A AZ Quest, gestora do grupo italiano Azimut em parceria com a XP, pretende expandir sua atuação em investimentos alternativos para além do agronegócio, onde já tem R$ 900 milhões sob gestão em dois Fiagros.
Agora, o plano é avaliar mais oportunidades nos setores de infraestrutura e imobiliário que tenham bom potencial de geração de caixa, nível de governança adequado, impacto socioambiental positivo e risco regulatório controlado.
Para estruturar essas operações de alternativos, a gestora pretende lançar mão de diferentes instrumentos, como debêntures, ações preferenciais resgatáveis e equity kicker.
O foco é trazer para os cotistas empreendimentos capazes de entregar um retorno equivalente a CDI mais 5% líquidos, podendo haver operações em IPCA+, com hedge para transformação em CDI+.
No entanto, o que a gestora busca mesmo são empreendedores com “skin in the game”, ou seja, que estejam totalmente comprometidos e arriscados no projeto, para garantir total alinhamento de interesses e expectativas realistas.
Busca Recursos no Mercado de Capitais?
Deixe o nosso algoritmo encontrar investidores para você!
Para saber mais sobre as empresas e projetos alternativos que estão na mira da AZ Quest, a Bloxs recebeu Luiz Guilherme Hoelz, analista na estratégia de Infraestrutura da gestora, para entender melhor quais são os critérios adotados pela empresa na hora de selecionar uma oportunidade e quais são as operações que já estão em carteira.
Confira a seguir os tópicos mais importantes desse bate-papo conduzido por Rubens Venosa Filho, Head de Distribuição da Bloxs:
AZ Quest expande atuação e mira bons projetos alternativos
Em meados do ano passado, a AZ Quest deu o pontapé inicial em seu plano para ingressar no segmento de investimentos alternativos, criando uma nova empresa com um patrimônio avaliado em R$ 1 bilhão.
Em linha com a sua cultura de inovação e busca constante de novas formas de agregar valor aos seus clientes, a gestora pertencente ao grupo italiano Azimut passou a avaliar oportunidades no agronegócio e ampliou o foco para projetos de infraestrutura e real estate.
Segundo Luiz Guilherme Hoelz, analista na estratégia de Infraestrutura da companhia, o objetivo é usar fundos de investimentos em infraestrutura com mandato flexível para entregar um retorno de CDI mais 5% líquidos aos cotistas, podendo envolver também operações em IPCA+, com “hedge” para transformar em CDI+.
“Sempre buscamos empreendedores com ‘skin in the game’, que estejam comprometidos e arriscados nos projetos, trazendo também garantias externas, como imóveis, recebíveis ou fazendas”, afirma Luiz, ao explicar que a AZ Quest também leva em consideração o perfil, a seriedade e o track record de quem está à frente dos empreendimentos.
A gente quer entender o que eles já fizeram no passado, o que fizeram com os projetos que já desenvolveram, quais são os seus planos para o futuro e se já captaram recursos no mercado.
Critérios mais importantes em infraestrutura
No segmento de energia, Luiz afirmou que a gestora para o portfólio de projetos das empresas, a fim de verificar quantos megawatts já têm em operação, em construção ou foram construídos pelos desenvolvedores.
Além disso, a AZ Quest revelou, em entrevista à Bloxs, que a análise das demonstrações financeiras não leva tanto em consideração o faturamento, mas procura avaliar o nível de endividamento e patrimônio líquido das empresas, no intuito de entender o que elas devem, para que assumiram essas obrigações e como os recursos foram e estão sendo utilizados.
Aliás, na avaliação dos projetos que a gestora busca financiar dentro do segmento de infraestrutura, o foco é determinar o potencial retorno, preferencialmente com risco baixo.
Luiz revelou que 50% da carteira do segmento está alocado em energia solar, mais especificamente em geração distribuída, que é um segmento que “cresceu muito nos últimos anos e tem uma demanda reprimida no Brasil”.
Entre as outras oportunidades visadas pela companhia no setor estão projetos de telecomunicações, saneamento, rodovias, portos e aeroportos.
Buscamos projetos que tenham uma boa relação entre o custo de capital e o retorno esperado, que apresentem uma boa estrutura jurídica e regulatória, além de uma boa governança, com impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.
Skin in the game
Um ponto bastante ressaltado pelo analista de Infraestrutura da AZ Quest é o fator “skin in the game”, ou seja, o nível de comprometimento financeiro dos empreendedores nos projetos avaliados.
Para Luiz, esse aspecto é essencial na tese da gestora, que não quer dar um “free ride” para os empreendedores, mas sim ajudá-los a desenvolver novos projetos e crescer.
“Não temos uma métrica fixa para o ‘skin in the game’, mas analisamos caso a caso se o empreendedor está investido no projeto ou se traz alguma garantia externa que mostra que os interesses estão minimamente alinhados”, explica.
Além disso, ele afirmou que a gestora quer ver o empreendedor “com a barriga no balcão”, preocupado com a performance do projeto, e não apenas “curtindo o cash out”.
Tipos de operações visadas pela AZ Quest
Ao abordar os tipos de operações que a gestora faz para financiar projetos de infraestrutura, Luiz diz que não há uma preferência ou restrição pelo tipo de papel, mas há regras que os fundos de participação precisam seguir, como lastro em infraestrutura.
Nesse quesito, ele ressaltou que os fundos da companhia não podem comprar CRIs ou CRAs, que são voltados ao imobiliário e ao agronegócio. Por isso, cerca de 90% da carteira está investida em debêntures e 10% em ações preferenciais resgatáveis (APRs), que são uma forma de “dívida travestida de equity”.
A gestora procede dessa forma em empresas que tenham um bom nível de governança e queiram subir mais na estrutura de capital para entregar mais “alfa” aos cotistas.
Outros aspectos relevantes destacados por Luiz são as cláusulas de governança e influência que a gestora coloca nas debêntures, como veto à mudança de objeto social, à venda da companhia ou ao endividamento excessivo.
Garantias buscadas nas operações
Ao ser questionado sobre as garantias que a gestora aceita nas operações com alternativos, Luiz responde que não há uma garantia específica visada, mas que a empresa faz uma análise detalhada, caso a caso, a fim de buscar algum lastro externo, sejam imóveis, recebíveis ou até mesmo fazendas.
Usamos o loan to value (LTV) como uma métrica para medir o quanto do capital a risco estamos desembolsando em relação ao valor de mercado do ativo. Gostamos de começar uma operação com um LTV de 50%, mas que pode chegar até 70%, que é o limite da estratégia. Neste último caso, podemos pedir mais garantias externas ou parar a operação e vender os ativos.
A ideia, segundo ele, é ter uma boa margem de segurança, caso seja necessário vender o ativo com desconto.
Operações na carteira
Luiz revelou que a AZ Quest não estabelece um limite de prazo para as operações, mas busca projetos que paguem juros desde o início ou que tenham um prazo mais curto, dependendo da duração da carteira. Atualmente, a gestora tem operações que vão de 5 a até até 12 anos de duração.
Para os cotistas dos fundos de investimento em participações de infraestrutura, o foco é entregar um retorno de CDI mais 5 líquidos, podendo envolver também operações em IPCA+, fazendo um hedge para transformar em CDI+.
Outra alternativa é o equity kicker, que é um percentual da venda do projeto, como forma de aumentar a rentabilidade das operações. “Temos 75% das operações com equity kicker”, revela Luiz, dizendo que a empresa também faz estruturas tailor-made para cada caso.
Sucessos e insucessos
Um dos casos de sucesso trazidos pelo analista de Infraestrutura da AZ Quest está um empreendedor de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais geradoras hidrelétricas (CGHs) que queria desenvolver mais projetos, mas não tinha capital próprio suficiente.
A gestora pegou o cluster de usinas operacionais desse empreendedor em garantia, em segundo grau, e emprestou o capital para que construísse novas usinas.
A operação também envolvia um equity kicker, ou seja, um percentual da venda dos projetos, como forma de destravar o valor dos empreendimentos antigos e ajudar o empreendedor a crescer.
Já entre os casos de insucesso, Luiz aponta um empreendedor que queria antecipar os dividendos de um projeto operacional para usar em outro projeto, mas não queria oferecer garantias externas nem dar o aval.
A gestora estudou a operação e viu que cabia determinado valor dentro da operação, solicitou um relatório de um engenheiro independente, mas o empreendedor se recusou a fazê-lo. Diante disso, foi necessário desistir da operação, pois não havia segurança suficiente para seguir adiante.
A grande lição dessa experiência é a importância de conhecer o empreendedor, o projeto e suas premissas, verificando se elas refletem a realidade.