Desde que superaram a marca de US$ 3 trilhões em valor de mercado, as criptomoedas voltaram a enfrentar volatilidade, com o Bitcoin perdendo mais de 70% do seu valor em poucos meses, assim como outras moedas digitais.
As criptomoedas redefiniram o conceito de transações online e trouxeram inovações que vão muito além do mundo financeiro, como a blockchain, que já é usada em uma infinidade de setores, desde cadeias de suprimentos até sistemas de votação e crowdfunding.
O crescimento dessa nova classe de ativos, no entanto, acabou atraindo especuladores em busca de fortuna fácil diante de histórias de pessoas que transformaram pequenas quantias em riquezas formidáveis com criptomoedas como Dogecoin (DOGE), Polkadot (DOT), Solana (SOL), Ethereum (ETH), Bitcoin (BTC), entre tantas outras.
Mas o que explica o atual “inverno das criptos”, como é chamado o ciclo de baixa iniciado após a máxima recorde de novembro de 2021?
Para responder a essa e outras perguntas, elaboramos este artigo, que abordará os seguintes tópicos:
Bitcoin: de “ouro digital” a ativo de alto risco
O Bitcoin já chegou a ser chamado de “ouro da era digital”, por suas características de escassez, armazenamento, transmissão e emissão à base de “mineração”, isto é, cálculos computacionais complexos para validar as operações e inseri-las na blockchain, uma espécie de registro público formado por uma rede mundial e descentralizada de computadores.
Nos últimos tempos, porém, a maior criptomoeda em valor de mercado, assim como outros criptoativos que prometem revolucionar a forma como as pessoas fazem pagamentos e transações online, acabaram sendo tragados pela aversão ao risco dos mercados.
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Grandes índices acionários, como S&P 500 e Nasdaq, com forte peso de tecnologia, já entraram em “bear market”, ou seja, recuaram mais de 20% desde o seu preço de fechamento mais alto, sem sinal de fundo à vista.
No Brasil, apesar da enorme representatividade do setor de commodities, nosso principal índice acionário, o Ibovespa, está em território negativo, após uma queda de quase 12% no ano passado.
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O que explica a aversão a ativos de risco, como criptomoedas e ações?
Como podemos ver, o mau humor do mercado financeiro não está restrito ao mundo cripto, mas a todos os ativos que, de alguma forma, podem ser afetados pelo ciclo de alta de juros que está se iniciando nas principais economias, com destaque para os EUA e Zona do Euro.
Em sua última reunião de política monetária, o banco central americano realizou seu maior aumento de juros em décadas, subindo as taxas dos fundos federais em 75 pontos-base. Já o Banco Central Europeu voltou a endurecer seu discurso, prometendo elevar juros a partir da sua próxima reunião, em julho.

Diversos especialistas afirmam que os bancos centrais mundiais foram muito lenientes com a inflação e agora precisam correr atrás do tempo perdido para evitar uma alta ainda maior dos preços.
Havia mais de quatro décadas que as principais economias do mundo não sabiam o que era inflação. Mesmo após os fortes estímulos monetários após a crise financeira de 2008, os países centrais conseguiram alcançar taxas razoáveis de crescimento sem que isso tivesse impacto significativo em seus níveis de preço e taxa de desemprego.
Inflação e alta de juros provocam corrida para ativos de segurança
Como mostra o gráfico abaixo, o problema inflacionário e de superaquecimento econômico nos EUA começou a entrar no radar do mercado após o rápido e profundo estímulo monetário e fiscal para combater os efeitos da pandemia de Covid-19, a partir do 1º tri de 2020.

O gráfico mostra claramente que a injeção de liquidez e recursos durante a crise sanitária chegou a ser três vezes maior do que a registrada durante a Grande Recessão.
Isso gerou um aumento muito forte no consumo de determinados bens, especialmente industriais, sem que houvesse uma resposta pelo lado da oferta, já que, diante das incertezas da pandemia, muitas empresas cortaram sua capacidade produtiva e não recompuseram seus estoques.
O resultado acabou vindo na forma de inflação, ainda mais agravada pela invasão da Rússia na Ucrânia no início deste ano, que provocou uma disparada nos preços do petróleo e do gás natural, já que a Rússia é uma das maiores exportadoras mundiais desses produtos e acabou sendo alvo de sanções econômicas do Ocidente.
LEIA MAIS: Como a invasão da Rússia na Ucrânia pode afetar a economia e os investimentos?
Os bancos centrais mundiais agora enfrentam o desafio de combater a maior taxa de inflação em décadas, sem causar uma grave recessão econômica.
No Brasil, voltamos a registrar inflação de dois dígitos em 12 meses, com ampla disseminação na cesta de produtos monitorados pelo IBGE, o que fez nosso banco central subir muito rápido a taxa de juros para conter a alta dos preços.
O efeito imediato disso pôde ser visto na queda da bolsa, que recuou 11,93% em 2021 e continua em território negativo em meados de 2022.
Falta de regulamentação prejudica crescimento do criptomercado
Apesar da sua grande inovação tecnológica, as criptomoedas ainda são consideradas ativos de risco, pois ainda não contam com uma regulamentação estabelecida em vários mercados, como no Brasil.
Isso faz com que elas sejam muito voláteis e suscetíveis à mudança de liquidez dos mercados, especialmente quando os investidores passam a buscar ativos de segurança para se proteger da inflação e dos juros, como estamos vivendo agora.
Em razão do rápido e intenso declínio das criptomoedas, com destaque para o Bitcoin e Ethereum, diversas moedas e corretoras de criptos passaram a enfrentar dificuldades.

O caso mais notável envolveu a stablecoin Luna, cujo algoritmo prometia manter a paridade com o dólar mas, após um grande volume de resgates, o sistema se mostrou frágil e acabou perdendo bilhões de reais em valor de mercado em questão de dias, caindo para quase zero.
Outro caso emblemático foi o da corretora de criptos Celsius que, assim como outras exchanges, teve que interromper as negociações de criptos devido à maciça retirada de recursos das suas contas.
Além disso, circulou entre os investidores de criptos o alerta feito pela maior bolsa de criptomoedas do mundo, a Coinbase, de que, em caso de falência, todas as moedas digitais custodiadas pela empresa poderiam ser perdidas.
Como se não bastasse, diversas fraudes contra projetos de pequeno e grande porte nas criptos acabou abalando a credibilidade do setor e a confiança dos investidores, acentuando ainda mais as vendas no mercado, no momento em que a aversão ao risco já é grande nos mercados.
Estamos perto do fim do “inverno das criptos”?
Ao falar sobre o atual momento do criptomercado, Gustavo Cunha, sócio da gestora Resetfunds, ressalta que a turbulência não se restringe aos criptoativos, abalando a maior parte dos ativos considerados de risco. Em um artigo publicado no InfoMoney, Gustavo afirma o seguinte:
A tecnologia e as mudanças que as criptos trarão para nossa sociedade não mudam. Elas seguem sua trajetória e os preços dos ativos criptos devem refletir isso no longo prazo. Mas, no curto prazo, os preços não fogem de demonstrar que fatores comportamentais afetam muito mais do que fatores racionais.
Dessa forma, a disrupção causada pelas criptos no mundo financeiro fará com que elas tenham um papel de destaque em uma economia cada vez mais digital e descentralizada. Porém, para que os investidores se sintam mais seguros para inserir criptomoedas em carteira, é fundamental que fatores, como a regulamentação do setor, sejam implementados, o que contribuirá para o crescimento constante das inovações financeiras.
