Todo início de ano é a mesma coisa. Já se tornou corriqueiro entre os “Faria Limers” a produção de conteúdos com viés preditivo de como será – ou deveria ser – o comportamento dos mercados e ativos para o ano que se inicia e principalmente como os investidores devem se posicionar em suas carteiras de investimentos.
Nesta toada, recentemente ouvi um podcast, onde estavam debatendo o assunto e o futuro do mercado 3 analistas/gestores de ações, quando em determinado momento o âncora do programa colocou uma pergunta “bomba” no ar:
“Qual seria o evento mais inesperado de 2020 capaz de mudar todo o cenário?”
Os participantes foram categóricos e unânimes :
“Paulo Guedes sair do Governo”
Isso porque, acredito, a gravação tenha sido antes dos ataques dos EUA ao IRÃ na primeira semana de janeiro que desencadeou um aumento de tensão em todo o mundo por conta de um possível, porém improvável, conflito bélico mais duradouro e amplo.
As pessoas e os investidores normalmente tendem a evitar uma análise, reflexão e ação de acordo com o pior cenário, acreditando piamente que ele nunca vai acontecer o que pode e deve ser evitado com a adoção da “via negativa” como ponto de partida.
Este conceito, que fora cunhado por Nassim Taleb, em seu clássico Antifrágil fica evidente que aquilo que você sabe ser falso é mais valioso do que o que julga ser verdadeiro, na medida em que algo que você comprovou ser falso jamais poderá tornar-se verdadeiro novamente, enquanto que o que julga ser verdadeiro pode, um dia, vir a ser comprovadamente falso.
Esta epistemologia negativa – de compor o conhecimento através do falso, em vez do verdadeiro – apresenta maior robustez, uma vez que um milhão de observações não podem confirmar uma teoria, ao passo que uma simples observação pode refutá-la por completo.
De outra forma, quando nada de errado acontece não significa que estamos seguros. Significa, apenas, que ainda não aconteceu nada errado. São duas afirmações bem diferentes.
Isso posto, indo direto ao ponto, onde devemos investir para bombar nossa carteira em 2020 ?
Infelizmente não sei. Ninguém sabe.
No meu dia a dia, liderando uma Plataforma de Investimentos Alternativos, converso com muitos clientes sobre alocação e composição de portfólio e ao defender a inclusão de ativos alternativos as suas carteiras costumo trazer como uma das principais vantagens nessa classe de ativos a sua não correlação com os mercados tradicionais, para além é claro, dos retornos oferecidos.
Em tempos de SELIC a 4,5%a.a. e inflação projetada de 3,5% a.a, entender como e onde podemos agregar alfa ao nosso portfólio deixou de ser um luxo e passou a ser sinônimo de sobrevivência.
A vala comum nos leva a uma crença de que a única alternativa para maiores retornos estaria no mercado de ações: “Compre Bolsa, Compre Bolsa, Compre Bolsa” ecoa por todos os cantos da Faria Lima e é ai onde mora o perigo.
Não estou aqui dizendo que ter ações em 2020 é um mal negócio.
Nem que é um bom negócio.
O que posso afirmar, sem medo de errar, que não é uma receita de bolo e não é para todo perfil de investidor que em sua maioria não convive bem com os solavancos normais do mercado de ações e certamente perderiam boas noites de sono se ocorressem os “Cisnes Negros” como comentamos em linhas anteriores.
A inclusão de ativos não correlacionados ao seu portfólio é uma estratégia interessante e já há muito utilizada por investidores institucionais, gestores de grande fortunas e family offices e que hoje passam a ser acessíveis ao investidor comum.
Mais o que seria exatamente a correlação entre ativos ?
A correlação de ativos é uma medida estatística que mede a relação entre duas variáveis. Ela varia entre 1 (correlação perfeitamente positiva) e -1 (correlação perfeitamente negativa).
Por exemplo, se o ativo A e B possuem correlação igual a 0,9. E o ativo A tem um aumento de 100% em seu valor, o ativo B irá aumentar em 90%, pois a correlação de ativos é igual a 0,90.
Um exemplo prático e fácil de ilustrar como funciona a correlação se dá ao analisar a JBS. A JBS e o preço da carne oscilam de forma diretamente relacionada. Pois, conforme o preço da carne evolui, é esperado que a receita da empresa também o faça.
Dessa forma, um aumento no valor da carne, é acompanhado por um aumento no valor das ações da JBS. Foi justamente o que aconteceu quando a crise suína eclodiu ano passado lembra ?
Nesse exemplo, as ações subiram, mas ( …) o contrário também é verdadeiro e no dia que o Vale do Silício conseguir produzir o sabor da carne animal em laboratório sem ter que sacrificar nem um animal sequer ? O que acontecerá com as ações da JBS ?
Incluir ativos não correlacionados com o sobe e desce dos mercado, guerra, declarações no twitter, etc.
Esse é justamente o papel dos investimentos alternativos com lastro em atividades da economia real. A ausência de liquidez nessa classe de ativos acaba sendo compensada pela rentabilidade e não correlação com os mercados bursáteis.
Como dissemos, esse tipo de ativo é bastante comum no portfólio dos grandes investidores e estavam até outro dia muito distante dos pequenos. Porém, com o recente avanço da tecnologia e as inovações da CVM ( Comissão de Valores Mobiliários ) notadamente através da ICVM 588 que regulou as plataformas online de investimento coletivo, esse GAP diminuiu sobremaneira.
Os investidores hoje, podem e devem, se informar acerca das opções de investimento direto na economia real que buscam retornos entre 15% a 20%a.a. e possibilitam uma exposição ao mercado imobiliário, energia, florestas de eucalipto, pecuária, etc.
O cenário não mais admite a inércia e leniência com nossos investimentos e a responsabilidade não mais pode ser transferida, está em suas mãos.