Os gestores dos principais fundos multimercados do país estão mais otimistas com o cenário econômico e os ativos locais, principalmente com a bolsa brasileira, graças ao avanço da agenda fiscal e surpresas positivas com a inflação.
Uma pesquisa mensal realizada pela Empiricus Research junto às equipes dos fundos mais relevantes do nosso mercado mostra que houve uma mudança significativa em suas posições em bolsa.
O posicionamento líquido dos gestores deixou de ser vendido para se tornar comprado em ações brasileiras, evidenciando um apetite maior para o risco.
Além disso, o levantamento mostra que uma perspectiva mais construtiva para o ambiente local levou a um fechamento mais forte das curvas de juros, refletindo um possível início de ciclo de queda da Selic em agosto.
No cenário global, sua postura segue cautelosa, principalmente diante dos níveis ainda elevados de inflação e necessidade de posicionamento mais duro dos bancos centrais.
É relevante conhecer a visão desses gestores, na medida em que são investidores mais bem informados e com grande influência, capazes de antecipar tendências futuras nos mercados em que atuam.
Por isso, vamos explorar melhor neste artigo as perspectivas e posições dos principais gestores de fundos multimercados do país com base no levantamento da Empiricus, a fim de saber sua visão para o mercado brasileiro e global.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são:
Gestores mostram otimismo com economia e maior apetite para o risco
Os ativos locais estão mais atraentes neste momento para os gestores dos principais fundos multimercados do país, que demonstram um otimismo maior com a trajetória fiscal e o processo desinflacionário no horizonte relevante.
É o que aponta um levantamento mensal realizado pela Empiricus Research, que fornece um resumo das principais visões e posições consolidadas desses influentes investidores.
As informações são retiradas principalmente das cartas enviadas ao público em geral e respaldadas por uma pesquisa mensal feita pela Empiricus junto às equipes dos próprios fundos analisados.
Foram ouvidas 41 gestoras multimercados, com um índice de resposta de 100%, abordando temas como Ibovespa, arcabouço fiscal, meta de inflação, bolsa, juros e cenário global.
Dessa forma, a pesquisa abordou temas macroeconômicos, tanto no Brasil quanto no exterior, bem como classes de ativos normalmente operadas dentro dos fundos multimercados, a fim de compreender qual é seu grau de convicção.
O objetivo da casa de análise é saber suas visões de cenário e posições, tanto em âmbito local quanto global, representando, portanto, um panorama bastante aproximado da composição do seu portfólio atual.
Conjuntura local
Os gestores de fundos multimercados estão mais otimistas com a conjuntura econômica e os ativos locais, principalmente a bolsa brasileira, por conta do avanço da agenda fiscal e de surpresas favoráveis na inflação.
De acordo com o documento:
No Brasil, os sentimentos para o crescimento do PIB e a inflação apresentaram melhora relevante, considerando o arrefecimento da inflação local e o andamento de agendas do governo, que reduzem riscos importantes. Por outro lado, o campo fiscal segue em patamar pessimista, apesar da menor intensidade.
Houve uma mudança significativa no posicionamento em ações locais, que passou de vendido para comprado em termos líquidos, refletindo o maior apetite por risco dos investidores. Além disso, o avanço benigno da desinflação permitiu um fechamento maior das curvas de juros, precificando uma queda da taxa Selic já em agosto.
Como mostra o gráfico, o principal destaque, em termos de posição no mês de maio, foi a “virada de mão” nas ações brasileiras, saindo de uma posição líquida vendida para uma postura bem mais agressiva na compra, o que revela um viés mais construtivo para os ativos de risco locais pelo mercado.
Entre os outros pontos destacados pelo levantamento junto aos principais gestores do país, podemos citar:
- Meta de inflação: mercado permanece atento à reunião do Conselho Monetário Nacional ao final de junho para discutir possíveis mudanças na meta de inflação, podendo influenciar nos limites das bandas e no método de cálculo;
- Inflação: dados recentes demonstram arrefecimento na inflação, auxiliados pela queda nos preços de commodities e revisões nos preços de alimentação e energia em 2023, o que pode ser favorável a uma manutenção da meta de inflação pelo governo;
- Bolsa: investidores seguem mais construtivos com as ações brasileiras, diante do avanço da agenda fiscal e de surpresas favoráveis na inflação, o que contribuiu para o bom desempenho dos ativos locais no mês;
- Juros: em linha com o comentário para a bolsa brasileira, as perspectivas mais construtivas com o ambiente local levaram a um fechamento mais forte das curvas de juros. Além disso, espera-se o início do ciclo de queda da Selic cada vez mais próximo, provavelmente em agosto.
Cenário global
Já em relação ao panorama internacional, os gestores se mostraram mais pessimistas em maio, citando incertezas com a inflação e todo o imbróglio político envolvendo o teto da dívida americana.
Dados econômicos nos Estados Unidos mostraram que a atividade continuou resiliente, com maior aderência da inflação, o que pode levar o Federal Reserve a dar continuidade ao ciclo de alta de juros no país.
Na decisão tomada ontem, 14 de junho, o banco central dos EUA resolveu manter a taxa de juros em cerca de 5%, diante dos sinais de arrefecimento da inflação, mas sinalizou que pode voltar a aumentar os juros caso os índices de preços continuem aderentes em níveis elevados.
A decisão do Fed ocorreu em meio a dados econômicos que mostram uma economia resiliente, com mercado de trabalho forte, o que aumenta a possibilidade de juros elevados por mais tempo ou ainda de novas elevações no futuro, apesar da crise bancária recente vivida no país em instituições de pequeno e médio porte.
Essa perspectiva de restrição financeira maior nos EUA, aliada a todo o imbróglio político envolvendo o teto da dívida no país, fizeram com que os gestores se mostrassem mais cautelosos com os ativos americanos no mês passado.
De fato, como mostra o gráfico de pontos com as previsões da maioria dos membros do comitê de política monetária do Fed, a expectativa é que os juros continuem elevados este ano, na faixa de 5,5%.
Entre os outros pontos importantes citados na pesquisa em relação à conjuntura internacional, podemos citar:
- Europa: dados de atividade apresentaram desaceleração, com possibilidade de continuarem fracos nos próximos meses. A inflação na região deu sinais de arrefecimento;
- Reino Unido: contrapondo o restante da Europa, a inflação no Reino Unido surpreendeu para cima e, com isso, o Banco Central Inglês, que parecia estar se aproximando do fim do ciclo de alta, deverá continuar o aperto monetário;
- China: a economia chinesa apresentou piora nos dados de atividade recentes, com desaceleração no setor de construção residencial, sem sinais críveis de recuperação. A mídia local, por outro lado, apontou que o governo estaria disposto a se endividar mais para estimular a economia.
Posicionamento em ouro
Como tema exclusivo do mês de maio, a pesquisa da Empiricus buscou entender a visão dos gestores sobre o papel do ouro nos portfólios e os impactos do aumento do teto da dívida americana sob a restrição de liquidez e ativos de risco da região.
O levantamento mostrou que a maior parte dos gestores (62%) não tem posições em ouro, mas, dos que têm, a maioria (35%) segue com viés comprado.
O ouro representa uma pequena parcela do portfólio das estratégias, com posições que giram entre 0% e 5%, e tem a função principal de descorrelação e redução de risco.
Além disso, mais de 80% dos gestores demonstraram pouca ou nenhuma preocupação em relação ao teto da dívida americana, tendo pouca influência no posicionamento efetivo das estratégias para o futuro próximo.
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