A melhora na perspectiva de crescimento econômico, no processo de desinflação e na queda de juros já começa a se refletir no volume de emissões realizadas no mercado de capitais nos últimos meses.
Um relatório elaborado pela Anbima mostra uma recuperação gradual das captações das empresas junto a investidores, que ganhou força a partir de maio, graças à melhora na percepção de risco.
Trata-se de um cenário bastante distinto do vivido no início do ano, quando ainda havia muitas incertezas com o direcionamento do arcabouço fiscal, a trajetória da inflação nas principais economias e o ambiente de juros interna e externamente.
De acordo com o documento, a maioria das emissões até agora no ano foi direcionada a capital de giro e investimentos em infraestrutura. Além disso, os títulos de securitização também se destacaram, ao registrar, no mês passado, o maior volume de emissão desde dezembro de 2022.
O que impulsionou esse resultado foram emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
A participação de investidores pessoas físicas também é ressaltada pela instituição, que constatou uma robusta participação desse público em subscrições de CRAs, por exemplo.
Já o foco do mercado de renda variável tem sido os follow-ons, que contribuíram para o melhor volume de captação dos últimos 12 meses.
Neste artigo, vamos explorar mais a fundo as razões que estão levando a uma retomada mais expressiva das emissões no mercado de capitais
Surgem primeiros sinais de retomada do mercado de capitais
O mercado de capitais já mostra os primeiros sinais de recuperação, após os números da atividade econômica, da inflação e do mercado de trabalho surpreenderem positivamente os analistas nos últimos meses.
Segundo um relatório divulgado recentemente pela Anbima – Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, o mês de julho registrou o segundo melhor mês do ano em captações de empresas junto a investidores, totalizando R$ 39,2 bilhões.
Esse resultado ficou atrás somente do mês de junho, que foi o mais movimentado até agora no ano, ao captar R$ 46,4 bilhões. Trata-se, portanto, de uma queda de cerca de 15% mês a mês, mas, no contexto da redução do apetite por risco dos investidores neste ano, o resultado indica uma tendência positiva de retomada.
Desde as emissões atingiram o pico atingido em 2021, com R$ 610,4 bilhões captados em renda fixa e variável, o mercado vem registrando queda substancial nos esforços de captações das empresas, sobretudo em razão do forte aumento de juros registrado de lá para cá.
Isso, evidentemente, acaba encarecendo o custo de capital, afetando os investimentos e a disposição dos investidores em tomar risco em determinados setores da economia, principalmente os mais afetados pela inflação e pelo aperto das condições financeiras.
Ativos que levam um tempo maior para entregar retorno sobre o investimento, como no caso de startups e venture capital, tornam-se menos interessantes no contexto de pressão de preços e níveis mais elevados de taxa livre de risco. Em outras palavras, a “paciência” dos investidores fica mais curta, os quais passam a exigir uma remuneração mais elevada para financiar as empresas via mercado de capitais.
Essa situação se intensificou desde que o Banco Central empreendeu um de seus mais agressivos movimentos de alta de juros dos últimos anos, ao levar a taxa Selic da mínima histórica de 2% no primeiro trimestre de 2021 para o pico de 13,75% até julho de 2023, o que explica, em grande medida, a queda registrada no volume de emissões durante o período.
Os dados mostram que houve um declínio no volume total de captações domésticas de renda fixa e variável em 2022, com R$ 545,9 bilhões, o que representa uma redução de 11% em relação a 2021.
Esse resultado foi influenciado pela diminuição das emissões de ações, que somaram R$ 72,8 bilhões no ano passado, uma queda de 46% ante o ano anterior. Por outro lado, as emissões de debêntures mantiveram um bom desempenho em 2022, com R$ 270,6 bilhões, um aumento de 8% em relação a 2021. Esses números indicam que, apesar do forte aperto monetário e das incertezas político-econômicas no país, houve uma certa estabilidade do mercado de capitais brasileiro no ano passado.
Entretanto, a tendência de queda no volume de emissões manteve-se em 2023, quando houve um profundo declínio nos esforços de captação das empresas com apenas R$ 192,8 bilhões até agosto, uma redução de 68% em relação ao mesmo período de 2022.
Houve, portanto, uma retração do mercado de capitais brasileiro neste ano, devido à redução da demanda e da oferta de recursos no mercado de capitais. Além disso, os níveis elevados de juro real, diante do acelerado processo de desinflação, reduziram o apetite dos investidores por instrumentos de renda fixa, especialmente aqueles com prazos mais longos e taxas prefixadas.
Entre os instrumentos de renda fixa emitidos no mercado doméstico, as debêntures se mantiveram como as mais relevantes ao longo dos anos, representando cerca de 40% do volume total captado entre 2017 e 2023.
Outro instrumento que ganhou destaque nos últimos anos foi o Fiagro que, já realizou 17 emissões que somaram R$ 1,4 bilhão até agosto de 2023.
Dados de emissões em julho são promissores
Nos últimos meses, o que vimos foi uma melhora na percepção de risco, sobretudo com o aumento da nota de crédito do Brasil pela Fitch e a expectativa de início do ciclo de flexibilização monetária pelo Banco Central.
Isso acabou impulsionando a retomada do mercado após as incertezas enfrentadas no início do ano. As ofertas em andamento e em análise somam R$ 8,9 bilhões e R$ 4,5 bilhões, respectivamente.
As debêntures representaram cerca de 32% do total emitido em julho, somando R$ 12,5 bilhões. Os prazos médios ficaram em 6,1 anos, semelhantes aos 6,2 anos registrados no mesmo período do ano anterior. A maioria das emissões foi direcionada para o capital de giro e investimentos em infraestrutura.
O segmento de ativos de securitização também teve destaque, alcançando o maior volume de emissão desde dezembro de 2022, totalizando R$ 12,5 bilhões. Esse resultado foi impulsionado pelas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). É importante notar que houve um expressivo número de investidores pessoas físicas nas subscrições dos CRAs.
Em relação aos indexadores, apesar de 56,5% do volume emitido estar atrelado ao DI+ spread, os ativos atrelados a um percentual do DI ganharam relevância nos últimos meses. Por outro lado, os ativos atrelados ao IPCA tiveram uma redução significativa.
Início da flexibilização de juros promete acelerar emissões
Na última reunião realizada no início de agosto, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, iniciando, assim, o gradativo processo de queda dos juros na economia.
Foi uma decisão tomada com base na análise da conjuntura econômica doméstica e internacional, no balanço de riscos para a inflação e nas projeções de inflação da autoridade monetária.
O Copom avaliou que o cenário externo se mostra incerto, com desinflação na margem, mas núcleos de inflação ainda elevados, desaceleração gradual da atividade e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países.
A ata da reunião afirma que os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, seja dando continuidade a seus ciclos de aperto monetário, seja sinalizando um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias.
No âmbito doméstico, a autoridade monetária observou uma desaceleração gradual da atividade econômica, com alguma retração no setor de comércio, estabilidade na indústria e certa acomodação no setor de serviços.
O mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem. A inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, em particular nos componentes referentes a bens industriais e alimentos.
Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram queda, mas mantêm-se acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 recuaram e encontram-se em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
O Copom considerou diferentes cenários e análise de riscos para a inflação prospectiva. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
A decisão de baixar o juros pelo comitê, dando início a um ciclo gradual de flexibilização monetária, foi tomada de forma unânime, havendo, no entanto, divergência em relação ao ritmo de afrouxamento. Por 5 a 4, os membros do comitê decidiram baixar a taxa básica em 0,50%, o que foi considerado agressivo por parte dos analistas do mercado.
O Comitê unanimemente avaliou que a evolução do cenário desde a última reunião permitiu acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária. Tal avaliação perpassou diferentes dimensões, como o comportamento positivo das expectativas de inflação após a definição da meta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a dinâmica recente de inflação mais benigna do que era esperado e a adequação de recalibrar a taxa de juros real em função dos movimentos nas expectativas de inflação.
Diante disso, a expectativa é que a retomada das emissões no mercado de capitais continue firme e ganhe ímpeto nos próximos meses, especialmente diante da expectativa de queda mais vigorosa das taxas de juros a partir do ano que vem.
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