui, contra apenas 104 no México e 66 na Colômbia.
Mas a pesquisa da KPMG sugere que pode estar havendo uma grande mudança: 79% das empresas e investidores ouvidos pela consultoria agora consideram que o México é o melhor país da região para realizar negócios, enquanto 69% afirmam o mesmo em relação ao Brasil.
Tudo isso mostra que as oportunidades de negócios na América Latina têm tudo para crescer nos próximos anos, especialmente no Brasil, em vista das reformas pelas quais o país vem passando nos últimos anos, mas é preciso destacar um ponto crucial na atratividade sobretudo do capital estrangeiro para o país: a estabilidade econômica e política.
Sem tal estabilidade, será difícil fazer com que o M&A por aqui cresça de forma significativa, especialmente em áreas estratégicas para o nosso desenvolvimento econômico, como energia e tecnologia.
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