Como a nova dinâmica formada por novos atores estão redesenhando o mapa de emissões primárias no mercado brasileiro.
Por décadas, o mercado de capitais brasileiro esteve associado a um endereço simbólico: a Av. Faria Lima, em São Paulo. Este eixo concentra as principais instituições, bancos de investimento, gestoras e formadores de opinião do sistema financeiro.
Mas os dados mais recentes, aliados às transformações regulatórias e digitais dos últimos anos, indicam um novo fenômeno.
Segundo dados da ANBIMA, divulgados recentemente pela Exame, no primeiro semestre de 2025, as regiões Norte e Nordeste superaram todas as demais em crescimento percentual de investimentos.
Esse crescimento não é isolado; ele está atrelado a um conjunto robusto de fatores educação financeira, novas regras da CVM, descentralização tecnológica, demanda regional reprimida, e, sobretudo, a ascensão de um middle market empreendedor que passa a acessar o mercado com mais autonomia e ambição.
Os novos protagonistas
Impulsionados pela demanda reprimida por acesso a novas fontes de financiamento das empresas de médio porte, as boutiques de crédito, consultores empresariais, gestoras independentes, securitizadoras regionais, agentes autônomos e outros players com atuação local, estão reconfigurando a cadeia de valor do mercado de capitais brasileiro, e claro, aproveitando a oportunidade para alavancar seus negócios através de uma nova fonte de receita, antes distante e restrita aos “big players”.

O que antes era exceção – uma gestora de FIIs de Recife, uma operação de CRI em Salvador, um FIDC em Belém – agora se torna padrão.
Estamos testemunhando um novo fenômeno de acesso à capital com o mercado de capitais brasileiro passando por uma notável reconfiguração, impulsionada por uma nova geração de atores como boutiques de crédito, gestoras independentes e securitizadoras regionais, que ao lado de agentes autônomos com atuação local, estão remodelando a tradicional cadeia de valor.
Ao analisarmos os dados oficiais sobre tema, constatamos que estes corroboram sobremaneira com o sentimento que já rondam as principais casas de estruturação do país.
No Nordeste, por exemplo, as emissões saltaram de R$ 8,22 bilhões em 2020 para R$ 49,12 bilhões em 2024, um aumento de mais de 500%. No Norte, o avanço foi ainda mais expressivo, de R$ 2,1 bilhões para R$ 15,05 bilhões, um crescimento de 614% no mesmo período. Ainda, vale mencionar a quantidade de gestoras de recursos que, na região, sairam de 8 em 2019 para 22 em 2025.
Já o número de assessores de investimento dobrou em ambas as regiões em apenas cinco anos, demonstrando a crescente demanda, conhecimento e nova alternativas para o acesso a capital, o que, para além da atuação precípua dos assessores como profissionais dedicados a alocação de recursos, estes, vem ampliando sua atuação para além do escopo tradicional por meio da oferta de produtos e serviços complementares, especialmente para empresas, por meio da “PJ2”.
Estamos, de fato, testemunhando um novo e vibrante fenômeno de acesso a capital, que democratiza o mercado e impulsiona o desenvolvimento econômico em diversas regiões do Brasil.
A base dessa descentralização
Esse movimento não seria possível sem a transformação do arcabouço regulatório conduzido pela CVM.
De fato, nos últimos anos, o mercado de capitais brasileiro tem passado por um período de transformações significativas, impulsionadas por um ambiente regulatório dinâmico e pela crescente demanda por novas formas de financiamento e investimento.
Uma das tendências mais marcantes é a digitalização. A tecnologia tem sido fundamental para simplificar a emissão de valores mobiliários, o acesso a informações e a interação entre investidores e emissores.
Outro ponto relevante é a diversificação dos instrumentos de investimento e financiamento. Há um esforço contínuo para criar produtos mais flexíveis e adequados às diferentes necessidades, tanto de empresas que buscam capital quanto de investidores que procuram retornos e diversificação de portfólio. Isso inclui a popularização de ativos alternativos e a busca por soluções inovadoras que vão além dos modelos tradicionais.
A expansão da base de investidores é um objetivo central das recentes evoluções. A CVM e outros reguladores têm trabalhado para tornar o mercado de capitais mais acessível, não apenas para grandes investidores institucionais, mas também para investidores de varejo e pequenas e médias empresas. A educação financeira e a simplificação das regras são pilares dessa estratégia.
Nesse contexto mais amplo, as RCVM 160 e 161 se encaixam ao facilitar a realização de ofertas públicas, tornando o processo mais ágil e menos oneroso, o que é crucial para empresas de diferentes portes acessarem o mercado.
A RCVM 175, ao democratizar o acesso a fundos estruturados como os FIDCs, contribui diretamente para a diversificação de instrumentos e para a ampliação da base de investidores e emissores, permitindo que mais empresas se beneficiem do financiamento via securitização.
Por fim, a RCVM 88 é um reflexo direto da digitalização e da expansão da base de investidores, consolidando as plataformas eletrônicas como canais eficientes para a entrada de pequenas empresas no mercado de capitais, especialmente em nível regional.
Em suma, esses três marcos regulatórios são exemplos práticos de como as tendências mais amplas de modernização, digitalização e inclusão estão sendo implementadas no mercado de capitais brasileiro.
O efeito disso é sistêmico: empresas que antes dependiam apenas de crédito bancário passam a se financiar no mercado, com produtos customizados e assessoria local.
O papel das plataformas e da tecnologia na expansão do mercado regional
A digitalização do mercado de capitais brasileiro não é apenas uma evolução tecnológica: é uma reconfiguração estrutural da forma como o capital se organiza, circula e é acessado.
E, nesse contexto, as plataformas digitais de infraestrutura financeira têm desempenhado um papel central — não como protagonistas visíveis, mas como camadas de apoio aos profissionais regionais do SELL SIDE, estes sim, os verdadeiros protagonistas deste movimento.
Estas plataformas funcionam como hubs regulados e interoperáveis possibilitando que o :
- A estruturação e distribuição de ofertas públicas de maneira fluida, com trilhas auditáveis e conformidade integrada às normas da CVM (RCVM 160, 161, 175, etc.);
- A tokenização ou escrituração digital de ativos como CRIs, CRAs, debêntures e cotas de FIDCs, permitindo liquidez, governança e visibilidade institucional;
- A orquestração de stakeholders por meio de APIs (custódia, escriturador, jurídico, distribuidor, agentes fiduciários), compondo esteiras digitais completas;
Como já ventilamos, talvez o aspecto mais transformador dessas plataformas não seja apenas sua sofisticação técnica regulatória — e sim o fato de que elas permitem que assessorias e boutiques locais se tornem operadoras completas neste novo mercado de capitais sem os custos e burocracias que envolvem
A ascensão das assessorias empresariais locais
Em várias regiões do país — de Maceió a Manaus, de Teresina a Vitória da Conquista — pequenas estruturas de advisory estão se reinventando. Com acesso a plataformas reguladas e modulares, estas boutiques financeiras passam a oferecer soluções que antes exigiam a presença de um banco de investimento de grande porte.

O que antes era informal ou limitado, agora se torna: a) Profissional, com padronização documental e trilhas de auditoria; b) Escalável, com workflows digitais e ferramentas de automação, c) Regulado, com compliance embarcado by design.
Essa infraestrutura é justamente o que empodera uma assessoria regional, composta por dois ou três profissionais experientes, permitindo-lhes estruturar captações de mercado para empresas locais do middle market viabilizando ainda a conexão de investidores institucionais com emissores de todo o Brasil sem distinções e barreiras 100% dentro das diretrizes da CVM.
O resultado? Menos dependência, mais capital, regionalização, inteligência local e consequente formação de um ciclo virtuoso.
E o futuro?
Estamos diante de um ponto de inflexão similar àquele que vimos ocorrer com o fenômeno dos Assessores de Investimento no passado.
Mais importante do que a tendência em si, é a oportunidade que ela carrega consigo já que boutiques financeiras, assessores independentes e originadores regionais agora têm, pela primeira vez, uma infraestrutura viável e acessível para transformar essa demanda reprimida de crédito em operações estruturadas de padrão institucional.
O banker regional, o consultor de empresas locais, o advogado com histórico em direito societário ou financeiro — todos podem agora tem a capacidade de:
- Estruturar operações lastreadas em ativos reais locais;
- Atender empresas do middle market regional com soluções sob medida;
- Acessar investidores institucionais de todo o país via plataformas digitais;
- Escalar sua atuação sem necessidade de deslocar-se ou submeter-se à lógica concentradora dos tradicionais eixos financeiros.
Pé na Estrada: começa o Bloxs On The Road
Diante desse novo ciclo do mercado de capitais (mais regional, mais digital e mais acessível) estamos dando início a um movimento que vai percorrer o Brasil: o Bloxs On The Road.
Nossa proposta é rodar as principais cidades do país, conectando empreendedores financeiros locais, boutiques de crédito, assessorias empresariais e potenciais emissores a uma nova arquitetura de mercado, mais fluida, interoperável e conectada.
E a estreia não poderia ser em outro lugar: Salvador, cidade vibrante e símbolo da força empreendedora do Nordeste brasileiro.
📍 Data, Hora e Local : 18 de setembro de 2025 ás 19h no Hotel Wish Bahia
🎯 Para quem: Boutiques de crédito, assessorias empresariais, gestores de fundos, emissores regionais
Essa é a primeira de muitas paradas. Vamos juntos construir o novo mercado de capitais brasileiro!
Um abraço,
Felipe Souto