Ontem a noite recebi uma mensagem de um amigo. Eu estava no aeroporto de São Paulo e teria longas 6 horas de espera pela frente, uma vez que a minha tentativa de antecipação sem custos de um voo foi mal sucedida e o budget da Bloxs não permite exceções.
O que poderia acabar em uma simples resposta também escrita, virou uma ligação de uma hora.
Algumas reflexões desencadearam esse texto.
Na mensagem, o amigo, dizia estar cansado dessa vida de empreendedor e reclamava de como os desafios só aumentavam. O trabalho era cada vez mais intenso e aquilo que entrava no bolso como “fixo” não era dos melhores.
“Eu posso facilmente ganhar o dobro ou o triplo se for trabalhar numa grande empresa”, disse tenso o rapaz.
De fato. Não tem certo e errado, apenas perfil e alinhamento de propósito.
Não pretendo trazer aqui prós e contra entre trabalhar ou fundar uma startup versus qualquer outra decisão de carreira.
A vida é sua e você faz o que quiser dela, literalmente.
O que posso – e vou – é expressar minha opinião, minha visão de mundo com o único e simples objetivo de tentar ajudar você, que pode estar perdido assim como eu estive um dia, te poupando horas e horas de divã e milhares de reais para descobrir o que me faz feliz.
- Bruno psicólogo: Felipe o que te faz feliz profissionalmente?
- Paciente Felipe: cri, cri, cri
Um ano depois…
- Bruno Psicólogo: Felipe, o que te faz feliz profissionalmente ?
- Paciente Felipe: Segura aí meu filho
“Trabalhar em um ambiente agradável, desafiador, com liberdade e alto potencial de crescimento, gerando impacto positivo na vida de todos os envolvidos”
Essa simples frase tem um significado profundo e poderia ser facilmente retratada em um livro, pois carrega minha trajetória profissional. Quem sabe, um dia, conto um pouco mais sobre isso.
Ser um founder ou trabalhar em uma Startup pode ser o caminho para você. O caminho da sua felicidade e realização, mas quero te alertar que: NÃO SERÁ NADA FÁCIL.
Quem opta entrar numa startup, seja founder seja colaborador – independente do nível – precisa ter muito claro os motivos que o fazem estar ali.
Para seguir nessa reflexão, vou me amparar em dois grandes conceitos importantes e que jogam um pouco de luz sobre o tema: seleção natural e antifragilidade.
Os mais adaptados sobrevivem
Charles Darwin, famoso pela sua teoria sobre a evolução das espécies, disse certa vez:
“não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças.”
No mundo dos animais, a evolução não acontece de forma única, objetiva e clara. O pescoço gigantão da girafa, não foi a única opção evolutiva. mas, sim a que deu certo.
Muitas girafas ficaram ao longo do caminho, morreram de fome. Até que uma das hipóteses deu certo, e foi por aí que a vida seguiu e escalou.
Para os elefantes, de maneira diferente, o que funcionou foi um crescimento desproporcional do nariz. A tromba é usada especialmente para alcançar as mesmas folhas que as girafas buscam.
O incomformismo das Startups
Nas Startups, é mais ou menos do mesmo jeito. As tentativas e erros são exaustivas e as pessoas (founders / colaboradores) são os operadores da evolução.
Os “animais” nesse caso são as pessoas que necessariamente serão expelidas de um organismo que esteja levando ela para uma zona de desconforto.
Para dar certo nesse ambiente você precisa AMAR O DESCONFORTO.
Acredite, a maioria não ama. Muita gente diz que ama. Mente e foge dele como o diabo foge da cruz. Evita quando na verdade deveria idolatra-lo.
Quando tem uma oportunidade dessa, se tem, procura um cantinho na organização para se “fingir de morto” e ficar ali enquanto der. O problema é que em empresas exponenciais, com cultura de crescimento, horizontais e focadas em resultado, NÃO tem esse cantinho para se fingir de morto. É tipo na Matrix, a galera identifica o “virus” no sistema e inevitavalmente expulsa o organismo invasor.
Muitos buscam esse cantinho não por mal, mas como autodefesa de um sistema corporativo cheio de bulshitagem. Desses, os fortes, em algum momento conseguem se libertar e param de se auto enganar partindo assim para viver em plenitude.
Ponto para Darwin.
Idolatrar o desconforto, crescer nas adversidades, pode ser confundindo com insanidade, talvez seja, mas hoje tem um nome que é a ANTIFRAGILIDADE.
Cunhado pelo brilhante Nassim Taleb, o conceito de antifrágil nasce para contrapor ao conceito de frágil. Ora, o oposto de frágil não seria forte, robusto, ou resistente ? Não!
Para cumprir o papel que aqui me propus, sejamos o mais simplista possível diante da impossibilidade de tergiversar sobre uma temática complexa e discorrida em um livro de linguagem rebuscada em mais de 500 páginas.
A antifragilidade consiste em uma característica pela qual as adversidades não são superadas pela reação, mas pela aceitação.Nesse caso, aceitar não significa permanecer resignado perante um problema, mas entender o contexto em torno de um imprevisto e aprender com isso.
O antifrágil procura antes entender o que se passou e aceitar a sua condição para, a partir disso, aprender com seus erros e evoluir.
Ser antifrágil, portanto, significa se colocar em posição proativa e consciente. É aceitar que a vida, o trabalho e os negócios sempre apresentam fatos novos e inesperados aprender com eles e AGIR.
É um estado de espírito e modo de encarar a vida que está tatuada em minha pele.
Para aquele meu amigo da mensagem, espero que esse texto possa ajudá-lo a respirar fundo e seguir em frente e de alguma forma também seja útil a você.
Abs,
Felipe Souto