Os obstáculos macroeconômicos estão impactando as operações de private equity e venture capital ao redor do mundo, mas excelentes oportunidades ainda estão surgindo nos ativos alternativos.
É o que afirma a Preqin, uma das mais importantes empresas de análise, pesquisa e consultoria sobre investimentos alternativos do mundo, em seu panorama para o setor neste ano.
Segundo o Preqin Global Report 2023: Alternative Assets, a empresa destaca que acabamos de viver um ano profundamente marcado pela volatilidade, pela incerteza e pela aversão nos mercados financeiros.
A normalização das taxas de juros nas principais economias provocou uma ampla redefinição de valuations nas diferentes classes de ativos, e os investimentos alternativos não ficaram imunes a essa tendência.
Mesmo assim, a Preqin acredita que os ativos sob gestão com foco em private equity devem alcançar US$ 23,3 trilhões nos próximos anos, uma alta de US$ 9,6 trilhões, ou 9,3%, em comparação com 2021.
Isso mostra a resiliência do setor nos diferentes ciclos da economia global e ressalta a importância da alocação estratégica de recursos em empresas de capital privado, menos suscetíveis às fortes oscilações do mercado financeiro.
Neste artigo, vamos nos aprofundar na análise feita pela Preqin para os ativos alternativos neste ano e quais são as perspectivas para o segmento em um ambiente ainda caracterizado pelos juros e pela inflação em alta.
Os tópicos que vamos abordar a partir de agora são os seguintes:
Alternativos seguem crescendo, mas de maneira desigual
O cenário de investimentos em 2022 foi extremamente desafiador em todas as classes de ativos, para dizer o mínimo.
A reação agressiva dos bancos centrais ao aumento da inflação provocou uma reversão do otimismo com a reabertura pós-pandemia, corrigindo, em parte, os excessos criados durante a retomada econômica.
A visão de que o aumento dos preços era “temporário” defrontou-se com a dura realidade do mais grave conflito bélico em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
A esperada normalização das cadeias de produção não ocorreu com a velocidade esperada, e os problemas de oferta acabaram sendo acentuados pela invasão da Rússia na Ucrânia há um ano.
A perspectiva de uma grave crise energética na Europa Ocidental trouxe volatilidade aos mercados financeiros e uma profunda aversão ao risco em todas as classes de ativos, provocando acentuadas quedas em todas as partes.
O índice de ações globais MSCI ACWI despencou mais de 20% em 2022, enquanto o índice agregado de títulos da Bloomberg recuou 15,7%.
Os ativos alternativos, como não poderia ser diferente, não ficaram imunes a esse movimento.
Segundo o Preqin Global Report 2023, a euforia vivida nos mercados de private equity e venture capital em 2021, por conta dos maciços estímulos econômicos, sofreu uma drástica reversão no último ano.
Correção de mercado e oportunidades
Houve uma profunda queda dos valuations, das captações e das operações de fusão e aquisição no segmento, em razão do impacto do aumento de juros e do enxugamento da liquidez até então abundante.
O capital de risco está sofrendo grande pressão por resultados no curto prazo, o que está rebaixando o valuation dos ativos e tornando mais difícil a saída de investimentos com lucro. Mas as oportunidades não sumiram de todo. Ainda existe meio trilhão de dólares em capital disponível (dry powder), principalmente em fundos de investimento, à procura de bons ativos e operações oportunísticas.
É possível dizer que os investidores ficaram mais cautelosos em suas alocações, o que provocou uma mudança perceptível nas preferências do mercado, saindo de classes de ativos mais arriscadas para ativos reais mais seguros e, sobretudo, crédito privado (dívida).
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Dìvida corporativa ganha destaque com aumento de juros
De fato, a elevação dos juros e o comportamento mais defensivo dos investidores deixou as operações de dívida privada mais atraentes no curto prazo, em especial de empresas de capital fechado com boa classificação de risco (rating).
Nossa expectativa é que haja um crescimento contínuo nas operações de dívida privada em decorrência desse cenário, com previsão de que os ativos sob gestão registrem um crescimento anual composto (CAGR) de 10,8% ao longo dos próximos cinco anos.
Da mesma forma, a Preqin prevê que a alta dos preços de energia e commodities permitirá que os gestores de infraestrutura e recursos naturais gerem bons retornos aos investidores, ainda que essa classe de ativos tampouco esteja imune aos custos maiores do crédito, devido à alta das taxas de juros.
Cenário para captações de private equity fica mais complexo
Além disso, a empresa de análises e consultoria líder em investimentos alternativos no mundo acredita que será mais complicado captar recursos em operações de equity enquanto persistir o atual pano de fundo.
Enquanto a perspectiva econômica mundial permanecer turva, as empresas de private equity vão enfrentar dificuldades para gerar retornos, razão pela qual acreditamos que haverá uma queda de 13,5% nos retornos globais do setor entre 2021 e 2027, em comparação com a excelente taxa de retorno anual de 15,4% alcançada no período de 2015 a 2021.
Em termos geográficos, a Preqin avalia que os fundos de private equity da região Ásia-Pacífico terão o pior desempenho, com retornos de 11,6% no período de 2021-2027, uma queda em relação à performance de 12,8% em 2015-2021.
A maior influência para esse resultado será a China, cuja economia deve crescer menos do que o esperado, além da incerteza regulatória, que vem aumentando no país nos últimos anos.
Venture capital sofre pressão, mas ainda oferece oportunidades
Para o futuro próximo, a Preqin acredita que as operações de capital de risco (venture capital) são as que apresentam maior risco, diante da incerteza e da pressão dos investidores por resultados no curto prazo.
No entanto, a empresa ressalta que o cenário em 2023 para o setor pode registrar uma melhora, diante da profunda queda dos valuations e da menor competição por acordos envolvendo empresas em crescimento.
Na visão da Preqin, isso criará mais oportunidades para que os gestores focados em venture capital realizem operações mais oportunísticas, empregando o capital disponível (dry powder) em ativos com preços mais atraentes e melhores perspectivas de resultados.
A Preqin acredita que a quantidade de dry powder aumentará para 659,1 bilhões de dólares até o fim de 2027, o que representa uma alta em relação aos 530,8 bilhões de dólares registrados em setembro de 2022.
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