Não é à toa que a bolha da internet nos anos 2000 recebeu o nome de “bolha do ponto com”.
Essa denominação foi dada pelo fato de que, na época, qualquer empresa que se ‘vendesse’ ou se reformulasse como sendo uma empresa que de algum modo estava na internet, seria participante do ‘mercado do futuro’.
E assim foi concebida a falácia de que bastava estar conectado, possuir um website e se situar dentro da rede mundial de computadores (www – world wide web) para que seu negócio fosse bem-sucedido, atraindo centenas e milhares de investidores.
Em linhas gerais, assim formou-se uma bolha que fez o índice da Nasdaq sair de 5.038 pontos para assustadores 1.114 em outubro de 2002, trazendo à tona a realidade: nem todas as empresas são essencialmente de tecnologia, e ainda, não basta ser uma empresa dentro de um setor promissor para vencer no longo prazo. Era o fim do otimismo tecnológico, bom, pelo menos por enquanto.
A necessidade de se vender como uma empresa ‘tech’
O porquê de ter percorrido essa história se fundamenta no fato de que acredito que ela pode nos trazer algum benefício interpretativo para o que ocorre atualmente para as ditas “empresas de tecnologia” ou “tech companies”, como são chamadas no mercado internacional.
Friso que não busco estabelecer correlações ou construir uma tese de continuidade entre ambos os momentos, mas apenas nos relembrar do que a irracionalidade humana e o otimismo exagerado já alcançaram quando o assunto era tecnologia.
Atualmente, empresas como Wework, Airbnb ou Uber roubaram a cena, se posicionando, sobretudo, como empresas de tecnologia e, por assim ser, levantaram rumores sobre suas aberturas de capital e os consequentes bilhões de dólares a serem captados, tudo dentro de um invólucro de palavras como inovação, tecnologia disruptiva e revolução de mercado.
Uma repórter do Washington Post observa que a palavra ‘tecnologia’ foi utilizada mais de 100 vezes no prospecto do IPO da WeWork. Existe de fato uma necessidade destas empresas se denominarem como empresas de tecnologia e se venderem como tal. O porquê desta necessidade, entenderemos mais adiante.
Mas o que de fato faz uma empresa ser considerada de tecnologia?
Em um artigo da Stratechery, ficou definido que uma empresa ser ou não ser de tecnologia dependia do quanto o seu modelo de negócio estava “governado pelas características únicas do uso de software frente ao quanto estava limitado por fatores do mundo real”.
Assim o autor Bem Thompson analisa a partir desta ótica empresas que se encaixam de fato neste conceito e empresas que o utilizam meramente como uma estratégia de engordar o seu valuation.
Ė interessante percorrer o raciocínio utilizado para delimitar tais empresas como sendo ou não sendo tech para começarmos a nos fazer estas mesmas perguntas quando estivermos diante de uma dita empresa de tecnologia.
- Até que grau o produto desta empresa está intrinsicamente ligado à tecnologia?
- A empresa foi criada dentro de um ecossistema construído em torno da tecnologia e é participativa deste ecossistema?
- A empresa melhorou alguma solução existente, trazendo inovação tecnológica?
- A empresa trouxe uma possibilidade sobre algo ou algum mercado, que era até então inexistente, trazendo disrupção tecnológica?
- Até que ponto a empresa tem seu modelo de negócio governado por software frente ao quanto ela é limitada por fatores do mundo real?
Essa lista é muito mais um ponto de partida do que um checklist ou uma tentativa de enquadrar taxativamente uma empresa como sendo ou não de tecnologia, até porque, tal análise é subjetiva e não poderia seguir um panorama fixo de regras.
No entanto devemos sempre nos lembrar de que boas observações derivam de boas perguntas realizadas e, por isso, é necessário que antes de comprarmos a ideia e o valuation otimista de uma empresa por ela ser de tecnologia, assim como em todas as outras análises, devemos olhar os fundamentos.
Por que as empresas de tecnologia têm percorrido o caminho de IPOs?
De acordo com uma pesquisa recente da PitchBook, uma empresa de software as a service (SaaS) que fornece dados e pesquisas sobre o mercado, o âmbito dos IPOs das empresas de tech nos EUA movimentaram cerca de US$ 118.19 bilhões de dólares comparado a US$ 6.7 bilhões nos mercados europeus.
O que esse número nos sinaliza é justamente o motivo pelo qual as empresas tech têm buscado se capitalizar via oferta pública de suas ações e, principalmente, porque as empresas querem, sobretudo, se vender como empresas de tecnologia: o mercado está disposto a pagar bem ou ainda, alguns diriam, pagar caro pelas empresas tech em seus IPOs.
Assim sendo, você, como CEO de uma empresa de tecnologia, ou até mesmo, como um acionista em outra posição, prefere vender parte de sua empresa onde te pagam mais por isso, evidentemente.
Portanto, essa tem sido a tendência, valuations no segmento público, via bolsa tem sido estabelecido em patamares mais elevados do que em mercados fechados, via aquisições no mercado privado por exemplo.
O gráfico abaixo evidencia um dado interessante que comprova a tese dos valuations elevados e atraentes atribuídos a empresas tech que crescem financiadas por fundos de venture capital.
O exposto acima mostra 9 anos da mediana das receitas destas empresas de tecnologia e a linha azul indica quantas vezes a geração dessa receita o mercado estava disposto a pagar por essas empresas em suas aberturas de capital. O salto é impressionante, em 2010, investidores estavam dispostos a aportar em uma empresa a um preço 3.3x maior do que a mediana do seu faturamento, em 2019 o múltiplo foi para 11.1x.
Vender a sua empresa por 11.1x o que ela te gera de receita parece convidativo? Assim, temos com mais clareza o porquê de empresas tech terem buscado recentemente o caminho da captação pública vs privada, pois definitivamente, para elas, tem sido o melhor negócio.
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