Os family offices da América do Norte se destacaram em relação aos seus pares de outras regiões, como Europa e Ásia, ao aumentar suas alocações em private equity, real estate e commodities no último ano.
Em uma pesquisa com 383 escritórios norte-americanos responsáveis por administrar os recursos de famílias super-ricas da região, o Royal Bank of Canada descobriu que as estratégias de private equity estiveram no foco desses investidores, além de teses como investimentos sustentáveis e tecnologias emergentes.
Para lidar com os desafios de um ano extremamente volátil para os mercados financeiros, os family offices da América do Norte adaptaram sua atuação conforme as prioridades de cada família, adotando uma abordagem flexível, paciente e focada em oportunidades de longo prazo.
Isso explica por que esse tipo de investidor costuma alcançar retornos mais robustos e consistentes do que grande parte dos investidores institucionais, que vivem pressionados por seus clientes a entregar resultados trimestrais.
Neste artigo, vamos entender melhor quais foram as descobertas mais importantes obtidas pelo Royal Bank of Canada em sua pesquisa anual com family offices da América do Norte, buscando entender como esses investidores estruturam suas carteiras em um ano de correção e volatilidade nos mercados financeiros.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
- Estrutura ágil e foco no longo prazo: family offices agem rápido no pós-pandemia
- Como os family offices atuaram diante da volatilidade do mercado
- Inflação promove mudança para private equity, real estate e commodities
- Private equity é o foco principal
- Family offices norte-americanos superaram seus pares
- Investimento sustentável em alta
- Family offices estão investindo pesado em tecnologia
- Mudança geracional
Estrutura ágil e foco no longo prazo: family offices agem rápido no pós-pandemia
Após mais de dois anos de crise sanitária e os mais fortes estímulos econômicos da história recente, o mundo passou a viver uma espécie de ressaca pós-pandemia, diante da disparada da inflação e da correção dos mercados financeiros.
Os governos ao redor do mundo injetaram trilhões de dólares para recuperar e manter suas economias em funcionamento após o baque sentido no primeiro trimestre de 2020.
A resposta foi rápida em muitas economias, com a atividade voltando em pouco tempo aos níveis pré-crise e desemprego atingindo a mínima histórica, o que abriu espaço para que os ativos de risco retomassem força e quebrassem novos recordes.
Esse cenário de otimismo pós-pandemia também foi sentido na indústria de family offices, já que 86% acreditavam que teríamos, em 2022, um ano de continuidade do progresso econômico, de acordo com uma pesquisa anual realizada pelo Royal Bank of Canada com esse tipo de investidor.
Entre os principais pontos levantados pelo North America Family Office Report daquele ano, podemos citar:
- Crescimento: a indústria de Family Offices na América do Norte continua a crescer, com mais escritórios sendo criados e patrimônio líquido sendo gerenciado.
- Investimentos: os Family Offices estão aumentando suas alocações em investimentos alternativos, como private equity e imóveis, em busca de retornos maiores.
- Tecnologia: a tecnologia continua a ser uma prioridade para os Family Offices, com investimentos em segurança cibernética e soluções de gerenciamento de dados.
- Impacto social: há um interesse crescente em investimentos de impacto social entre os Family Offices, com muitos relatando que estão implementando estratégias de investimento para apoiar causas que são importantes para eles.
- Governança: a governança é uma área de foco crescente para os Family Offices, com muitos implementando estruturas formais de governança para ajudar a gerenciar seus negócios e as expectativas das famílias.
O que ocorreu no ano seguinte foi que a forte retomada do consumo, com o suporte das políticas fiscal e monetária, diante de uma cadeia de suprimentos ainda em recuperação, acabou provocando o retorno de um fenômeno que não era visto de forma mais intensa nas economias avançadas há muitas décadas: a inflação.
Após um período inicial de hesitação diante do fenômeno, tido como temporário pelos principais bancos centrais do mundo, o que se constatou foi que, de fato, veríamos um período mais persistente de inflação, o que exigiria um aperto das condições financeiras.
O resultado todos já conhecemos: o aumento da taxa de juros mais níveis mais restritivos nos EUA e na Europa provou uma grande onda de realocação de recursos no mercado financeiro, provocando fortes perdas nos principais títulos de renda fixa e variável.
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Como os family offices atuaram diante da volatilidade do mercado
Nesse sentido, como é que os family offices da América do Norte se comportaram para cumprir os mandatos das famílias cujos patrimônios estavam sob sua responsabilidade?
O que aponta o relatório North America Family Office Report 2022, do Royal Bank of Canada, é que nem todos estavam preparados para a inflação nos EUA, que atingiu seu pico mais alto dos últimos 40 anos, de 9,1% em junho daquele.
O documento faz uma análise estatística de 382 pesquisas com family offices em todo o mundo, sendo que 179 (ou 47 por cento) são provenientes da América do Norte.
A média de riqueza das famílias da região é de US$ 2 bilhões, enquanto sua riqueza cumulativa estimada é de US$ 363 bilhões. A média de ativos sob gestão (AUM – asset under management) de um family office da América do Norte é de US$ 1 bilhão.
Um aspecto importante do relatório é que o cenário de investimentos ficou ainda mais incerto e avesso ao risco depois que a Rússia tomou a inesperada iniciativa de fazer uma invasão em larga escala da sua vizinha Ucrânia, provocando uma desestabilização profunda dos mercados de commodities, com destaque para petróleo, gás natural, grãos e fertilizantes.
De acordo com o relatório:
Isso fez com que muitos family offices mudassem de opinião, diante dos temores de uma recessão iminente, causada pelo aperto da política monetária e o acirramento das tensões geopolíticas. Cerca de 68% dos entrevistados relataram que têm uma perspectiva negativa para os mercados financeiros em 2022/2023.
O que poderia ser um cenário adverso para investimentos se revelou, no entanto, repleto de oportunidades para os family offices da América do Norte, graças à sua abordagem de longo prazo e estrutura ágil e paciente de capital.
Constatamos que, no ano passado, 77% dos family offices pesquisados aumentaram seu patrimônio, enquanto 56% registraram um aumento no volume de ativos sob gestão.
Diante desses números extremamente positivos, é natural que se pergunte: como esses family offices conseguiram atingir uma performance tão boa em um ano extremamente desafiador para os mercados financeiros?
Entre os principais pontos levantados pelo relatório, podemos citar:
Redução do investimento em risco
A proporção de family offices norte-americanos que adotam uma estratégia de investimento orientada para o crescimento caiu de 43% em 2021 para 39% em 2022.
Essa mudança acompanha as quedas dos mercados acionários no primeiro semestre de 2022 e preocupações com inflação, aumento das taxas de juros e uma possível recessão.
Consequentemente, a proporção desses escritórios que adotam uma abordagem mais conservadora e equilibrada (preservação mais crescimento) cresceu de 47% para 51% ao longo do ano.
Um fato interessante é que 81% dos family offices apontaram que o risco de investimento era o principal risco para o patrimônio das famílias sob sua gestão.
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Inflação promove mudança para private equity, real estate e commodities
Atualmente, o risco mais significativo para os mercados financeiros é a inflação, de acordo com 88 por cento dos family offices norte-americanos.
Em seguida, vêm as preocupações com o aumento das taxas de juros (72 por cento) e riscos geopolíticos (53 por cento).
Para mitigar os efeitos da inflação, proporções consideráveis dos family offices pretendem investir mais em private equity (+46 por cento para fundos e +41 por cento para acordos diretos), real estate (+41 por cento) e commodities (+22 por cento) no próximo ano, e menos em renda fixa (-17 por cento para títulos de mercados emergentes e -10 por cento para títulos de mercados desenvolvidos).
Private equity é o foco principal
Ao mesmo tempo em que o investimento em ações permaneceu estagnado na América do Norte, o private equity se tornou o foco principal dos family offices.
E isso se deve a fatores como: excelentes retornos em 2021 (venture capital 26 por cento; fundos de private equity, 22 por cento; e investimentos diretos 21 por cento); um aumento notável na participação média da classe de ativos nas carteiras, de 22 por cento em 2021 para 27 por cento em 2022; e o desejo entre os escritórios familiares de investir mais em private equity em 2023 (46 por cento planejam alocar mais em fundos de capital privado, 41 por cento em acordos diretos e 35 por cento em capital de risco).
Family offices norte-americanos superaram seus pares
Os family offices norte-americanos superaram seus pares com um retorno médio da carteira de 15 por cento em 2021 em comparação com 13 por cento na Europa, 10 por cento na região Ásia-Pacífico e uma média global de 13 por cento. Esse desempenho é amplamente atribuído a fortes ganhos no setor de private equity, ações de mercados desenvolvidos e posições em real estate.
Investimento sustentável em alta
Mais de um terço (37 por cento) dos family offices norte-americanos agora praticam investimentos sustentáveis (47 por cento globalmente), um aumento em relação aos 34 por cento em 2021.
Atualmente, investimentos sustentáveis representam 20 por cento da carteira média desses investidores, um crescimento em relação aos 18 por cento em 2021.
A expectativa é que essa proporção aumente para 31 por cento nos próximos cinco anos (38 por cento globalmente).
O principal tema de foco dos escritórios familiares, quando o assunto é investimento sustentável, é a mitigação das mudanças climáticas, com 77 por cento investindo nesse setor.
Family offices estão investindo pesado em tecnologia
Os escritórios de gestão de patrimônio familiar da América do Norte investem principalmente em tecnologia de saúde, com 71% alocados nessa área, seguido por biotecnologia (62%), fintech (59%), tecnologia digital (52%) e tecnologia verde (50%).
Para o ano de 2023, as áreas mais propensas a ver um aumento nas alocações são a inteligência artificial, com 40% dos investidores atualmente investidos aqui planejando aumentar suas alocações.
Especificamente em relação a investimentos em criptomoedas e bitcoin, o relatório diz o seguinte:
Em meio a um ambiente economicamente turbulento e com alta inflação, no qual é comum que investidores se desfaçam de investimentos de alto risco, é interessante notar que 35 por cento dos family offices da América do Norte e 32 por cento em todo o mundo continuam investindo em criptomoedas. Além disso, 27 por cento dos investidores na América do Norte e 28 por cento em todo o mundo pretendem aumentar seus investimentos em 2023. Isso ocorre depois que as criptomoedas produziram um retorno anual médio de 11 por cento tanto na América do Norte quanto globalmente em 2021, refletindo um desempenho sólido, mas uma queda acentuada em relação ao retorno médio de 40 por cento do ano anterior.
Mudança geracional
Estamos no meio de uma grande transição geracional na qual trilhões de dólares estão mudando de mãos em todo o mundo.
Atualmente, 30 por cento das próximas gerações já assumiram o controle, enquanto 27 por cento devem fazê-lo nos próximos 10 anos. Apesar disso, apenas 54 por cento das famílias norte-americanas têm um plano de sucessão em vigor, enquanto apenas 33 por cento das empresas familiares têm um plano de sucessão para seus altos executivos.
Enquanto isso, um dos maiores desafios que as famílias enfrentam em relação à sucessão, apontado por 40 por cento dos entrevistados, é não ter um membro qualificado da próxima geração da família para assumir o controle.
Apesar dessa preocupação, os family offices estão investindo uma média de 2 pontos-base (ou aproximadamente 1,5 por cento de seus custos operacionais) na educação da próxima geração.
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