Sem dúvida, o segmento financeiro e bancário vem passando por mudanças significativas no país ao longo das últimas décadas. O Banco Central do Brasil (BCB) conduz levantamentos contínuos sobre concorrência e concentração nessas áreas. Além disso, publicou estudos detalhados no relatório de economia bancária de 2022, divulgado em junho de 2023.
A instituição utiliza indicadores robustos, como o Índice Herfindahl-Hirschman Normalizado (IHHn), para medir a concentração no setor financeiro. Esse índice é uma métrica estatística capaz de captar indiretamente a pulverização do setor.
Outro indicador utilizado é o Indicador de Lerner, um cálculo econômico que revela a diferença entre os preços e os custos marginais no segmento, e, consequentemente, o poder de mercado de uma instituição. De maneira simples, quanto mais ele se aproxima do que a economia estuda como ‘concorrência monopolística’, indica menor concorrência.
Para além das questões técnicas, é essencial interpretar os resultados dos estudos do BCB, os quais são bastante positivos. Os números dos indicadores de concentração, como o IHHn e outros, indicam uma diminuição da concentração no Sistema Financeiro Nacional (SFN) durante o período pandêmico entre 2020 e 2022, com as concentrações variando entre baixas e moderadas na métrica do índice.
No entanto, outro indicador, o RC4, que mede o grau de concentração por meio da soma das participações (percentuais) das quatro maiores instituições financeiras em um dado mercado, apesar de ter diminuído em alguns segmentos nesse período, demonstra que o crédito direcionado ainda é muito concentrado no país. Para financiamentos habitacionais (PF + PJ) e financiamento de infraestrutura e desenvolvimento (PJ), a concentração nas 4 principais instituições de cada segmento é superior a 90%, o que indica que ainda há muito espaço para pulverização nessa modalidade.
Os dados também revelam uma redução no poder de mercado e um aumento da concorrência das instituições entre 2020 e 2022. No segmento de crédito bancário, isso representa uma inversão na tendência anterior, que mostrava uma diminuição da concorrência entre 2015 e 2019.
Na minha perspectiva, esse movimento está correlacionado com um aspecto comportamental importante: os brasileiros lidam melhor com as finanças digitais do que imaginávamos.
Observamos o papel da inovação crescente nos últimos anos, com o aumento do número de bancos e instituições digitais, os quais possuem menor barreira de entrada por não precisarem dos custos fixos relacionados à manutenção de agências físicas. Além disso, as pessoas parecem ter uma boa confiança nessa modalidade digital, algo que há 10 anos seria inimaginável. Para exemplificar, basta considerar o caso do PIX, que já superou todos os outros meios de pagamento tradicionais, teve um papel importante na democratização financeira, bancarizando parte da população, e é uma peculiaridade do nosso país, já que algumas outras nações que tentaram implementar meios de pagamento similares, até mesmo antes de nós, não obtiveram sucesso, como é o caso do CoDi no México.