Enquanto a resiliência da economia dos EUA e os problemas geopolíticos no mundo sustentam a perspectiva de “higher for longer”, por aqui o Banco Central segue cortando a Selic.
Mas o risco de inflação nas principais economias impõe desafios para a política monetária brasileira, alimentando discussões sobre qual será a taxa terminal de juros por aqui.
Enquanto isso, crescem as preocupações com a economia chinesa, diante do seu crescimento abaixo do esperado, após o fim das políticas draconianas da pandemia.
Nesse intrincado cenário, o que esperar do mercado de capitais? O alívio esperado para o custo de captação das empresas será adiado? A volatilidade continuará imperando sobre os ativos de risco?
Para responder a essas e outras perguntas, entrevistamos o economista André Loes, que foi economista-chefe do Morgan Stanley para a América Latina e falou sobre a situação econômica global e os desafios enfrentados pelo Brasil. Confira!
Cenário macro global: higher for longer
Os bancos centrais das principais economias seguem sinalizando juros elevados por mais tempo, o que vem sendo chamado pelos economistas de “higher for longer”.
Isso é importante porque, no momento em que se intensifica mais uma guerra no mundo — agora no Oriente Médio —, as incertezas em relação à inflação podem colocar em xeque uma flexibilização mais profunda das condições financeiras por aqui.
Em entrevista para a Bloxs, o economista André Loes ressalta justamente a relevância dos níveis de juros internacionais para a política monetária do banco central brasileiro, haja vista que podem limitar sua capacidade de reduzir a Selic.
“Existe uma paridade que precisa ser respeitada entre as taxas de juros nacionais e as das principais moedas, sobretudo o dólar. Se essa diferença diminuir muito, a tendência é que os EUA acabem atraindo o fluxo de dinheiro de outras partes do mundo. Ou seja, se a taxa de juros dos EUA permanecer alta por mais tempo — como parece ser o caso —, isso colocará alguns limites para a redução de juros nos demais países, não só emergentes, como o Brasil, mas também desenvolvidos.”
O cenário higher for longer, na visão de Loes, exige cautela por parte do BC, no sentido de evitar uma saída de capitais do país e uma pressão indesejada sobre a taxa de câmbio, capaz de solapar seus esforços para controlar a inflação.
“É preciso lembrar que, por razões geopolíticas, há menos países querendo financiar a dívida americana, como é o caso da China. Portanto, se a curva de juros dos EUA permanecer mais alta, muito dificilmente voltaremos a ver aquela situação de juro muito baixo que tivemos nos últimos 20 anos, o que gera menos liquidez internacional de forma geral e, claro, mais dificuldades para o mercado de capitais.”
A questão geopolítica apontada pelo economista vem sendo acompanhada de perto pelos agentes do mercado, haja vista que, se houver uma escalada no conflito do Oriente Médio, é possível que ocorra uma alta do barril de petróleo, em paralelo com juros mais altos nas economias centrais, fechando o espaço para níveis de juros mais baixos em todo o mundo.
Taxas das treasuries aumentam volatilidade dos mercados
Nos últimos meses, o principal vetor da volatilidade nos mercados financeiros de todo o mundo têm sido as taxas dos títulos do Tesouro dos EUA que, segundo Loes, podem ser explicadas por diversos fatores.
Apesar do forte aperto monetário do Federal Reserve, elevando os juros ao patamar mais alto das últimas décadas, a economia americana continua desafiando as expectativas mais pessimistas, com crescimento acima do esperado e um mercado de trabalho ainda robusto.
Um tema central hoje no cenário político americano é o aumento do déficit público e do seu financiamento por emissão de dívida, gerando repercussões sobre o juro neutro. Agora que os EUA podem ser instados a financiar mais um aliado em guerra, o cenário de juro zero ou negativo praticado pelos bancos centrais nos últimos anos pode ter chegado ao fim.
Isso se expressa, na visão de Loes, em um diferencial de juros maior entre as taxas de curto e longo prazo, como é possível ver no gráfico abaixo:
Economia europeia sob pressão de energia
Na Europa, as principais economias ainda sentem o impacto do choque de energia gerado pelo conflito na Ucrânia, prejudicando o potencial de crescimento da região, bem como a inflação ao consumidor
Embora a inflação europeia tenha arrefecido nos últimos meses, o fato é que o índice cheio ainda se encontra longe da meta de 2% do BCE, acumulando uma alta de cerca de 4,3% nos últimos 12 meses.
Na reunião do último mês de setembro, o BCE subiu os juros em 0,25%, para 4%, e sinalizou o fim do aperto, mas sem prever cortes para o futuro próximo.
Devido à pressão do setor de energia, a expectativa da maioria dos economistas é que a inflação cheia na Zona do Euro termine o ano acima de 5%, corroborando o cenário de higher for longer.
Incertezas crescem com economia chinesa
A recuperação da China após a pandemia vem decepcionando o mercado, o crescimento da sua economia ainda abaixo da tendência registrada antes do impacto da covid-19.
Diversos especialistas apontam que o setor imobiliário chinês atingiu um nível de exaustão, o que pode contribuir para explicar a fraca retomada do país, na medida em que responde por praticamente 30% do PIB.
Devido à reduzida rede de assistência social existente no país, muitas famílias chinesas enxergam no setor imobiliário a forma mais segura de poupança, e uma crise no segmento poderia trazer sérias repercussões não só para a economia local, mas também mundial, especialmente as com fortes laços comerciais, como a brasileira.
Cenário macro brasileiro
A repercussão disso para as economias emergentes, inclusive a brasileira, é de uma flexibilização mais contida, ainda que a desinflação por aqui possa abrir espaço para cortes mais fortes nas taxas de juros.
Foi possível perceber esse sentimento no último relatório Focus de mercado, divulgado pelo Bacen, contendo as expectativas dos agentes do mercado. Apesar da manutenção da expectativa de uma Selic a 11,75% no final de 2023, no ano que vem, já começam a ser previstos juros mais altos de 9,25%, contra 9% nas semanas anteriores.
No comunicado da última reunião de política monetária, o Bacen enfatizou o ambiente externo adverso, por conta do aumento das taxas de juros de longo prazo nos EUA e das tensões geopolíticas.
Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.
Já em relação à economia doméstica, o Copom espera que haja uma desaceleração do crescimento nos próximos trimestres, com trajetória de queda na inflação cheia, ressaltando que as expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
Na avaliação do especialista, o amadurecimento do regime de política monetária no Brasil, que já dura quase 25 anos, reforça a confiança na atuação independente do Banco Central e permite que a inflação convirja para a meta com mais facilidade.
O Brasil tem um nível de inflação ligeiramente mais alto do que seus pares, mas vem demonstrando capacidade de controlá-la de forma razoável, porém o ponto mais crítico, em minha visão, é a nossa política fiscal, devido à alta despesa pública e à preferência política por gastos governamentais elevados.
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Perspectiva para o mercado de capitais
Em relação à repercussão do cenário externo e interno para o mercado de capitais local, a expectativa do ex-presidente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é que as condições de captação permaneçam difíceis pelos próximos dois anos.
A tensão geopolítica e a resiliência da economia americana, conjugadas a uma inflação acima da meta estabelecida pelo Federal Reserve, devem manter a política monetária mais apertada nos EUA, o que, por sua vez, restringirá a liquidez no restante do mundo.
Em razão disso, Loes expressa preocupação com o mercado de capitais, antecipando mais dificuldades para seu avanço nos próximos anos.
No entanto, reconhece que modelos de negócios disruptivos, capazes de explorar as lacunas do mercado com soluções menos tradicionais, têm potencial para encontrar oportunidades e prosperar nesse ambiente.
A digitalização foi essencial para democratizar os serviços bancários e vem fazendo o mesmo no mercado de capitais, abrindo novas frentes de negócios com a entrada de novos investidores e empresas, o que começou sendo feito de forma pioneira no Brasil pela XP e agora está sendo aprofundado por novas plataformas digitais de investimento.
Loes cita especificamente a digitalização de deals efetuada pelo ecossistema da Bloxs com foco no small e middle market, potencialmente atingindo menores gestores e empresas, com dificuldades de acesso ao mercado pelos canais tradicionais.
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