Não demorou muito para que o fenômeno do “caça-cliques” ganhasse força no mundo dos investimentos com o segundo corte consecutivo da taxa Selic.
Essa foi a oportunidade perfeita para que influenciadores e casas de análise – que vivem de atenção e venda de relatórios – se apressassem para dizer que é hora de mudar a carteira.
Mas especialistas apontam que, apesar dessa queda inicial, é bem provável que os juros ainda fiquem bastante elevados no curto prazo.
Para quem busca ganhos acima da média, é indispensável ter uma boa estratégia de diversificação, com objetivos claros e foco nos ativos que respeitem seu perfil de investidor.
E, muitas vezes, as melhores oportunidades estão fora dos ativos tradicionais de renda variável, que ainda devem continuar voláteis e arriscados diante dos juros elevados.
Então, como fugir do frenesi dos “caça-cliques” e identificar investimentos que realmente têm potencial para entregar excelentes retornos, e ainda com impacto positivo na economia real?
Confira tudo no artigo a seguir e fique por dentro dos seguintes tópicos:
Até onde vai a queda de juros?
Essa é a pergunta que não sai da cabeça de muitos investidores, agora que o Banco Central começou a reduzir a Selic, taxa de juros referencial da economia.
Quando os juros caem, os títulos de renda fixa podem ficar menos atrativos, levando alguns investidores a reavaliar suas carteiras.
Mas será que este é o momento de sair da renda fixa, principalmente de segmentos mais rentáveis, como crédito privado?
Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – responsável por definir a taxa de juros – ressaltou que a Selic continuará em patamar restritivo.
Ou seja, apesar de prever novos cortes de 0,50% nos juros este ano, a Selic deve seguir elevada, terminando 2023 em 11,75% e 2024 possivelmente ao redor de 9%, de acordo com especialistas.
Apesar de cortes, Selic deve continuar alta
O BC entende que a economia está registrando um ritmo mais moderado de inflação, mas esse processo está ocorrendo de forma mais lenta do que o usual.
Diante disso, ele destaca a necessidade de agir com calma e prudência na implementação da política monetária, mantendo os juros em patamar “contracionista”, isto é, elevado, até que a inflação volte para dentro da meta estipulada.
Especificamente, a última decisão do Copom ressaltou o seguinte:
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.“
Obstáculos para juros mais baixos
Essa perspectiva de que os juros ficarão mais altos por algum tempo por aqui se sustenta em alguns pontos destacados pelo Copom.
O primeiro deles é o fato de os juros de longo prazo nos Estados Unidos estarem em seu nível mais alto das últimas décadas, ao redor de 5,50%.
Além disso, a retomada econômica da China pós-pandemia tem frustrado muitos analistas, gerando maior atenção para o risco nos países emergentes.
Entre os outros pontos elencados pelo BC, podemos citar:
- Persistência das pressões inflacionárias globais.
- Resiliência na inflação de serviços, devido a uma demanda mais forte.
- As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 em torno de 4,9%, 3,9% e 3,5%, respectivamente, segundo a pesquisa Focus.
Sem realocação de portfólio no momento
Diante desse cenário, o economista Alexandre Jorge Chaia, professor do Insper, defende que os cortes iniciais de juros pelo Banco Central não devem provocar uma mudança muito grande no portfólio dos investidores:
“A taxa deve cair este ano até 11,75% chegando abaixo de 10,00% no final de 1º semestre do ano que vem. Como a taxa dos Estados Unidos deve ficar entre 5,00% e 5,50%, a taxa do Brasil não deve cair abaixo de 9,00%. Assim não vejo uma realocação grande de portfólio.“
Quem corrobora com essa visão é Jessica Mota, CBDO da Bloxs:
“É importante entender que não há necessidade de alarme nem de reconfiguração abrupta de portfólios de investimento, uma vez que, no curto prazo, o recente ajuste da Selic não promoverá mudanças significativas.“
Jessica ressalta ainda que “algumas notícias recentes parecem mais um esforço para gerar discussão do que uma análise substancial da situação econômica”.
Em sua visão, a expectativa é que a Selic alcance 9% ao final de 2024, um período extenso, durante o qual muitos fatores econômicos, volatilidade e condições de mercado internacional podem sofrer alterações.
“Recentemente, acompanhei uma discussão em um grupo de investidores sobre a conveniência de sair do CDI para privilegiar outros rendimentos prefixados. Mas, diante do CDI elevado ainda por dois anos, qual seria o propósito dessa mudança? Ainda é possível se beneficiar de taxas de juros elevadas.“
Mídia busca cliques a qualquer custo
Nesse contexto, é muito importante que os investidores tenham bastante cuidado com alguns tipos de manchetes e formadores de opinião, que vivem de cliques e fazem tudo para dar a impressão de que você precisa fazer grandes mudanças em sua carteira.
No entanto, apesar dessa redução inicial da Selic, o efeito da queda de juros não é imediato na maioria dos casos, principalmente em investimentos prefixados, de acordo com Márcio Paiva, Head de Originação da Bloxs:
“Existe um intervalo de tempo considerável até que a redução da taxa Selic se reflita em reduções reais no mercado, e os investidores devem estar cientes dessa dinâmica ao tomar decisões de investimento.“
Paiva explica que a redução efetiva das taxas ocorre gradualmente, obedecendo à lei da oferta e da demanda. Os primeiros recursos são alocados onde há maior retorno, e somente quando as opções de alta rentabilidade se esgotam é que os gestores começam a assumir mais riscos, alocando em operações com taxas menores.
Ele também destaca que o crédito no Brasil é escasso e concentrado, com grandes instituições bancárias controlando a maior parte dos recursos.
“As grandes empresas são as primeiras a se beneficiarem de reduções na Selic, enquanto as médias e pequenas empresas experimentam os efeitos mais lentamente.“
LEIA TAMBÉM: Bloxs Crowdfunding dá passo adiante com sua primeira nota comercial de distressed assets via CVM 88
Onde investir no atual cenário de juros?
Marcio Paiva, da Bloxs, destaca que a queda de juros reduz as despesas financeiras e os custos de captação para as empresas, mas esse benefício é sentido primeiro pelas grandes companhias e, gradualmente, se estende para pequenas e médias empresas.
“Assim, uma boa opção para os investidores que desejam diversificar a carteira e buscar uma rentabilidade maior seria acompanhar operações de crédito privado de pequenas e médias empresas, que ainda apresentam taxas de remuneração bastante atraentes. Alguns segmentos, como o agro, oferecem ainda o benefício da isenção do imposto de renda, maximizando os resultados.“
Além de operações de crédito privado de pequenas e médias empresas, Paiva destaca ainda oportunidades em segmentos emergentes e com grande potencial de retorno nos próximos anos, como cannabis medicinal e créditos de carbono.
Segundo ele, são teses “exponenciais”, que podem surpreender os investidores que desejam participar de projetos de alta qualidade e com grande expectativa de retorno.
“Outra alternativa para os investidores que desejam sair do tradicional e conseguir um retorno maior é entrar em segmentos que antes estavam fechados para o pequeno investidor, como a classe de distressed assets. Já existem operações no mercado focadas em ativos “estressados”, que contam com o apoio de especialistas e costumam trazer retornos acima de 20% ao ano em cálculos conservadores.“
Em todos os casos, a diversificação é crucial para mitigar os riscos. Por isso, os investidores devem buscar diferentes classes de ativos, inclusive investimentos alternativos, para maximizar o potencial de retorno de suas carteiras.
A queda da Selic impacta diretamente os retornos da renda fixa tradicional, mas há diversas opções de investimento que podem ser consideradas para maximizar os ganhos e minimizar os riscos no atual cenário de juros, como a renda fixa.
Mesmo com a queda da Selic, a renda fixa continua sendo uma opção atrativa, especialmente para investidores mais conservadores. Há produtos no mercado oferecendo rendimento a partir de 100% do CDI, proporcionando segurança e retornos consistentes.
Em conclusão, a diversificação de portfólio, considerando tanto renda fixa como variável, e a análise cuidadosa de riscos e retornos são essenciais para navegar neste cenário e aproveitar as oportunidades que surgem com a mudança no cenário econômico.