Os investidores brasileiros aumentaram suas alocações em ativos mais defensivos e rentáveis no ano passado, buscando se proteger da inflação e, ao mesmo tempo, se beneficiar dos juros mais elevados.
De acordo com um relatório publicado pela Anbima, o volume financeiro investido por pessoas físicas atingiu a marca de 5 trilhões de reais, o que representa uma alta de quase 12% em relação a 2021.
Como não poderia ser diferente, os grandes destaques foram os produtos de renda fixa, principalmente aqueles ligados a setores sólidos e resilientes, como agronegócio, bancos e mercado imobiliário.
Todos os segmentos de pessoas físicas (varejo, alta renda e private) expandiram seus investimentos no mercado de capitais, com maior interesse por Certificados de Depósito Bancário (CDB) e fundos de investimento em renda fixa.
Apesar da maior aversão ao risco, muitos investidores não abandonaram a máxima de que o único almoço grátis no mercado financeiro é a diversificação.
Por isso, ativos geradores de renda e operações de private equity continuam atraindo investidores focados no longo prazo e na diversificação das suas fontes de receita.
Neste artigo, vamos analisar melhor como os brasileiros investiram no ano passado e quais são as principais tendências de para este ano, que deve ser tão ou mais desafiador que o ano passado.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
Juros e inflação mudam comportamento do investidor brasileiro
A narrativa de que o mercado acionário brasileiro estava “barato” não foi suficiente para convencer os investidores a reduzir suas alocações em renda fixa e apostar em ativos de risco.
Em um ano de normalização das taxas de juros nas principais economias e de pico inflacionário, a maioria dos investidores brasileiros resolveu trilhar o caminho mais conservador e previsível, apostando no aumento da rentabilidade dos produtos de renda fixa.
Um relatório recente publicado pela Anbima mostra que, de fato, a alta de juros aumenta a demanda por aplicações em ativos mais rentáveis e seguros, e essa não é uma exclusividade dos investidores de varejo.
Como mostra a imagem abaixo, o volume financeiro investido no mercado de capitais não parou de crescer nos últimos anos, com destaque para o público de alta renda, cuja variação anual de recursos mostra um aumento de 16,2% em relação a 2021.
Em seguida vem os investidores private, com um aumento de 13,3% no volume financeiro aplicado, encerrando com o varejo tradicional, que registrou uma expansão de 7,3%.
Ao comentar sobre os dados, Felipe Souto, CEO da Bloxs, plataforma de soluções de acesso ao mercado de capitais, declarou o seguinte:
O varejo tradicional foi beneficiado pelo crescimento dos programas de auxílio emergencial e distribuição de renda, mas o fato é que essa poupança inicialmente acumulada acabou sendo consumida pelo excesso de endividamento das famílias e pelo aumento da inflação, que elevou seu custo de vida. Por razões óbvias, o mesmo movimento não foi visto nos segmentos de alta renda e private, menos sensíveis a pressões de preço na economia.
Renda fixa predomina
E a classe de ativos de maior destaque foi, como não poderia ser de outra forma, a renda fixa, cujas taxas de remuneração cresceram muito mais com o aumento da inflação básica.
Como é possível ver no gráfico, produtos como CDBs, LCIs e LCAs (Letra de Crédito Imobiliário e do Agronegócio) se expandiram de 56,8% em 2021 para 60,3% em 2022, o que acabou retirando liquidez de outros setores.
Os Certificados de Depósito Bancário foram os ativos preferenciais dos investidores, encerrando o ano com R$ 715,9 bilhões, uma alta de 25,5% em relação a 2021. A mesma tendência foi vista em LCAs, que registraram uma expansão de 76%, alcançando R$ 317,6 bilhões, ao mesmo tempo em que as LCIs aumentaram para 67,6%, totalizando R$ 217,2 bilhões.
No segmento de fundos, os de renda fixa tiveram o maior salto anual, de 12,9%, alcançando R$ 512,1 bilhões. Apesar dos desafios, os fundos imobiliários também atraíram mais capital em relação ao período anterior, avançando 14,1%, com uma participação de R$ 92,3 bilhões.
Quem não se saiu bem foram os fundos multimercados, que tiveram uma retração de 2,1% em comparação com 2021, terminando o ano com R$ 672,2 bilhões de patrimônio.
A renda variável, sobretudo ações, teve um recuo de quase 20% em 2021 para 17,1% em 2022, um reflexo do aperto monetário em âmbito mundial.
O resultado foi uma queda de 4,2% no volume financeiro alocado no segmento, alcançado R$ 619 bilhões. Quem impulsionou essa queda foram os investidores private, que são os que costumam alocar uma quantia maior nessa classe de ativos.
A concentração regional também foi bastante elevada, na medida em que o Sudeste respondeu, sozinho, por 67,5%, ou R$ 3,4 trilhões, seguido de Centro-Oeste e Nordeste.
Nas palavras de Felipe Souto, CEO da Bloxs:
Esses números explicam por que tivemos um ano tão volátil para o mercado financeiro em 2022, quando os principais índices acionários perderam terreno, diante de uma correção que, a meu ver, foi bastante saudável, especialmente no setor de tecnologia, ajudando a consolidar os melhores players no segmento.
Há espaço para outras classes de ativos?
Muitos investidores não ficaram satisfeitos com o aumento das taxas dos títulos públicos e também procuraram diversificar suas carteiras, visando o longo prazo.
Nesse sentido, duas classes de ativos chamaram particularmente a atenção: os ativos geradores de renda e novas tendências para o mundo na próxima década.
Projetos como a implantação de usinas de energia renovável para atender clientes corporativos, e mercados exponenciais, como os créditos de carbono, incentivaram esses investidores mais focados em valor, sem abrir mão da perspectiva de crescimento explosivo nos próximos anos.
As operações de private equity também continuaram a todo vapor, permanecendo acima dos níveis pré-pandemia, sobretudo com a desaceleração econômica gerando oportunidades de consolidação de setores em nomes mais sólidos e reconhecidos.
Em relação ao segmento de private equity, Felipe Souto, CEO da Bloxs, disse o seguinte:
Também no mercado de private equity o que vimos foi um ano de normalização e retorno à média; mesmo assim, os volumes captados permaneceram levemente acima dos patamares pré-pandemia, mostrando que o setor continuou aquecido, apesar da queda em relação a um ano atípico, com foi 2021.
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