Short selling, ou venda a descoberto, é uma estratégia de investimento que aposta na queda de preço de um ativo financeiro em um dado período, com o objetivo de obter lucro com a sua desvalorização.
Basicamente, a mecânica dessa operação é oposta à da estratégia de investimento tradicional, que envolve a escolha de um ou mais ativos financeiros com potencial de valorização.
Isso permite que os investidores explorem oportunidades de ganho em momentos de baixa do mercado, devido a condições financeiras desfavoráveis, como uma alta de juros, por exemplo.
Além disso, a venda a descoberto é utilizada para “fazer hedge”, ou seja, proteger posições compradas em outros ativos contra perdas inesperadas.
Neste artigo, vamos entender melhor o que é short selling, como funciona, suas vantagens e riscos, além de nos aprofundarmos em estudos de caso.
Portanto, fique com a gente e saiba mais sobre os seguintes tópicos:
O que é short selling?
Também conhecido como venda a descoberto, é uma estratégia em que um investidor vende um ativo que não possui, na expectativa de que seu preço caia no futuro.
Pode parecer um conceito estranho, pois, como é que uma pessoa pode vender algo que não tem?
Bem, isso pode ser feito de duas maneiras: tomando o ativo emprestado de outro investidor ou utilizando derivativos, que são contratos financeiros cujo valor está atrelado a um ativo subjacente (ativo-objeto).
Quando é utilizado?
O short selling pode ser usado para aproveitar oportunidades de lucro em cenários de baixa, como crises, recessões, escândalos ou até falências de empresas. Também é bastante utilizado pelos investidores para diversificar a carteira ou proteger outras posições compradas contra potenciais riscos de mercado.
No caso de produtores de commodities, a venda a descoberto de contratos futuros é uma forma eficiente de “travar” preços e evitar oscilações desfavoráveis de mercado, capazes de reduzir as expectativas de lucro ou até mesmo gerar perdas.
Muitas empresas e instituições financeiras também utilizam o hedging com derivativos, como opções e swaps, a fim de se proteger contra variações cambiais e de taxas de juros.
Vamos entender melhor como funciona o short selling.
Como funciona
Apesar de parecer complicada, a mecânica da venda a descoberto não é tão difícil de compreender.
O primeiro passo para realizar um short selling é identificar um ativo com alta probabilidade de desvalorização no futuro, como uma ação, um índice, uma moeda, uma commodity, etc.
Isso, obviamente, exige que o investidor tenha profundo conhecimento do ativo envolvido e avalie, com antecedência, os fatores que podem influenciar o comportamento dos seus preços, como tendência técnica, fundamentos, notícias privilegiadas, entre outros aspectos.
Estratégia especulativa
Caso esteja convicto da operação e tenha definido um plano para o caso de ela não dar certo — como possíveis pontos de saída —, o investidor pode buscar um intermediário financeiro, como uma corretora, para tomar o ativo emprestado de outro investidor por um determinado período de tempo, pagando uma taxa pelo serviço.
Depois disso, o investidor vende o ativo emprestado no mercado pelo preço vigente e recebe o valor cheio na sua conta.
A partir daí, deve monitorar constantemente a operação, na expectativa de que sua cotação caia e ele possa recomprar o ativo por um preço mais barato, para ficar com a diferença entre o preço de venda e o de compra no bolso.
Por fim, o investidor precisa devolver o ativo ao seu titular original, pagando juros, dividendos ou taxas aplicáveis. Portanto, o resultado líquido da operação deve levar em conta todos esses custos envolvidos.
Agora vamos entender como funciona o short selling, ou venda a descoberto, para “fazer hedge”, como se costuma dizer no mercado.
Estratégia de proteção (hedging)
Neste caso, o objetivo do investidor é vender a descoberto um ativo que tenha uma correlação negativa com outro ativo que possui, a fim de compensar possíveis perdas de mercado.
A correlação negativa ocorre quando a tendência de preços de dois ativos é oposta, ou seja, quando um se valoriza, o outro tende a se desvalorizar.
Imagine, por exemplo, que um investidor queira se posicionar no setor de energias renováveis, esperando sua expansão por conta de incentivos governamentais, em detrimento do setor de combustíveis fósseis que, em sua avaliação, pode ser cada vez mais sobretaxado, reduzindo a perspectiva de lucro das empresas do segmento.
Neste caso, ele poderia comprar ações de uma empresa promissora de energias renováveis e proteger essa posição vendendo a descoberto, simultaneamente, ações de uma empresa de combustíveis fósseis que tende a ser prejudicada.
Com isso, caso o mercado de energia como um todo apresente uma queda, desvalorizando o preço de ambas as ações, a posição vendida (short) compensaria as perdas da posição comprada (long).
Short selling com derivativos
A estratégia de short selling também pode envolver derivativos, um tipo de contrato financeiro com preço atrelado a um ativo subjacente, como moedas, ações e commodities.
É, portanto, uma forma eficiente de proteger investidores e produtores contra movimentos cambiais ou de mercado desfavoráveis.
Imagine, por exemplo, que um produtor de trigo planeje fazer a colheita da sua safra em seis meses, mas está preocupado com a possibilidade de queda do preço do produto, reduzindo suas perspectivas de lucro ou até mesmo gerando prejuízos.
Nesse caso, ele pode mitigar esse risco vendendo a descoberto contratos futuros de trigo, fazendo uma espécie de “trava” de um preço fixo durante o período (seis meses, neste caso), pois tem uma posição “comprada” no mercado físico e uma “vendida” no mercado financeiro.
Liquidação física ou financeira
Vale lembrar que os contratos futuros nem sempre exigem a entrega física do produto em questão na data acordada; podem ter simplesmente uma liquidação financeira, isto é, em dinheiro, que é a forma mais utilizada atualmente para fazer hedging no caso de produtores e investidores. A liquidação física é mais comum no caso de consumidores que precisam do produto para venda ou como matéria-prima.
Em muitos mercados futuros modernos, a liquidação financeira é a norma, pois oferece maior flexibilidade e eficiência, eliminando a necessidade de manipulação física dos produtos. É uma ferramenta valiosa para hedging, pois permite que as partes envolvidas se protejam contra os movimentos de preço sem a necessidade de transacionar o ativo físico.
Como calcular os custos do short selling?
O resultado líquido de uma operação de short selling (venda a descoberto) pode ser calculado considerando o preço de venda inicial do ativo, o preço de recompra e todos os custos associados, como juros do empréstimo, corretagem da corretora e dividendos pagos (se aplicável).
Com isso, podemos criar a seguinte fórmula básica para calcular o resultado líquido:
R = [(V – R) x Q] – C
Em que:
- R é o resultado líquido da operação;
- V é o valor da venda do ativo emprestado;
- R é o preço pelo qual o ativo foi recomprado para fechar a posição;
- Q é a quantidade de unidades que foram vendidas a descoberto; e
- C são os custos associados.
Exemplo de cálculo
Suponha que um investidor vendeu a descoberto 100 ações de uma empresa por R$ 50 cada e mais tarde as recomprou por R$ 40 cada. Os custos associados (juros, corretagem, dividendos) totalizaram R$ 200. Assim, resumindo, temos:
- Preço de venda: R$ 50 por ação;
- Preço de recompra: R$40 por ação;
- Quantidade de ativos: 100 ações;
- Custos associados: R$200.
O cálculo, então, seria o seguinte:
R = [(50 – 40) x 100] – 200 = 800
Portanto, o resultado líquido da operação de short selling seria um lucro de R$ 800.
Note que, se o preço de recompra for maior que o preço de venda, o resultado será negativo, ou seja, o investidor teve prejuízo.
Além disso, a fórmula pode ser ajustada para incluir impostos ou outros custos específicos, dependendo da jurisdição e das circunstâncias individuais do investidor.
Riscos e considerações
Não é difícil perceber que o short selling também envolve riscos e desvantagens, que precisam ser devidamente avaliados e calculados pelos investidores, na hora de montar uma posição.
Entre os principais pontos de atenção a serem considerados, podemos destacar:
- Perdas ilimitadas: ao contrário de uma operação normal de compra e venda de ações, na qual o máximo que se pode perder é o valor investido, no short selling o potencial de perda é, em tese, ilimitado, pois não há uma restrição para a alta do preço do ativo. Se o ativo se valorizar muito, o investidor terá que comprá-lo de volta por um preço muito maior do que o que vendeu, gerando um prejuízo enorme. Além disso, o intermediário financeiro que emprestou o ativo pode exigir uma garantia adicional, a famosa “chamada de margem”, para cobrir o risco da operação. Se o investidor não tiver essa garantia, pode ser obrigado a fechar a posição com prejuízo.
- Custos do empréstimo: ao realizar uma venda a descoberto de um ativo, o investidor precisa pagar uma taxa de empréstimo pela operação, que varia conforme as condições de oferta e demanda do mercado. Além disso, o investidor pode ter que pagar juros, dividendos ou outras taxas previamente determinadas ao titular do ativo durante o período do empréstimo.
- Pressão psicológica: ao realizar um short selling, o investidor muitas vezes aposta contra a tendência geral do mercado, por julgar que o preço do ativo em questão está equivocado e tende a cair. Com isso, pode enfrentar uma pressão psicológica e emocional maior, pois terá que lidar com a volatilidade, as notícias, os rumores, as expectativas, etc.
- Risco de “squeeze”: o squeeze ocorre quando o preço de um ativo sobe abruptamente, devido a uma alta demanda e uma baixa oferta, forçando os vendedores a descoberto a fechar suas posições com prejuízo, para evitar perdas maiores. Essa forte alta repentina é intensificada justamente pelo fechamento de muitas posições vendidas ao mesmo tempo, o que pode gerar perdas substanciais aos investidores que estão short.
Estudo de casos
Existem vários exemplos de operações short bem-sucedidas na história, que demonstram como essa estratégia pode gerar lucros extraordinários, mas também exigem conhecimento, análise, disciplina e cautela.
Confira a seguir alguns casos reais de short selling, destacando as estratégias e as lições aprendidas:
O homem que quebrou o Banco da Inglaterra
Em 1992, o famoso investidor George Soros apostou contra a libra esterlina, que fazia parte do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (ERM, na sigla em inglês), responsável por manter as moedas europeias dentro de uma banda de flutuação.
Soros acreditava que a moeda britânica estava sobrevalorizada e que o Reino Unido não conseguiria manter sua taxa fixa, na medida em que enfrentava problemas econômicos e inflação alta.
O investidor, então, vendeu a descoberto mais de 10 bilhões de libras, forçando o Banco da Inglaterra a gastar bilhões de dólares para defender sua moeda.
No entanto, a pressão do mercado foi tamanha, que o Reino Unido se viu obrigado a sair do ERM, deixando a libra se desvalorizar.
Com a operação, Soros lucrou cerca de 1 bilhão de dólares, ficando conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”.
A lição desse caso é que o short selling pode ser usado para explorar as inconsistências e as vulnerabilidades das políticas econômicas e monetárias de um país, o que já foi feito em várias ocasiões no passado, especialmente em países emergentes.
David Einhorn e o Lehman Brothers
Em 2007, David Einhorn, fundador da gestora Greenlight Capital, percebeu que o banco de investimentos Lehman Brothers estava escondendo prejuízos com ativos “tóxicos” relacionados ao mercado imobiliário americano, que estava em crise.
Einhorn decidiu vender a descoberto as ações do Lehman, apostando que o banco iria quebrar. Ele também denunciou publicamente as práticas contábeis fraudulentas da instituição, que tentou desacreditá-lo e intimidá-lo.
No entanto, em 2008, o Lehman declarou falência, no maior colapso bancário da história, desencadeando uma crise financeira de proporções mundiais.
Einhorn lucrou cerca de 200 milhões de dólares com essa operação, mostrando que o short selling pode ser usado para expor e punir as fraudes e os abusos corporativos.
Michael Burry e a crise do subprime
Em 2005, o gestor Michael Burry, fundador da Scion Capital, previu que o mercado imobiliário americano iria entrar em colapso, pois estava baseado em empréstimos hipotecários de alto risco, chamados “subprime”.
Burry decidiu vender a descoberto esses empréstimos, usando credit default swaps (CDS), uma espécie de seguro contra o calote.
O gestor pagou um prêmio mensal para ter o direito de receber o valor total dos empréstimos em caso de inadimplência e, por isso, enfrentou muita resistência e desconfiança de seus clientes, que achavam que ele estava louco.
No entanto, em 2007, a crise do subprime se concretizou, e Burry lucrou cerca de 700 milhões de dólares com essa operação, sendo um dos poucos que anteciparam e se beneficiaram da crise.
A lição desse caso é que o short selling pode ser usado para se antecipar e se proteger de cenários de baixa, mesmo que eles pareçam improváveis ou impopulares .
Conclusão
Como vimos ao longo deste artigo, a venda a descoberto, ou short selling, serve tanto para fins especulativos como para proteção financeira, sendo, portanto, uma estratégia indispensável para investidores, instituições financeiras e empresas com exposição relevante a momentos de baixa ou de alta volatilidade do mercado.
Esperamos que as informações fornecidas tenham contribuído para seu entendimento dessa operação, permitindo que você também explore possíveis oportunidades em ciclos financeiros desfavoráveis.
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