A Capital Aberto promoveu, no dia 27 de maio, um bate-papo ao vivo com Salvatore Milanese, sócio da Pantalica Partners, Guilherme Ferreira, sócio da Jive Investiments e Eugenio Marschner, diretor de investimentos da Highland Capital Brasil. O tema do debate foi o cenário do distressed investing no Brasil e suas possibilidades e oportunidades na crise atual.
Perfil dos entrevistados
Salvatore Milanese | |
Sócio sênior e fundador da Pantalica Partners, com mais de 26 anos de experiência nas áreas de turnaround/reestruturação de empresa, transações envolvendo ativos especiais e investimentos em carteiras de créditos inadimplidos. Liderou e consolidou a área de Restructuring na KPMG Brasil. Foi líder de vários projetos de reestruturação e recuperação de empresas em vários setores e ainda em transações envolvendo compra/venda de carteiras de créditos inadimplidos. Graduado em Banking Finance na Universidade de Messina-Italia; MBA em Banking and Finance no CUOA-Vicenza (1997). | |
Guilherme Ferreira | |
Lidera a área de compliance, auditoria, controladoria e risco da Jive Investiments. Atuou por 4 anos no Lehman Brothers, onde trabalhou na mesa de renda fixa para América Latina em Nova York. Atuou como advogado corporativo por sete anos no Brasil e em Nova York, para escritórios como Machado Meyer, Pinheiros Guimarães e Sidley Austin. É graduado pela Universidade de São Paulo e pós-graduado pela Universidade de Columbia. | |
Eugenio Marschner | |
É Diretor de Investimentos da Highland Capital Brasil com extensa experiência em investimentos de private equity. As suas responsabilidades na Highland Capital Brasil incluem a originação, due diligence, negociação de investimentos e desinvestimentos. Antes de sua posição atual Atuou como vice-presidente executivo na BRK Ambiental, uma empresa da Brookfield Private Equity, onde foi responsável por M&A e Novos Negócios. Antes disso, foi AVP de Investimentos em Private Equity no Partners Group, tendo participado dos conselhos da Centauro e da Enova Foods, além de participar em transações no Brasil e na Europa. É graduado em Economia pela UFMG e possui MBA pela Universidade de Cornell nos Estados Unidos. |
Exposições dos Convidados
Salvatore iniciou sua exposição fazendo um apanhado histórico do distressed investing, que se originou nos EUA durante a crise dos savings banks nos anos 1980. Essa situação criou uma oportunidade de compra dos ativos desses bancos em dificuldades, que tinham alta qualidade de crédito e potencial de turnaround.
Salvatore explicou que, por se tratar de um mercado de risco, o prêmio costuma estar bem acima da média do mercado.
A essência dessa modalidade de investimento é se aproveitar de momentos de crise para conseguir comprar títulos de empresas com bons fundamentos a preços baixíssimos, tanto em termos de dívida quanto ações.
Entre as oportunidades oferecidas pela pandemia, Salvatore destaca o setor hoteleiro, que deve levar de 2 a 3 anos para se recuperar. A busca por boas empresas nesse setor que precisem se capitalizar para fazer frente à queda de demanda.
Isso permitirá que os investidores comprem bons títulos a preços muito baixos, ressalvados os riscos dessa operação.
Guilherme Ferreira
Guilherme abriu sua fala explicando que, em mercados funcionais, em que a economia está avançando e o fluxo de crédito encontra-se em níveis normais. A demanda por distressed investments tende a cair, pois esta modalidade de aplicação surgiu justamente no momento em que a crise faz com que os bancos segurem o crédito e as empresas não encontram capital facilmente disponível. Dessa forma,, o distressed investing surgiu para suprir essa demanda de crédito em momentos de dificuldade. Mas é um dinheiro mais caro, justamente em razão do prêmio de risco exigido pelos investidores.
Além disso, Guilherme ressaltou que os recursos distressed costumam ser menos burocráticos. Eles oferecem, por isso, um alívio rápido para empresas em dificuldade no momento em que o mercado de capitais se mostra avesso ao risco.
Guilherme explicou ainda que estamos vivendo uma situação como essa, em que as empresas tiveram uma redução ou até menos uma interrupção das receitas e precisam de liquidez para sobreviver. O aumento de risco nessas circunstâncias faz com que a oferta de liquidez fique prejudicada pelo alto risco de inadimplência dos mutuários.
A falta de liquidez no mercado, portanto, gera um aumento de demanda por recursos distressed, que cobram um preço alto para assumir os riscos que os outros não querem assumir.
Principais Setores Afetados
Em seguida, Guilherme disse que os principais setores afetados pela pandemia e que precisam de recursos distressed são as agências de turismo, redes de hotéis, companhias aéreas, empresas de ônibus, restaurantes e comércio. Basicamente todas as áreas que precisem da presença física dos clientes.
Um segmento menos óbvio, segundo Guilherme, são as concessionárias de rodovias, que são empresas com bons fundamentos, mas que operam muito alavancadas pelo fato de os investimentos em infraestrutura demandarem muito crédito. Esse fato ocorre, principalmente, devido a emissão de debêntures e empréstimos de órgãos governamentais, como o BNDES.
O setor de academias também foi muito afetado, de acordo com Guilherme, e se trata de um setor que, nos últimos anos, atraiu um volume muito grande de private equity, mas cujas receitas cessaram completamente pelo fato de os estabelecimentos terem sido obrigados a fechar as portas.
Distressed Assets
Guilherme explicou que todos esses segmentos estão demandando muito capital de distressed.
O investidor de distressed, ainda segundo Guilherme, exige como contrapartida uma garantia em termos de ativos dessas companhias ou uma participação como sócio, a fim de melhorar a administração e conseguir ganhar no turnaround.
Eugenio Marschner
Eugênio iniciou sua apresentação salientando que o atual momento é especialmente difícil para o investidor de distressed. Isso ocorre, justamente por causa da incerteza no trato da pandemia por parte dos governos.
O Brasil, segundo ele, tem adotado medidas cambaleantes que podem gerar uma situação de “slow burning”, ou seja, os efeitos adversos da pandemia podem perdurar por muito mais tempo do que se imagina. Isso irá gerar repercussões no campo econômico que aumentam sensivelmente o risco do distressed investment.
Segundo Eugênio, até que se tenha minimamente uma perspectiva de fim dessa situação, é praticamente impossível avaliar o risco de cada operação. Dessa forma, o prêmio de risco em razão das incertezas envolvidas poderão explodir.
Conclusões
Em conclusão, Guilherme frisou que o distressed investing é uma modalidade de investimento que exige diversificação para mitigar o risco. É necessário, sobretudo, paciência, pois uma compra de dívida ou participação em uma empresa em recuperação judicial, por exemplo, “pode levar de seis meses ou seis anos”. Guilherme lembra ainda que é um investimento de alto risco, ilíquido, leva tempo e exige esforço.
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