Os primeiros sinais de queda de juros nos próximos meses já começam a aparecer, melhorando o cenário de captação para as empresas e trazendo novos desafios para os investidores.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parece estar preparando o público para esse novo cenário. Em evento recente, ele afirmou que a queda da inflação e a melhora do PIB “abrem espaço” para o corte da taxa Selic.
Atualmente em 13,75%, a taxa básica de juros serve de referência para as demais taxas da economia e tem impacto direto no custo de capital das empresas e na remuneração dos investimentos.
A depender de como evolua o comportamento da inflação e da atividade econômica, o ciclo de queda de juros pode melhorar o sentimento geral do mercado, permitindo que as empresas captem recursos com menos custos.
Mas nem tudo são flores: as projeções do mercado para a taxa de juros nos próximos anos ainda estão elevadas, exigindo a continuidade da conjuntura benigna para que as condições financeiras tenham uma melhora significativa.
Neste artigo, vamos explorar melhor a perspectiva de juros e seus reflexos tanto para empresas que desejam alavancar seus negócios no mercado de capitais quanto para investidores que desejam diversificar melhor suas carteiras para esse novo cenário.
Os tópicos que vamos abordar são os seguintes:
Presidente do BC já fala em queda de juros
A queda de juros que já vinha sendo precificada no mercado e nas projeções dos especialistas passou a ser citada de forma mais explícita pelos dirigentes do Banco Central.
Em um evento do setor de varejo realizado na segunda-feira, 12, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, declarou que o trabalho para controlar a inflação “está no caminho certo”, diante da queda constante dos índices de preços.
No entanto, ele enfatizou que o Comitê de Política Monetária (Copom) não tomará decisões artificialmente e que é preciso ter paciência. Campos Neto também mencionou que a inflação brasileira está caindo mais lentamente nos últimos meses e que deve provavelmente ficar negativa em junho, mas depois volta a subir.
Durante o evento, o presidente do BC também destacou que as notícias para a inflação e as projeções de longo prazo do mercado começaram a melhorar, abrindo espaço para a atuação do Copom sobre a Selic. Em suas palavras:
Entendendo a insatisfação com os juros, mas é preciso ter paciência. Entendo que as empresas estão sentindo muito, algumas mais que outras, e vamos fazer uma força para atingirmos um ambiente de estabilidade para todos o mais rápido possível, mas fazer de forma artificial não alcançará o resultado esperado.
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Diretor do BC enfatiza desafios: “não precisa ter pressa para baixar os juros”
Em entrevista ao Estadão, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Dias Gomes, defendeu que a instituição não deveria ter pressa na redução dos juros.
Em sua visão, a perda de fôlego da inflação tem sido lenta em serviços e as expectativas ainda estão “desancoradas”. É preciso salientar, porém, que Gomes foi um dos dois diretores que votaram a favor de um aumento da taxa Selic em setembro do ano passado.
Não tem que ter pressa, porque um afrouxamento açodado tem custos elevados para o País no futuro. A minha posição é de cautela.
Na entrevista, ele antecipa medidas para enfrentar os juros elevados do rotativo do cartão de crédito, incluindo a portabilidade dessas dívidas. Os juros dessa modalidade bateram 447,7% ao ano em abril, motivo de preocupação do BC. A portabilidade permite ao consumidor escolher o banco em que quer pagar suas dívidas e, com isso, negociar taxas mais baratas.
Além disso, Gomes fez questão de frisar que o mercado de crédito ainda está registrando retração em vários segmentos, dificultando principalmente os esforços de financiamento de pequenas e médias empresas.
Apesar de reconhecer a resiliência da atividade econômica, o diretor do BC ressalta que o avanço ficou muito concentrado no setor agropecuário, defendendo que a instituição tenha cautela e continue monitorando como a política monetária está agindo nos diferentes canais esperados.
Inflação para baixo e PIB para cima
De fato, o comportamento do principal índice de preços da economia, medido pelo IBGE, mostra que houve um forte processo de desinflação no último ano, com o IPCA acumulando uma alta de 3,94% nos últimos 12 meses.
Nos cinco primeiros meses deste ano, a alta da inflação foi de 2,95%, evidenciando que a política de restrição das condições financeiras implementada pelo banco central está surtindo efeito em conter o avanço acelerado dos preços.
Em 2021, o IPCA fechou o ano acima de 10%, levando o BC a realizar um agressivo aumento de juros. A taxa Selic atingiu o pico de 13,75% no fim do ano passado e permanece nesse patamar elevado.
Muitos esperavam que esse aperto monetário tivesse um impacto recessivo sobre a economia, provocando uma forte retração na atividade e um aumento no desemprego.
O que vimos, entretanto, foi uma resiliência surpreendente da economia, com o PIB surpreendendo para cima, graças ao setor de serviços e, principalmente, ao agronegócio.
Com isso, os agentes do mercado passaram a revisar para cima sua previsão de crescimento da economia brasileira, prevendo que o PIB encerrará o ano com uma alta de 1,84%, contra apenas 1,02% no início do ano.
Agronegócio puxa atividade econômica
O agronegócio teve um salto em seu crescimento no primeiro trimestre do ano, avançando 21,6% em relação aos últimos três meses de 2022 e 18,8% sobre o primeiro trimestre do ano passado.
Esse é o maior avanço trimestral que o setor apresenta desde 1996, impulsionado por uma safra recorde de soja, aumento da produção de milho e alta do abate de bovinos e frangos.
Em entrevista ao G1, a economista Gabriela Faria, da Tendências Consultoria, explica que os próximos trimestres também devem ser positivos para o setor agropecuário brasileiro.
Há boas perspectivas para as colheitas do segundo e terceiro trimestre, como cana-de-açúcar, café e a segunda safra de milho. No entanto, nenhum outro trimestre deve ser maior do que o primeiro, já que a colheita de soja já se encerrou e ela é o produto de maior peso na pauta agropecuária.
Impacto da queda de juros para empresas e investimentos
O último boletim Focus divulgado pelo Banco Central, resumindo as expectativas do mercado em relação a diversos indicadores econômicos, como PIB e inflação, mostra que os especialistas preveem uma queda de juros nos próximos meses, mas as taxas ainda devem seguir elevadas.
A tabela acima mostra que, muito embora o processo de desinflação tenha se consolidado e os efeitos da política monetária restritiva estejam afetando as condições de crédito, o mercado espera que a taxa Selic termine o ano em 12,5%, nível ainda bastante elevado e restritivo.
O mesmo se aplica para os próximos dois anos, em que a expectativa do mercado é que os juros terminem 2024 e 2025 em 10% e 9%, respectivamente. Considerando a inflação projetada, os níveis de juros seguirão restritivos, com taxas reais bastante altas.
Isso pode ter diversas repercussões para as empresas e os investidores.
Pequenos e médios empresários podem sentir dificuldades em acessar as linhas tradicionais de crédito, em razão da seletividade maior dos bancos, além de terem que arcar com custos maiores na hora de captar recursos em fontes alternativas, como o mercado de capitais.
Mesmo assim, há opções com custos relativamente mais baixos, especialmente através de novas plataformas de acesso ao mercado de capitais que atuam junto a investidores tanto institucionais quanto individuais, oferecendo soluções variadas, desde contratos de investimento coletivo (CIC) até operações estruturadas, como emissões de debêntures, securitização e até montagem de fundos de investimento.
Já para os investidores, os juros elevados continuam deixando os ativos de renda fixa mais atraentes, especialmente no mercado de dívida corporativa, que costumam pagar taxas maiores em relação às de mercado.
Nesse sentido, é essencial diversificar as posições, a fim de não concentrar demais a exposição a empresas específicas, buscando oportunidades tanto no mercado tradicional quanto “high yield”, isto é, que oferecem taxas de retorno mais atraentes, como acontece nos projetos de investimento coletivo (crowdfunding), diretamente ligados à economia real.
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