O Banco Central finalmente começou a reduzir os juros, ao baixar a Selic, que serve de referência para todas as outras taxas da economia, em 0,5% no início deste mês.
Apesar de o movimento ter surpreendido alguns analistas, o fato é que a instituição reconheceu que houve uma melhora sensível nos níveis de inflação tanto por aqui quanto no exterior.
De fato, a inflação acumula uma alta de 3,07% até agosto de 2023 e de 3,99% nos últimos 12 meses, em comparação com os picos de 10,06% e de 6,5% do IPCA em 2021 e 2022, respectivamente.
Caso o aumento dos preços continue surpreendendo positivamente, alguns economistas já preveem um ritmo mais forte de queda de juros, melhorando bastante as condições financeiras nos próximos meses.
Mas a grande pergunta dos empreendedores é: quando os efeitos da queda dos juros começarão a ser sentidos pelas pequenas e médias empresas?
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Para responder a essa pergunta, a Bloxs ouviu o professor de finanças do Insper, Alexandre Jorge Chaia, que forneceu insights valiosos sobre o que esperar para os próximos meses em relação ao impacto gradual da queda da Selic na economia.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
- Queda de juros em contexto: o que diz o Banco Central?
- Professor do Insper explica o que esperar a partir de agora
- Pós-pandemia e volta da inflação
- O Brasil iniciou antes a restrição financeira
- Efeitos positivos da queda de juros na economia
- Resultados no médio e longo prazo
- Até quando os juros vão cair nos próximos anos?
Queda de juros em contexto: o que diz o Banco Central?
Após quase um ano estacionada em 13,75%, a Selic teve sua primeira queda no início deste mês, quando o BC, em uma decisão apertada, decidiu reduzi-la em 0,50%.
O Copom tomou essa decisão com base em uma análise abrangente do ambiente externo e doméstico, considerando vários fatores que afetam a economia brasileira.
O comunicado sobre a decisão ressaltou que o processo de desinflação (isto é, redução do ritmo de alta dos preços) foi percebido no exterior, mas ainda assim os núcleos de inflação, que excluem preços voláteis de alimentos e energia, seguem elevados, principalmente por conta do mercado de trabalho forte em vários países.
Por aqui, o Copom ressaltou que as expectativas de inflação captadas pela pesquisa de mercado Focus tiveram uma sensível queda nos últimos meses em relação aos próximos anos, formando um cenário mais benigno para a queda da Selic.
Ao avaliar os riscos, o comitê elenca fatores que podem influenciar tanto em direção a aumentos quanto em direção a reduções da inflação e expectativas. Entre os riscos de alta, estão a persistência das pressões inflacionárias internacionais e a resiliência na inflação de serviços. Entre os riscos de baixa, está uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica global e os impactos do aperto monetário sincronizado.
A melhora no cenário inflacionário, resultado da política monetária passada, e a redução das expectativas de inflação para prazos mais longos criaram a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.
Professor do Insper explica o que esperar a partir de agora
Para saber o que esperar a partir de agora, a Bloxs ouviu o professor de finanças do Insper, Alexandre Jorge Chaia, que traçou um panorama completo sobre o cenário atual e das perspectivas para os próximos meses.
Pós-pandemia e volta da inflação
Na entrevista, o economista discutiu as mudanças recentes na taxa de juros no Brasil e seu impacto na economia, principalmente para empresas de pequeno e médio porte.
A maior preocupação do Banco Central não é apenas conter a inflação, mas também é considerar o cenário pós-pandemia. Embora a crise sanitária tenha levado a perdas de emprego e renda, seu término trouxe um aumento global da inflação, principalmente devido à retomada da demanda e à escassez de oferta.
De fato, a demanda mundial por produtos e serviços aumentou consideravelmente após a pandemia, causando escassez de oferta e, consequentemente, um surto de inflação. Como resposta a essa situação mundial, os bancos centrais, incluindo o brasiliero, elevaram as taxas de juros.
Durante um período muito longo – continua Chaia – o país manteve taxas de juros historicamente altas devido ao aumento crônico de preços. Entretanto, após uma fase de juros muito baixos em torno de 2%, a economia brasileira enfrentou um desafio: como lidar com os juros em um contexto global de forte recuperação pós-pandemia?
Para enfrentar a inflação, houve um movimento coordenado entre bancos centrais para aumentar as taxas de juros. O Brasil, por já ter enfrentado a inflação anteriormente, começou a elevar as taxas antes de muitos outros países.
O Brasil iniciou antes a restrição financeira
O professor explica que, no caso do Brasil, devido às preocupações preexistentes com a inflação, o Banco Central achou por bem iniciar a elevação dos juros cerca de 9 meses a 1 ano antes de muitos outros países.
Em um dos mais fortes apertos monetários dos últimos anos, a reação dos preços foi positiva, reduzindo consideravelmente o ritmo de alta em relação aos últimos dois anos. Nos primeiros oito meses de 2023, o IPCA, índice oficial de inflação, acumula uma alta de cerca de 3%.
Agora, após um período prolongado de taxas elevadas, o Banco Central tomou a decisão de começar a reduzir as taxas de juros. Essa redução será gradual, provavelmente terminando o ano em torno de 12% a 11,75%. Essa queda nas taxas de juros tem o potencial de estimular o crescimento econômico, incentivando investimentos e consumo.
Efeitos positivos da queda de juros na economia
O professor Alexandre Chaia explica que a redução das taxas de juros tem efeitos positivos para a economia como um todo. Além de melhorar o ânimo dos empresários e da população, aumenta a capacidade de endividamento da sociedade, facilita o financiamento e incentiva investimentos em setores como imobiliário e automotivo.
Taxas de juros menores tendem a aumentar o otimismo dos empresários e do público em relação ao crescimento econômico. Além disso, as taxas de juros mais baixas facilitam o financiamento, promovendo investimentos em setores como imóveis e bens de alto valor.
O economista ressalta, porém, que outros fatores também influenciam os juros finais pagos pela população, como custos operacionais das instituições financeiras, inadimplência, risco percebido e impostos governamentais.
Resultados no médio e longo prazo
O professor aponta que, além do ciclo de afrouxamento monetário em andamento, a melhoria do humor da população e as perspectivas de crescimento a médio e longo prazo são fatores importantes.
Ele enfatiza que essa é uma jornada gradual de melhorias e que o segundo semestre do próximo ano pode trazer um ambiente econômico mais positivo, com menos incertezas políticas e ajustes de governo.
A redução das taxas de juros é um processo gradual, com resultados esperados em médio e longo prazo. Essa mudança não apenas estimula a economia, mas também melhora o sentimento dos investidores, além de trazer a possibilidade de melhorias na classificação internacional do Brasil.
Para a economia brasileira, essas mudanças nas taxas de juros podem aquecer o mercado consumidor e contribuir para a recuperação econômica do país. Embora o Brasil ainda tenha um caminho a percorrer para atingir um grau de investimento, as perspectivas positivas, a redução das taxas de juros e a melhora geral na economia podem impulsionar o crescimento sustentável ao longo do tempo.
É um cenário de consolidação, onde os passos do Banco Central, juntamente com possíveis reformas tributárias, poderiam levar a taxas mais baixas no médio prazo. Esse ambiente incentiva as empresas a investirem e as pessoas a tomarem empréstimos para consumir. A perspectiva positiva gradualmente construirá confiança no mercado e atrairá investidores estrangeiros interessados no vasto mercado consumidor brasileiro.
Até quando os juros vão cair nos próximos anos?
Para o professor Alexandre Chaia, existe um limitador para a queda de juros no Brasil: as taxas praticadas pelos bancos centrais lá fora.
A “janela de oportunidade” oferecida pelos juros internacionais estruturalmente baixos no exterior foi fechada, segundo Chaia, e os patamares mais elevados para as taxas evitarão que vejamos uma taxa Selic abaixo de 9% ao ano.
Dificilmente o Brasil vai conseguir voltar a patamares abaixo de 9 ou 8%, pois as economias desenvolvidas, como EUA e Europa, elevaram suas taxas para cerca de 5%, bem diferente dos anos anteriores, quando ficaram próximas de zero. Isso reduz o espaço para uma flexibilização maior.
De todo modo, podemos dizer que o início da queda de juros no Brasil terá efeitos positivos na economia no médio e longo prazo, incentivando o consumo das famílias, melhorando os esforços de captação das empresas e o ambiente geral de crédito tanto pessoal quanto corporativo, o que pode abrir espaço para uma retomada mais vigorosa e estável da atividade nos próximos anos.